sábado, 23 de junho de 2012

Anjos da Morte [4/4]


Lá de cima veio um chamado assustado.
— Miley? É você?
— Pai! — eu disse, correndo em sua direção enquan­to ele saía do quarto. Ele me abraçou com alegria e deu um sorriso para Nicholas.
— Você deve ser o rapaz que trouxe a minha filha para casa ontem à noite. Zac, não é?
"O quê?", eu pensei chocada. O meu pai já havia conhecido o Nicholas. Como é que ele foi da raiva à doçura de forma tão rápida? E o acidente? O hospital? E quanto a minha morte?
— Não, senhor. Eu sou o Nicholas. Um dos amigos da Miley. Eu também estava com ela ontem à noite depois que o Taylor foi embora. Apareci hoje só para ver se ela, hmm, quer fazer alguma coisa.
Meu pai parecia estar orgulhoso por eu ter feito um amigo sem a ajuda dele, mas eu estava completamente confusa. Tossindo levemente, como se estivesse ten­tando achar a melhor forma de lidar com o primei­ro namorado que ele conhecia, ele apertou a mão que Nicholas havia estendido.
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— Então a história oficial é que Zac me trouxe para casa e eu assisti TV até dormir? — perguntei, querendo saber exatamente com o que eu teria que lidar. — O acidente não existiu? — Ao ver Nicholas concordando com a cabeça, continuei: — Quem vai lembrar sobre ontem? Alguém?
— Nenhuma pessoa viva vai conseguir lembrar — ele disse. — Ron muda a continuidade do tempo. Ele deve gostar muito de você para ter feito isso. — Seu olhar se voltou para a pedra no meu peito. — Ou ele simples­mente gosta muito da sua pedrinha nova.
O jantar foi acompanhado por uma longa conversa sobre a co­mida. Depois de ficar brincando com o meu prato por uns vinte minutos, eu pedi licença, dizendo que estava cansada por causa da festa de formatura.
Ali estava eu sentada no telhado às duas da madrugada, tacando pedras, fingindo estar com sono enquanto o mundo girava, escuro e frio.
A sensação de estar sendo vigiada apareceu com força, e me virei, aflita, quando Nicholas caiu de uma árvore atrás de mim.
— Ei! — berrei, sentindo o meu coração pulando ao vê-lo aterrissando em uma telha como se fosse um gato, — Que tal me avisar quando você estiver por perto?
Ele estava envolvido por uma luz fra­ca, que era tão visível quanto a sua irritação.
— Se eu fosse um agente da morte eu já teria matado você.
— Bem, eu já estou morta, não estou? — falei, jogan­do uma pedra nele. Ele nem se moveu, e a pedra passou por cima de um de seus ombros. — O que você quer? — perguntei, sem delongas.
— Zac falou alguma coisa para você no carro. Foi o único momento no qual você ficou fora da minha mira. Quero saber o que foi. Um detalhe pode servir para que você consiga continuar fingindo que está viva, ou pode levar você ao júri negro. — Ele se moveu de forma de­cisiva, com raiva. — Eu não vou falhar novamente, não por sua causa. Você já era importante para o Zac antes de pegar a pedra dele. Foi por isso que ele foi pegar o seu corpo no necrotério. Quero saber o porquê.
—Ele disse que acabar com a minha vidinha era uma passagem para um lugar melhor. Ele voltou para provar que ele havia... me coletado.
Eu esperei por uma reação, mas não houve nenhuma. Finalmente, não aguentei o silêncio e levantei o rosto a fim de olhar dentro dos olhos de Nicholas. Ele estava olhando para mim como se estivesse tentando decifrar a mensagem. Claramente, sem ter encontrado uma res­posta, ele disse, com calma:
— Acho que você deveria manter isso em segredo por enquanto. Ele provavelmente não quis dizer nada com isso. Esqueça. Gaste o seu tempo tentando se adaptar.
