domingo, 28 de maio de 2017

Doce Sacrifício - Capítulo 39 [Don't Go Away]

Música tema: Don't Go Away [Oasis]

Cold and frosty morning, there's not a lot to say
About the things caught in my mind
And as the day was dawning my plane flew away
With all the things caught in my mind”

Era sexta-feira, o dia seguinte a carta, e Jessica teve a pior noite da sua vida. Não se lembrava da vez que dormira tão pouco. Era adorava dormir, era o seu hobby preferido, por isso seu humor não estava dos melhores naquele dia. Também não fora para a escola, sabia que seria perda de tempo, que não prestaria atenção nas aulas.
Passara a madrugada tentando encontrar motivos razoáveis para a nova descoberta: Joshua trabalhando para/com G. Não conseguira pensar em um sequer, e por mais que quisesse desistir da tarefa, seu cérebro parecia empenhado em tentar, pois não conseguia esquecer do assunto.
Tentando ocupar sua mente com outras coisas pela manhã, resolveu se distrair aprendendo a tocar algumas músicas do Oasis no seu violão, só porque estava usando uma camiseta da banda mesmo, nenhuma razão em especial. Decidiu que o faria em ordem alfabética. Estava em D'you know what I mean quando lembrou que Alison não sabia da novidade. Largou o violão na cama e tirou fotos da carta com o celular, mandando para Ali em seguida, provavelmente arruinando o seu horário de almoço.
Era um pouco depois das 15h quando Matthew apareceu. Marta deve te-lo deixado entrar, ela nem tinha percebido a campainha tocando. A porta do seu quarto estava semi-aberta, então ele simplesmente foi entrando. Pela sua cara, não estava de bom humor e Jess achou melhor nem repreender. Ele era um pouco difícil de lidar quando estava nervoso.
- Não é possível. Ela não faria isso!
Jess precisou de um tempo para entender do que ele estava falando, mas o papel em cima de sua escrivaninha lhe deu uma dica. Estava falando de Emily. Alison deve ter falado pra ele. Ainda bem, já que não sabia se ela conseguiria fazê-lo.
- Era verdade sobre Joshua, por que seria mentira sobre Emily?
- Porque é a Emily!
- Que argumentação Matthew! Já pensou em ser advogado?
- Eu to falando sério, Jessica! Cadê a carta?
Ela aponta para a escrivaninha, perto da janela, e volta a sua atenção para seu livro enquanto ele a lia. Teve que dar um tempo do seu violão, as pontas dos dedos já estavam doendo, mais um pouco e iam começar a sangrar.
- Por que ela faria isso? Não faz sentido!
- Eu não sei, Matt! Pergunta pra ela!
Perguntar pra ela? Tudo bem. Era exatamente isso o que ele iria fazer. Com isso em mente, ele soca aquela maldita carta no bolso do casaco e vai em direção à porta.
- Matt! - Jess tenta chamá-lo, mas ele estava em uma missão e não pararia por nada nem ninguém.

-x-

And I wanna be there when you're coming down
And I wanna be there when you hit the ground”