— É — respondi com uma ponta de risada sarcásti­ca —, uma escola nova é sempre divertida.
— Eu quis dizer se adaptar aos vivos.
—Ah. — Tudo bem. Eu ia ter que aprender a me adaptar, não a uma escola nova, mas aos vivos. Legal. Ao recor­dar o jantar desastroso que eu tive com o meu pai, eu mordi o lábio.
— Hmm, Nicholas... é para eu comer?
— Se você for como eu, você não vai ter fome nunca.
— E dormir? - Ele riu.
— Você pode tentar. Vamos — ele disse, estendendo a mão. — Eu não tenho nada para fazer hoje à noite, e estou entediado. Você não é de berrar muito, é?
Meu primeiro pensamento foi "berrar?", e depois "vamos aonde?" No entanto, falei algo bem idiota em vez disso:
— Não posso. Estou de castigo. Não posso pisar fora de casa até que eu pague por aquele vestido, a não ser para ir à escola, — Mesmo assim, sorri e dei a minha mão para que ele me ajudasse a levantar.
— Bem, eu não posso mudar o fato de você estar de castigo — ele disse —, mas não precisa sair de casa para irmos aonde estamos indo.
— O quê? — perguntei. Fiquei surpresa ao vê-lo indo para trás de mim. Ele ficou muito mais alto por causa da inclinação do telhado. — Ei! — exclamei quando ele me abraçou. No entanto, o meu protesto sumiu em meio ao choque de ver uma sombra cinza se curvando em volta de nós de repente. Ela era real, e tinha o cheiro do travesseiro de penas da minha mãe. Eu engasguei quando ele me apertou mais forte e meus pés saíram do telhado em uma ascensão contra a gravidade.
— Caramba! — exclamei enquanto o mundo se es­ticava lá embaixo, prateado e preto sob a luz do luar. — Você tem asas?
Nicholas gargalhou. O meu estômago se revirou todo, e nós fomos mais para cima.
Talvez... talvez isso tudo não fosse ser tão ruim assim.
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Notas Finais: Esclarecendo mais uma vez para não haver confusões: ESSA HISTÓRIA NÃO É MINHA. Todo o crédito vai para Kim Harrinson que a escreveu para o livro Formaturas Infernais, ao qual recomendo a leitura, pois é um livro muito bom. Só avisando que troquei o nome dos personagens [anta, todos perceberam -.-']. Acho que era isso, então se gostaram comentem ;D
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PS: Hoje não terá DTM e talvez sábado que vem também não. Vou aproveitar que estou entrando de férias para escrever os capítulos. Se puderem fazer um favor ficarei muito grata: à quem tem blog, por favor divulguem se gostam da história e, claro, comentem ai, seus dedos não vão cair [mas se caírem não foi culpa minha] Beijos e até uma próxima. 

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Anjos da Morte [3/4]


Fiquei parada em pé próxima à porta de entrada com o coração batendo forte, es­cutando o silêncio que emanava da casa que meu pai manteve organizada e limpa. O fato de eu não ter me sentido nem um pouco cansada me deixou preocupada. Meu pulso estava acelerado por causa do medo, e não por causa da corrida.
— Pai?
— Miley? Você está viva? — ele disse. — Eles falaram que você havia morri­do. Você está viva?
— Eu estou bem — choraminguei contra o peito de­le. — Perdão, pai — falei, ainda chorando. — Eu não devia ter saído com aquele cara. Eu nunca devia ter fei­to isso. Me desculpa. Perdão!
— Psiu. — Ele me puxou de volta em um abraço. — Tudo bem. Você está bem — ele disse, acariciando o meu cabelo. No entanto, ele não sabia que, na realida­de, eu estava morta.
Um barulho suave veio da porta. Meu pai desviou o olhar por cima do meu ombro, e eu virei o rosto. Nicholas estava em pé de forma estranha ao lado de um homem baixo que vestia uma roupa larga, como um uniforme de luta marcial. Os seus cabelos indicavam que ele era idoso, os cachos apertados eram grisalhos perto das têmporas.
— Olá —meu pai disse, me colocando ao seu lado —, vocês trouxeram a minha filha para casa? Obrigado.
Nicholas havia trazido o chefe. Eu queria ficar. "Droga, eu não quero estar morta. Não é justo!"
O homem fez uma expressão de tristeza.
— Não — ele disse —, ela conseguiu chegar aqui sozinha. Só Deus sabe como.
— Eles não me trouxeram aqui — falei, sentindo-me nervosa. — Eu não os conheço. Eu já vi aquele cara — adicionei —, mas não o mais velho.
Mesmo assim, o meu pai deu um sorriso neutro, ten­tando organizar as ideias.
— Vocês são do hospital? — ele perguntou. Seu ros­to ficou sério. — Quem é o responsável pela notícia de que minha filha estava morta? Alguém vai perder a ca­beça aqui.
— Palavras mais verdadeiras que essas nunca foram ditas, senhor. – o homem idoso dise — Precisamos conversar filha.
Meu Deus. Ele queria que eu fosse com ele.
Apertei o amuleto nas mãos e o meu pai me abraçou mais forte. Ele viu os meus olhos com medo e finalmen­te entendeu que algo estava errado. Ele se colocou entre as duas pessoas que estavam à porta e eu.
— Miley, chame a polícia — ele disse, e eu peguei o telefone que estava em cima da mesinha.
— Ah, nós precisamos de um minuto — disse o ho­mem idoso.
Minha atenção foi atraída pelo movimento que ele fez com uma das mãos. Parecia que ele era um péssimo ator em um filme de ficção científica. O som da linha telefónica ficou mudo, assim como o do cortador de grama lá fora. Em choque, olhei para o telefone, e de­pois para o meu pai, em pé entre os dois homens e eu. Ele não se movia.
Respirei fundo para tentar gritar. O ar saiu de mim como em uma explosão e eu andei para trás quando ele avançou mais um pouco. No entanto, ele não estava vindo em minha direçao. Afas­tando a minha cadeira branca da penteadeira, ele sen­tou seu corpo diminuto de lado. Ele colocou um cotove­lo nas costas da cadeira e apoiou a testa na mão, como se estivesse cansado.
— Por que as coisas não são fáceis? — ele murmurou — Isso é uma brincadeira? — ele falou mais alto, olhando para o céu. — Você está rindo? Está dando umas boas risadas por causa disto?
— Meu pai está bem? — perguntei, tocando o om­bro dele.
Nicholas fez que sim com a cabeça, e o homem ido­so voltou a me olhar. Sorrindo como se tivesse tomado uma decisão, ele estendeu a mão. Olhei para ele, sem imitar o gesto.
— Prazer em conhecê-la — ele disse com firmeza. — Miley, certo? Todos me chamam de Ron.
Eu o encarei, e ele acabou abaixando a mão.
— Nicholas me contou sobre o que você fez — ele disse. — Posso ver?
— Ver o quê?
— A pedra — Ron disse
— Acho que não — eu disse. A expressão de alarme no rosto de Ron reafirmou a minha impressão de que ele queria tocar a pedra.
—Miley — ele disse com calma, levantando-se —, quero apenas olhar para ela.
— Você a quer para você! — exclamei, com meu co­ração pulando. — Eu só estou sólida por causa dela. Não quero morrer. Vocês mandaram mal. Não era para eu estar morta! A culpa é de vocês!
— Sim, mas você está morta — Ron disse. Minha respiração parou quando ele estendeu a mão. — Eu só quero ver.
— Não vou entregá-la! — berrei, e os olhos de Ron ficaram acesos, com medo.
— Miley, não! Não diga isso! — ele berrou, ten­tando me tocar.
— É minha! — eu gritei. Minhas costas encontraram a parede.
— Ai, Miley — ele suspirou —, você não devia ter feito isso.