Matthew chega à casa de Emily e toca a campainha, impaciente. Ele estava andando de uma lado pro outro na varanda quando Emi abriu a porta. Ele gostaria de passar por ela derrubando o que estivesse na sua frente, para fazer uma entrada mais dramática, mas como a única coisa na sua frente era ela, ele teve que entrar na casa com um pouco mais de calma, visto o seu estado de muito grávida. Salva pela barriga, Emily!
- Matt? Está tudo bem?
Ele devia estar com uma cara terrível, porque ela o estava olhando toda preocupada. Até onde essa preocupação era genuína ele já não saberia mais dizer. A garota ainda estava esperando uma resposta, então ele lhe estende o pedaço de papel um pouco amassado que trazia consigo. Ela o pega, desconfiada, e conforme ia lendo, seu rosto ia perdendo a cor.­
- É verdade? - ela ainda estava encarando o papel, sem piscar e branca feito folha sulfite, não parecia que iria lhe responder, e como ele já não estava em um estado muito paciente, ele arranca a folha de suas mãos, chamando a sua atenção. - Emily!
- Onde você conseguiu isso?
- É verdade?
- Eu...
- Só me diz sim ou não, Emily. É verdade?
Ela ergue a cabeça e o olha diretamente nos olhos pela primeira vez. Matthew conseguia ver um pouco de dor neles, mas foi incapaz de encontrar uma gota sequer de arrependimento. Essa constatação foi pior do que um chute nas bolas.
- Sim.
- Por quê?
- É complicado...
- Você só pode estar de brincadeira! - ele amassa a carta em sua mão e a joga na parede atrás de Emily. - Mas que porra, Emily!
- Não grita comigo, Matthew! Quem você pensa que é?
- Um idiota que não percebeu a traidora que você era.
- Matt...
- Nem começa, Emily! Eu não quero ouvir as suas desculpas. - quais eram mesmo os sinais de um derrame? Porque Matthew tinha certeza que estava prestes a ter um. - Preciso de ar.
Ele sai da casa, fechando a porta com mais força do que seria preciso para o ato, fazendo um dos quadros pendurado ali perto chacoalhar. Emily pega a bola de papel do chão e a desamassa. Ela não entendia como aquilo poderia ter acontecido, não fazia sentido G expor ela e Joshua agora. O que ela ganhava com isso?

-x-

So don't go away/ Say what you say/ Say that you'll stay
Forever and a day/ In the time of my life/ 'cause I need more time
Yes, I need more time/ Just to make things right”

Alison e Jessica estavam na arquibancada da quadra, enquanto a maioria da turma estava lá embaixo jogando. Eles estavam com aquele horário livre, o que em qualquer outro momento seria muito bem-vindo, mas agora, sem ter um professor ao qual elas precisam se esforçar para prestar atenção, suas mentes estavam livres para pensar nos últimos acontecimentos. E Jessica pensou bastante sobre eles, o suficiente para ter um plano infalível à la Cebolinha.
- Eu preciso que você me faça um favor.
- O que?
- Eu preciso que você convide uma pessoa pro baile.
Não precisava elaborar mais para Alison entender o que Jess estava planejando. E Alison não gostou nada da ideia, por isso decidiu se fazer de desentendida. Ela nunca foi muito boa em encarar o que não gostava.
- Quem?
- Cabelos negros, olhos claros, branco que nem leite, canta e toca guitarra muito bem...
- Você quer que eu convide o Billie Joe pro baile da escola?
- Alison!
- Tá, eu convido o Logan. Mas você vai ficar me devendo uma muito, muito grande!

-x-

Damn my situation and the games I have to play
With all the things caught in my mind
Damn my education, I can't find the words to say
About all the things caught in my mind”

Nicole e Michelle estavam se arrumando para o baile no quarto da morena, Cassandra estava lá também, ajudando-as. No baile de Valentine's Day do ano anterior teve uma pequena mudança nas regras, em que dessa vez as garotas é que ficariam encarregadas de convidar os rapazes. A troca de papéis foi bem recebida pelos alunos e resolveram que esse ano seria da mesma forma.
Tirar o peso da espera das meninas e colocá-lo nos rapazes foi até engraçado. Quem diria que eles se importavam com esse tipo de coisa?!
- Garotos são estranhos. Adoram dizer que essa coisa de baile é fútil, sem graça, que não lhes importa e blábláblá, mas eles estavam praticamente lambendo os nossos pés para serem convidados. Muito bizarro. - Nicole não estava esperando por isso, mas tinha mais tenção naquela escola do que em época de campeonato, porque agora todos os garotos estavam apreensivos, desesperados para serem convidados.
- Mas muito divertido também. - Michelle conseguiu dar várias risadas com a cara de alívio que os rapazes faziam quando uma garota os convidava. Eles tentavam manter uma cara de tanto faz, bancar o “sou legal demais para me importar com um baile da escola”, mas as meninas sabiam como era difícil essa época de espera, elas conseguiam perceber os sinais neles também.
- É ótimo estar no controle da situação pra variar.
- Se você estava planejando ir com um garoto, com certeza. - Cassandra deixa escapar. A ideia foi ótima, mas ainda não era tão igualitária, visto que elas tinham que convidar meninos, caso contrário, lá vinha o julgamento. Não que ela estivesse planejando ir com uma garota. Mesmo que um nome lhe viesse à mente. Mas isso era ridículo.
Aquela pequena observação foi mais do que uma deixa para as suas duas amigas entrarem no bendito assunto com Cassie. Elas já desconfiavam, ouviram certas histórias, mas nunca encontraram o momento certo para perguntar.
- Você sabe como aquela escola fala, nós ouvimos alguns boatos, mas nunca encontramos o momento certo pra perguntar, até porque não é bem da nossa conta...
Michelle estava enrolando demais e Nicole era muito direta ao ponto, não aguentava enrolações.
- Você é bissexual?
Michie não podia acreditar na morena. Como ela jogava a pergunta assim? Cassie não se importou, no entanto, conhecia a amiga que tinha. Também não podia dizer que estava surpresa pela pergunta, sabia que já estavam falando por aí, ela nunca foi muito discreta. Estava impressionada mesmo por elas terem demorado tanto para perguntar. Não que isso tirasse a sua apreensão pelas suas reações.
- Sim. Tem problema pra vocês?
- É claro que não tem problema. Estamos no século 21, pelo amor de Deus! - Michelle não podia acreditar que a loira estava perguntando se havia algum problema em quem ela era! Cassandra Prescott apreensiva com o que iriam pensar dela. Quem diria!
- Exato. Se você quer ir com uma garota, então vá. É super normal. É claro que vai causar uma comoção enorme, mas precisamos começar de algum lugar, não é? - Nicole super apoiaria. Iria ser uma revolução e tanto.
- Em outro momento eu até concordaria, mas eu não estou muito afim de resistir agora.
- Você quem sabe. Mas diz aí, quem é a garota? - Nicole passa mentalmente todas as garotas que poderiam ser possíveis interesses de Cassie, mas a morena não consegue pensar em ninguém em específico. Quem poderia ser?
- Perdão?
- Você poderia convidar um garoto se quisesse, mas você está determinada a não ir. Porque tem uma garota. Quem é? - Michelle também estava se mordendo para saber. Cassandra não era muito de ter crushes, quando isso acontecia, era todo um evento para as suas amigas.
- Ninguém. Tem garota nenhuma.
Contar sobre sua orientação sexual para as suas amigas tudo bem, mas admitir que gostava de Ashley Stone já era demais. As duas nunca se deram muito bem no passado, estar gostando dela era muito mais do que uma grande ironia, era uma puta sacanagem cósmica.
- Nós a conhecemos? - Nicole nunca se deu muito bem com a curiosidade. Precisava tentar só mais uma vez.
- Nicole!
- Ok, vamos mudar de assunto. - mas a morena não ia deixar isso de lado por muito tempo, tinha certeza.