Abri os meus dedos para ver a pedra. Meu queixo caiu, e eu fiquei olhando. Ela havia mudado. Quando a ti­rei do agente da morte, a pedra era simples, cinza e sem graça. Agora, ela estava completamente negra, como se fosse um buraco negro pendurado no cordão.
—Nós tínhamos a esperança de acabar com isso da me­lhor maneira antes que você agisse. Mas, agora ela é toda sua. — Seus olhos encontraram os meus com uma tristeza amarga. — Parabéns.
Era minha. Ele disse que a pedra era minha.
— Mas ela era a pedra de um agente da morte. — Nicholas disse, e eu me assustei com o tom de medo na voz dele. — Aquele cara não era um agente da morte, mas ele tinha a pedra de um agente. Ela é uma agente da morte! — Nicholas berrou. Eu não soube o que fazer quando ele tirou uma foice pequena, parecida com a de Zac, de dentro de sua ca­misa. Com um pulo, ele se colocou entre Ron e eu.
— Nicholas! — Ron suplicou, empurrando-o com força até que ele esbarrasse na porta. — Ela não é uma agente da morte, seu idiota! Ela não é nem um anjo! Ela não pode ser. Ela é humana, mesmo que esteja morta. Guarde isso antes que eu tome uma providên­cia séria!
Ron olhou para o nada.
Ela tem alguma coisa mais poderosa do que uma simples pedra, e eles vão voltar para buscá-la. Pode ter certeza.
— Zac sabe onde estou
— Ele cruzou sem a pedra, e assim ele não consegue achar você no tempo. Ele vai ter dificuldade para te encontrar novamente. Mas ele vai encontra-la, no entanto. E depois vai levar você com ele, junto com a pedra. E o que vai acon­tecer depois disso? Eles fazem coisas terríveis, sem nem pestanejar, a fim de perpetuar a es­pécie deles.
Os olhos do homem idoso pararam em mim, e ele piscou, como se tivesse percebido o que havia dito.
— Ah, mas eu posso estar errado — ele disse, sem muito sucesso. — Às vezes, eu erro.
Senti o meu pulso acelerar, e uma sensação de pânico nasceu em mim. Antes do acidente, Zac havia dito que eu era a passagem dele para um lugar melhor.
Nicholas viu que no meio do meu pavor eu estava escondendo algu­ma coisa.
— A única coisa que podemos fazer — Ron disse — é mantê-la intacta até descobrirmos como quebrar o encan­to que a pedra tem sobre você, sem quebrar a sua alma. Nicholas? — Ron disse com uma voz que me as­sustou. Nicholas também pareceu ter ficado surpreso
— O que foi senhor?
— Parabéns, você foi promovido a anjo da guarda.
— Isso não é uma promoção. É uma punição!
— Uma parte disso é culpa sua — Ron disse.
— Mas senhor! — Nicholas exclamou.
Segui os dois, sem acreditar naqui­lo. "Eu tenho um anjo da guarda?"
— Senhor, eu não consigo! — Nicholas disse, fazendo-me sentir como um fardo indesejado. — Não tem como fazer o meu trabalho e cuidar dela! Se eu me dis­tanciar muito eles vão capturá-la!
— Então ela vai acompanhar você nos seus trabalhos. — Ron disse — Ela tem que aprender a usar aquilo. É só por um ano. Miley — ele disse, despedindo-se —, fique com o pingente. Ele vai proteger você. Se tirá-lo do pescoço, as asas negras vão encontrar você, e os agentes da morte nunca estão longe delas.
— Asas negras? — perguntei.
— Vultos do mal, sombras da Criação. Eles podem sentir o seu cheiro porque você está morta, mas com a pedra eles vão achar que você é uma agente e não vão lhe incomodar.
Ele cruzou a porta de saída e se misturou à luz do Sol.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Anjos da Morte [2/4]


Respirei fundo e descobri que estava mais fácil fa­zer este movimento. Ao perceber que meus olhos estavam fecha­dos, eu os abri e vi um borrão preto bem próximo do meu nariz. Havia um cheiro pesado, como o cheiro de plástico.