-x-

And I wanna be there when you're coming down
And I wanna be there when you hit the ground”

Vanessa estava jogada no sofá, passando pelos canais de tv, tédio puro expresso em seu rosto. Não costumava fazer muita coisa aos sábados à noite, geralmente ficava em casa, da mesma forma que estava agora. Porém, saber que algo estava acontecendo em sua escola naquele momento e ela não estar lá, fez a sua rotina de final de semana parecer muito entediante.
Ashley também tinha ficado em casa, pronta para fazer uma maratona de sua série preferida enquanto se entupia daquela torta de chocolate super calórica que ajudara a sua mãe fazer mais cedo. Estava indo até a cozinha pegar um belo de um pedaço daquela bomba de diabetes, é quando passa pela sala e encontra sua irmã gêmea ali, deitada no sofá, brincando de jogar o controle remoto pra cima, um filme meio antigo passando na televisão, ao qual ela não parecia estar prestando a menor atenção.
- Hey, senhorita Rainha da Diversão, ainda dá tempo de colocar o seu vestido encantado e ir ao baile.
- Sem um Prince Charming eu seria o Lumière das minhas amigas. Prefiro morrer de tédio em casa mesmo.
- Por que não convidou alguém?
- Não estava a fim. E você?
Ash analisa por um momento se contava a verdade para sua irmã ou não, mas ela logo chega à conclusão de que não estava pronta para admitir nada daquilo ainda. Muito dessa verdade, como o seu possível interesse em Cassandra Prescott, por exemplo, ela não tinha nem admitido a si mesma.
- Mesmo caso.

-x-

So don't go away/ Say what you say/ Say that you'll stay
Forever and a day/ In the time of my life/ 'cause I need more time
Yes, I need more time/ Just to make things right”