— Ela tinha 16 anos quando entrou naquele carro. A culpa é sua — disse uma voz jovem, porém bem masculina.
— Você não vai jogar a culpa disso em cima de mim — uma menina disse sua voz tão irritada e determina­da quanto a anterior. — Ela tinha 17 anos quando ele jogou a moeda. Isso foi furada sua, e não minha. Deus me livre, ela estava bem na sua frente! Como você con­seguiu errar?
De repente, percebi que o borrão preto que estava fa­zendo com que minha respiração voltasse para mim era um plástico. Minhas mãos se elevaram e minhas unhas empurraram o plástico em uma apunhalada de medo. Tirei o plástico de mim. Dois jovens estavam em pé ao lado de duas portas brancas sujas, e eles se viraram, surpresos. O rosto pálido da menina ficou vermelho, e o garoto se afastou para trás como se estivesse com vergonha de ter sido surpreendido discutindo com a menina.
— Ei! — a menina disse, jogando a trança longa e negra para trás. — Você acordou. Hmm, oi. Eu sou a Selena, e este é o Nick.
O menino abaixou o olhar e acenou com vergonha.
— Oi — ele disse —, tudo bem?
— Você estava com o Taylor — falei, meus dedos tre­mendo ao apontar para ele.
Ambos usavam uma pedra negra como pingente no pes­coço. Eram peças sem graça e até insignificantes, mas o meu olhar foi atraído por elas por que era a única coisa que eles tinham em comum.
— Onde estou? — eu perguntei — Onde está Taylor?
Eu hesitei, percebendo que eu estava em um hospital, mas... "Cara, eu estou dentro de uma droga de saco que serve para cobrir cor­pos?"
— Estou no necrotério? — questionei. — O que estou fazendo em um necrotério?
Em um movimento brusco, tirei as minhas pernas do plástico e coloquei os pés no chão.
— Alguém cometeu um erro — eu disse
Selena respirou fundo.
— Nicholas — ela disse, e ele ficou zangado.
— Isso não é culpa minha! — ele exclamou — Ela tinha 16 anos quando entrou no carro! Como é que eu ia saber que era o aniversário dela?
— Ah, é? Cara, ela tinha 17 anos quando morreu, então o problema é seu sim!
"Morta? Será que eles estão cegos?"
— Quer saber? — falei — Vocês dois podem continuar discutindo aí sobre o movimento do sol, mas eu tenho que encontrar alguém e avisar que estou bem.
Passei por eles e andei uns cinco metros, até que senti como se estivesse me desconectando do mundo. Zonza, coloquei a mão em uma mesa vazia. A sensação estra­nha veio inesperadamente. Minha mão se contraiu de forma involuntária, e eu a puxei de volta para o corpo, como se o frio do metal tivesse queimado os meus os­sos. Me senti como... uma esponja. Fina. O barulho suave da ventilação ficou abafado. Até os meus batimentos cardíacos pareciam estar mais distantes. Me virei com as mãos sobre o peito, como se estivesse tentando me fazer sentir normal novamente.
— O quê...
Do outro lado da sala, Nick elevou os ombros finos.
— Você está morta, Miley. Desculpa. Se você se afastar muito dos nossos amuletos, vai começar a per­der substância.
Ele apontou para a maca, e eu olhei.
Fiquei completamente sem fôlego. Eu ainda estava lá. Quer dizer, eu ainda estava na maca. Eu estava dei­tada sobre o colchão dentro de um saco todo amassado, sem muita expressão e pálida. O meu vestido elaborado estava todo amarrotado em volta de mim, um rastro de uma elegância ultrapassada e esquecida.
“Estou morta? Mas sinto meu coração batendo.”
— Não estou morta — eu disse, cambaleante. Nicholas ajudou a me sentar, apoiando-me contra o pé de uma mesa.
— Está sim. — Ele se agachou ao meu lado, seus olhos castanhos estavam arregalados e mostravam preocupação. Sincera. — Sinto muito mesmo. Achei que ele fosse pegar o Taylor. Eles geralmente não deixam ras­tros, como um carro daqueles. Você deve mesmo inco­modar.
— Quem são vocês? — perguntei, sentindo a tontura diminuir,
Nicholas se levantou,
— Nós, bem, somos da Manutenção Organizacio­nal. Recuperação Total de Erros.
Refleti sobre aquilo. Manutenção Organizacional, Recuperação... M.O.R.T.E.?
— Vocês são a Morte! — exclamei
— Nós não somos a Morte! — Selena disse, meio ofendida — Nós somos os anjos da morte. Os agentes da morte matam as pessoas antes que a moeda delas seja jogada, e os anjos da morte tentam salvá-las. Os agentes da morte são traidores que falam demais e não ficam acordados para ver o sol nascer, senão viram pó. Zac é um agente da morte. Nós aparecemos apenas quando eles pegam alguém fora de hora. Aconteceu um erro.
— Erro?
Selena deu um passo à frente.
—Não era para você ter morrido, entende? Um agen­te da morte tirou a sua vida antes que a sua moeda fosse jogada. Nós estamos aqui para fazer um pedido de desculpas formal e colocar você no caminho certo.
Eu precisava avisar meu pai, disser que estava bem.
**
Bati com força nas portas, passando através delas, mesmo que elas não tivessem sido completamente abertas. Eu esta­va na sala ao lado. Eu tinha passado pelas portas, por cima delas. Como se eu nem estivesse ali.
No entanto, eu estava me sentindo muito estranha novamente. Nebulosa e fina. Alargada. Nada soava di­reito, e as bordas da minha visão começaram a ficar acinzentadas.
Mesmo assim continuei andando até que esbarrei em alguma coisa grande, quente, com cheiro de seda. Dei um passo para trás, morrendo de medo ao ver que era o Zac. Ele havia me matado com uma faca que não deixou marcas, vis­to que jogar o carro monte abaixo comigo dentro não adiantou. Ele era um agente da morte. Ele era a minha morte.
— Que bom que você está de pé. É hora de ir.
— Não me toque. – Me afastei dele
— Miley! — Nicholas berrou. — Corra!
— Ela é minha, se eu quiser.
Nicholas ficou pálido.
— Você nunca volta para pegá-los. Você... — Os olhos dele se viraram para a pedra que Zac carregava no peito. — Você não é um agente da morte, é?
Zac deu um sorriso
— Não, não sou.
— Nicholas! — Selena gritou, horrorizada. — Não!
Nicholas se lançou para cima da figura es­cura vestida de seda. Em um movimento tão casual que chegava a ser assustador, Zac se virou para atingi-lo com as costas de uma das mãos. Com pernas e braços no ar, Nicholas voou para trás, batendo na parede e caindo no chão, apagado.
— Corra! — Selena berrou, me empurrando para den­tro do necrotério. — Fique no sol. Não deixe que as asas negras toquem você. Nós vamos buscar ajuda. Al­guém vai encontrar você. Saia daqui!
— Como? — exclamei. — Ele está na frente da única porta de saída.
Zac se moveu novamente, desta vez afastando Selena com as mãos. Ela se dissolveu no chão e eu fiquei sozi­nha.
— Você não tem saída — ele disse. — Fui eu quem matou você. Você é minha.
Ele esticou a mão e pegou o meu punho. Senti a adre­nalina correndo em mim, e puxei o meu braço.
— Nem no inferno — eu disse, chutando a canela dele. Ele obviamente sentiu dor, gemendo ao se curvar, mas nem por isso me largou. Ele havia colocado o rosto muito perto de mim, no entanto. Agarrando o cabelo dele, eu bati em seu nariz com o joelho. Senti a cartila­gem se movendo, e o meu estômago se revirou.