Alison nunca foi muito fã de bailes. Ter que usar vestido, salto alto, o penteado, a dança, a música, o ambiente em si. Era demais para ela. Podia contar nos dedos de uma mão quantas vezes se submeteu à essa tortura. Hoje era mais uma dessas vezes.
A loira não conseguia acreditar que tinha concordado com aquilo. Comprou os convites, convidou Logan, fez todo o ritual pré-baile, mas sempre com aquela pequena chama de esperança que Jessica olhasse para ela e dissesse: “pensando bem, esse plano não vai funcionar. Vamos pensar em outra coisa”. Porém, ela nunca o fez, então ali estava Alison Fitzgerald, em frente ao ginásio de seu colégio, com Logan Miller ao seu lado. Logan. Miller. Pois é.
Ela achou que ele sacaria tudo de cara e rejeitaria o seu pedido de ir com ela ao baile (no Valentine's Day, só para deixar bem claro em que situação ela tinha se metido), mas para a sua surpresa, ele aceitou, como se toda aquela história de Joshua e G nem existisse. Ele não podia ser tão ingênuo assim... Podia?
Ou talvez ele soubesse, talvez ele tenha notado que o seu pedido era muito suspeito, e ele ter aceitado mesmo assim só podia significar uma de duas coisas: ou ele já tinha um plano caso ela tentasse lhe tirar alguma informação ou... Ou ele realmente não se importava com o motivo dos dois estarem ali. Essa opção levava para um caminho muito perigoso que Alison não estava a fim de refletir sobre. Nunca.
Ao adentrarem o ginásio, a loira percebeu o quão lotado estava. Ela não sabia que tantos alunos gostavam daquele tipo de coisa. Praticamente a sua turma toda estava ali. Apesar do local cheio, ela conseguiu encontrar vários de seus colegas. Nick com a insuportável da Alexandra na pista de dança; o casal vinte, Jeremy e Madison, se servindo do ponche; David e Nicole nas arquibancadas, observando o pessoal dançando. Alison tinha tentando falar com o garoto no dia anterior, mas ele fugiu dela como o diabo foge da cruz. Parece que alguém ali não tinha superado... Não que ela e Jessica tivessem superado o envolvimento de Joshua, visto que ela estar ali com Logan era apenas uma tentativa para ver se descobriam mais alguma coisa, qualquer coisa. O problema é que Alison não pensou que seria tão difícil fazer Logan abrir a boca, pelo menos para algo que prestasse.
Ela estava tentando ser legal, sério. Afinal, era muito mais fácil alguém deixar algo escapar durante uma conversa do que durante uma briga. Mas aturar Logan não era exatamente uma de suas habilidades, principalmente porque ela estava muito focada em sua missão e ele muito focado em só fazer piadinhas sem graça, que por sinal eram a sua marca registrada, em especial quando vinham na forma de alguma cantada fajuta. Alison não tinha tempo para isso.
Os dois estavam se servindo de mais um copo do ponche, aquele tipo de ponche que é claramente ruim, mas mesmo assim você não consegue parar de tomar, quando Don't Go Away começou a tocar.
- Hey, essa é uma música legal, você quer dançar?
- Com você?
- Qual é, não foi por isso que você me convidou?
- Nós dois sabemos porque eu te convidei.
- Por que você percebeu que não pode viver sem mim?
Ela o encara por um momento e percebe que teria que desistir de tentar fazer ele falar assim meio que por acidente, como se ela nem quisesse saber, como era o plano original, e que teria que contar a verdade pra ele. Logan podia ser tudo, menos idiota, ela podia ver em seus olhos que ele sabia de suas intenções e estava só esperando pra ver até onde ela chegaria. Talvez ele apreciasse a sua honestidade e contasse tudo de uma vez. Afinal, a esperança é a última que morre...
- Por causa do Joshua.
- O que tem o Joshua?
- Logan!
- Alison! - ele a imita, só de brincadeira, mas ela percebeu que o moreno ficou um pouco incomodado com o rumo da conversa.
- Você sabia? - ele começa a enrolar, olhando para o pessoal no ginásio, como se nem a tivesse escutado, então ela o puxa mais pra perto pelo braço. Talvez ela tenha sido um pouco rudo, mas ela não desistiria assim tão fácil. - Você está nisso também?
Ele deve ter percebido o seu comprometimento com aquele assunto, porque quem parecia ter jogado a toalha era ele. Alison preferiu não pensar muito no porque de ele sempre lhe dar o que ela queria.
- Não.
- Pra qual pergunta?
Logan suspira, claramente desistindo de inventar desculpas. Se fosse por ele, Alison e Jessica já estariam sabendo sobre tudo há muito tempo. Ele não concordava com o que elas fizeram no passado, lógico, mas era igualmente contra o que estava acontecendo agora. Ter deixado Joshua entrar sozinho na toca do leão foi uma péssima escolha. E verdade seja dita, o que ele mais odiava em toda essa situação era o grande alvo nas costas de Ali. Tinha esperança de que se Joshua desistisse, tudo isso acabaria.
- A segunda.
- Então você sabia.
- Sim, mas eu nunca concordei totalmente.
- E por que não o impediu? Você tem noção das coisas que ele fez?
- Sim. Mas vocês não. Bem longe disso...
- O que você quer dizer?
- Hei! Um pouco de mistério faz parte do meu charme.
E lá estava o Logan que ela conhecia novamente. Sabia que ele estava cooperando demais. Era bem a cara dele mesmo, no momento em que estavam começando a chegar à algum lugar, ele desconversava. Alison sabia que depois daqui ele não falaria mais nada.
- Você é impossível!
- Você fala como se isso fosse uma coisa ruim.

-x-

Me and you, what's going on?
All we seem to know is how to show
The feelings that are wrong”

Jessica estava em seu quarto, sentada em sua cama, tocando o seu violão, quando Matthew chegou. Ele estava um pouco agitado, claramente passando por uma espécie de dilema interno que não estava lhe fazendo bem. O fato é que Emily estava tentando se comunicar com ele fazia dias e ele estava começando a pensar em ceder. Mas ele não queria ceder. Se tinha uma coisa que ele não deixaria que Emily quebrasse era o seu orgulho.
Por isso, estava precisando de uma distração do fato de Emily estar ligando para ele naquele momento, e não podia confiar em si mesmo sozinho em sua casa, onde ele já tinha esgotado todas as opções de distrações possíveis. Então ele decidiu que iria até a casa de Jess, se refugiaria ali e a faria prometer que não deixaria ele nem sequer mencionar o nome de Emily enquanto estivesse naquele estado.
Ela estava tocando Don't Go Away e ele só fica ali escutando. Ele sabia do seu novo hobby: aprender a tocar todas as músicas do Oasis, em ordem alfabética, mas achou que ela teria feito mais progresso do que isso àquela altura.
- Ainda está na letra D?
- Não. Mas essa música não sai da minha cabeça. É como o ditado diz: se não pode com ela, junte-se à ela.