Com o coração pulando, peguei a pedra que estava no pescoço dele. Ela brilhou em minhas mãos, como se tivesse em chamas, e eu apertei meus dedos em volta dela, disposta a sofrer o que fosse preciso.
— Miley... — Nicholas chamou deitado no chão — Corra — ele sussurrou.
Com o amuleto de Zac em minhas mãos, olhei para o corredor... e corri.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Anjos da Morte [1/4]

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Notas iniciais: Primeiro, tenho que esclarecer que essa história NÃO É MINHA! É  do livro Formaturas Infernais. Eu decidi coloca-la aqui como uma forma de "incentiva-los a ler", e porque achei uma história muito legal e criativa. De todo modo espero que gostem =)
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ANJOS DA MORTE PARTE 1
“Eu estava parada no meio do salão me perguntando por que eu aceitei vir ao baile de formatura com o Taylor. Eu não gosto dele! Eu não gosto dessa escola! E gosto menos ainda do fato de estar num baile deprimente no dia do meu aniversário!”

-Quer dançar? – Taylor me perguntou ao voltar com um copo de ponche verde na mão.
-Não. – Respondi rápido e um pouco grossa demais.
-Quer um ponche? – Essa deve ter sido a décima quinta pergunta que ele me fez a qual eu respondi um simples “não”. E, ao julgar pela aparência do ponche e a cara que ele fez ao beber um gole daquele treco, deve ter sido o único “não” que ele deixou passar.
Alguns minutos se passaram e eu continuava a ignorá-lo, e a tudo ao meu redor, até que ele se cansou e disse:
-Quer saber? Pra mim chega, eu vou me divertir, se você quer ficar ai bancando “a rebelde” fica, porque eu fui! – Minha única reação foi ficar ali com cara de tacho, surpresa pela reação dele.
Foi então que eu decidi que não precisava ficar ali. Era o meu aniversario e eu detestava aquele lugar!
Andei até a porta e esbarrei em alguém e MEU DEUS! De onde saiu aquele ser tão... tão... perfeito?! Ele era alto, musculoso e tinha olhos azuis lindos e hipnotizantes.
-Desculpa. Você esta bem? – “Melhor impossível”
-Sim – respondi com um sorriso idiota no rosto.
-Sou Zac – ele disse dando um sorriso que mostrava todos os seus (perfeitos) dentes.
-Miley – disse tentando lembrar, sem sucesso, se já o tinha visto antes.
-Quer dançar?
-Claro! – “isso vai virar o jogo com o Taylor” pensei olhando pra ele, que agora estava com um garoto desconhecido.
-Eu vi o que ele te fez. Se eu fosse você, não deixava isso ficar assim. – ele disse
-Você acha?
-Claro! Ele tem que ver o que esta perdendo. – Zac falou com um ar de provocação. – Quer fazer com que ele entenda que você não está mais com ele?
Por mais que eu sou­besse que ele estava sendo malicioso, acabei fazendo que sim com a cabeça.
Zac diminuiu o passo, me puxando para ele em um movimento suave e equilibrado. E então me beijou.
Havia pontos de luz colorida no rosto de Taylor, e ele estava zangado.
Ergui as sobrancelhas em sua direção.
— Vamos embora — eu disse, dando o braço para Zac.
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Obrigada por me tirar dali com o meu orgulho recuperado
—Vi o que ele fez. Ou eu fazia aquilo ou jogava o ponche na cara dele. E você tem sempre que optar pela vingança mais sutil.
Um sorriso malvado nasceu em meu rosto, não tinha como evitar.
Nós dois nos viramos ao ouvir o som da porta do ginásio se abrindo. Taylor saiu. Pressionei meu maxilar.
— Miley... — Ele estava chateado, e a minha sa­tisfação aumentou.
— Oi, Taylor! — eu disse sorridente. — Já arrumei uma carona para casa. Obrigada.
— Miley, espere.