So don't go away/ Say what you say/ Say that you'll stay
Forever and a day/ In the time of my life/ 'cause I need more time
Yes, I need more time/ Just to make things right”

-x-

Yes, I need more time
Just to make things right

Emily não sabia muito bem porquê, mas ela precisava falar com Matthew, só o pensamento de Matty estar odiando-a e achando que ela era algum tipo de traidora a tinha deixado acordada mais noites do que ela gostaria naquela semana e o seu estado de muito grávida também não ajudava em nada. No máximo, todo aquele festival hormonal só piorava a sua situação.
A morena tenta ligar para Matty, e manda algumas (várias) mensagens, mas ele não respondia. Essa situação, além de deixá-la estressada, estava a deixando ansiosa também, louca por um cigarro, mas é claro que ela não podia, afinal estava com aquele parasita dentro dela, obrigando-a a ser saudável. Emi mal podia esperar para colocar aquele bebê pra fora e encher a cara. Deus, como ela sentia falta de álcool!

So don't go away”


domingo, 12 de março de 2017

Doce Sacrifício - Capítulo 38 [Don't Give Up On Us]

Música tema: Don't Give Up On Us [The Maine]

I am weakness, I am greatness,
I'm anything, you want me to be
I am wasted, and I'll make this
The anthem for a dying breed

Parte I – Joshua

Jessica estava se sentindo em um mundo paralelo. E para piorar, ela estava gostando disso. Não completamente, porque algo dentro dela ainda estava com um pé atrás sobre essa situação. Porém, era uma parte muito pequena, que não a impediu de ter passado horas falando sobre tudo e nada com Joshua por mensagens (o trabalho de Sociologia começava como o assunto, mas nunca terminava ali) e mais duas seções de filmes na casa da garota após fazerem o bendito trabalho.
Fazia duas semanas que eles tinham entregado o trabalho, ou seja, a desculpa para se encontrarem em sua casa tinha acabado, mas nenhum dos dois tocou no assunto e assim eles continuaram com sua rotina de três vezes na semana Joshua aparecer em sua casa e passarem o resto do dia assistindo a séries e filmes (Doctor Who comandava nesses dias).
Por mais que eles conversassem sobre praticamente tudo, Naomi era um tópico que nenhum dos dois ousava tocar, e como a menina tinha meio que sumido de cena, o que Jess sabia que a ruiva não faria se realmente estive namorando com Joshua, ela se permitiu desencanar sobre o assunto, afinal mesmo que não gostasse da garota, ela nunca que a apunhalaria assim.

-x-

See the light in the night when you're fading away
Trust in us, we're all that you've got these days
Take a look inside my heart
Oh, lets get carried away