— Você é um idiota. E eu não quero que você fique comigo por pena. Você pode ir embora.
Taylor me afastou de Zac.
— Nunca vi esse cara antes. Não seja burra. Deixa que eu levo você em casa. Pode falar o que quiser para os seus amigos. Vou concordar com tudo.
Levantei o meu queixo. Ele sabia que eu não tinha amigos.
— Liguei para o meu pai. Estou bem — eu disse, olhando para além dos ombros dele, na direção do me­nino que havia seguido Taylor.
— Vou seguir vocês de carro, então — disse ele, olhando para Zac.
— Tanto faz — Na verdade, me senti secretamente aliviada e pensei que Taylor não era tão ruim assim. — Zac, o seu carro está lá atrás?
— Por aqui, Miley.
Segui Zac para dentro de um carro negro brilhante estacionado ilegalmente em cima do meio-fio.
Taylor e o seu amigo silencioso vieram atrás como se fossem figurantes de um filme de Hollywood.
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— Moro no lado Sul — eu disse quando chegamos à estrada principal, e ele tomou o caminho correto.
Zac não disse uma palavra e nem olhou para mim desde que entramos no carro. Antes, ele estava muito confiante. Mas agora ele estava... tenso? Mesmo sem entender o porquê, um sentimento de alarme começou a crescer em mim.
Como se ele tivesse sentido o mesmo que eu, Zac se virou, dirigindo sem olhar para a estrada,
— Tarde demais — ele disse calmamente, e eu senti o meu rosto perdendo a cor, — Calma. Eu falei para eles que seria fácil enquanto você fosse jovem e boba. Fácil demais. Nem tem graça.
— Como é que é?
— Não é nada pessoal, Miley. Você é um nome na lista. Ou, melhor, uma alma a ser colhida. Um nome importante, porém nada mais do que um nome. Eles disseram que era impossível, mas agora você será a mi­nha passagem para um lugar melhor, você e a sua vidi­nha que de agora em diante não vai mais acontecer.
—Taylor — eu disse, voltando-me para a luz que fica­va mais distante cada vez que Zac acelerava. — Ele está nos seguindo. Meu pai sabe onde eu estou.
— Como se isso fosse fazer alguma diferença. – Zac sorriu
— Pare o carro — eu disse com força. — Pare o carro e me deixe sair. Você não pode fa­zer isso. As pessoas sabem onde eu estou! Pare o carro!
— Parar o carro? — disse ele, rindo. — Eu vou parar o carro.
Zac pisou fundo no freio e virou o volante. Eu gritei, agarrando em qualquer coisa que estivesse na minha frente. Nós havíamos saído da estrada. A gravidade estava me puxando para o sentido contrário do normal. Movi a cabeça, levando as mãos atrás do meu pesco­ço, e rezei.
— Miley! — veio à voz distante atrás de mim. — Miley!
Era Taylor. Respirei fundo.
— Zac? — sussurrei. Ele parecia estar bem, em pé do lado de fora do carro arruinado.
— Ainda viva — ele disse com calma.
Meus olhos se arregalaram, mas não me mexi quan­do ele puxou uma faca de dentro de sua fantasia. Ten­tei gritar, mas minhas forças me abandonaram quando ele levou o braço para trás, como se fosse me golpear.
— Não! — eu berrei, levantando os meus braços. A lâmina desceu como um suspiro de gelo por mim, sem nem me machucar. Olhei para o meio do meu peito, sem acreditar que eu não estava ferida, mas eu sabia que a faca havia atravessado o meu corpo. Sem entender nada, olhei para Zac, que estava em pé com a faca para baixo, olhando para mim.
— O quê... — tentei falar, mas parei assim que percebi que eu não sentia mais dor nenhuma. Minha voz, por sua vez, estava completamente muda.
Depois, Zac se virou e saiu andando.
— Miley! — eu escutei, lá longe, e depois senti um toque leve no meu rosto. Mas isso também logo se dissolveu e não restou mais nada.