Joshua e Logan estavam na casa do último, Miller sentado na cadeira em frente a sua escrivaninha, dedilhando uma melodia qualquer em seu violão, enquanto Campbell estava jogado em sua cama, digitando no seu celular com um sorrisinho idiota na cara.
Logan sabia que quando um garoto que tem namorada sorria daquele jeito para o celular, só podia significar uma coisa, mas Josh não ficava daquela forma com Naomi, então só tinha uma explicação para aquele sorriso.
- Fala pra Jess que eu disse oi.
- Quem disse que eu estou falando com ela? - a cara de inocente desentendido de Joshua podia enganar qualquer um, qualquer um que não convivesse com ele desde o jardim de infância.
- Sério? - Logan o olha diretamente nos olhos, como se estivesse dizendo: vamos, eu te desafio a mentir na minha cara. - Então com quem é?
...
...
- Jessica. - Logan quase conseguia ver o orgulho de Joshua pegando o seu casaco e saindo de cabeça baixa pela porta.
- Sabia!
- Como?
- Essa sua cara de idiota apaixonado te entrega toda vez.
- Eu não tenho... Eu não tô... - Joshua odiava ser pego de surpresa com essas coisas, ficava todo vermelho e gaguejando, era humilhante. - Tanto faz.
- Joshua, olha cara não fica bravo comigo, mas eu tenho que falar isso.
- Manda.
- Esquece esse plano, irmão. Não vale a pena.
Joshua deixa o celular de lado e se senta na ponta da cama, ainda estava com o rosto vermelho, mas agora, com o olhar distante e os ombros caídos parecia a imagem da derrota. Logan sabia que aquele era um assunto delicado, nem ele gostava de traze-lo à tona, porém lhe parecia claro que o amigo estava andando por uma rua sem saída, ele precisava convence-lo a dar meia volta e pegar outro caminho.
- Eu sei, mas eu já vim tão longe...
- Pra mim parece que você só andou pra trás.
- Ok, digamos que eu desista, e então?
- E então você vai atrás da garota certa.

-x-

Don't you dare, don't you ever give up,
Don't you ever give up, oh whoa
Don't you dare, don't you ever give up,
Don't you ever give up on us, my dear

Era noite de sábado, Jessica estava deitada em sua cama, concentrada no joguinho em seu celular enquanto Alison, sentada ao seu lado, olhava para as fotos de sua mãe e irmã pelo computador. Alison achava muito doido o fato de estar tudo parado em NY por causa da neve enquanto ali em LA o máximo que tinha era um vento gelado.
Não ficaram nessas atividades por muito tempo, no entanto. Jessica foi a primeira a notar o som vindo do lado de fora. Reconheceria aquela música em qualquer lugar, era uma de suas favoritas, mesmo sem um motivo aparente. Percebeu junto com Alison que aquela não era a voz do vocalista, parecia mais com...
Sem acreditar muito na conclusão que chegaram, ambas pularam da cama e foram até a janela do quarto, que dava para a rua, só para descobrir que estavam realmente certas, aquela era a voz de Joshua. Ele e Logan estavam de verdade no seu quintal tocando/cantando uma versão acústica de uma de suas músicas preferidas? Que tipo de alucinação esquisita era aquela?
- Jess, me diz que você está vendo o mesmo que eu e que eu não estou ficando louca.
Bem, se Alison também via, então devia ser verdade.
- Talvez nós duas estejamos numa viagem drogas muito fortes... - Jessica queria acreditar que era verdade, mas quais eram as chances? E por que?
- Eu tenho certeza absoluta que estou limpa. E você?
- Limpa como uma misofóbica*.

I am selfless, I am selfish,
I'm anything, that I want to be
This is violent, this is honest,
It's the anthem for a dying breed

Depois que Joshua e Logan terminaram a música, as duas desaparecem da janela. Eles já estavam começando a se preocupar, será que elas estavam enchendo baldes com água fria pra jogar neles? Mas então elas saíram pela porta da frente da casa e o coração de Joshua errou uma batida, acelerando em seguida. Certo, e agora? Ele devia dizer alguma coisa, mas o que?
- Vocês têm sorte que a Sra. Reed não está na cidade. Ela já ia mandar aquele poodle psicótico dela atrás de vocês. - Jessica estava falando com os dois, mas olhava somente para Joshua, como se não existisse nada mais.
Eles estavam se olhando com aquela expressão de quem tem muito a dizer, mas não sabe por onde começar. Alison pega no braço de Logan e o arrasta pra longe dali. Era melhor dar um pouco de privacidade ao dois.
- Eu sinto que deveria dizer alguma coisa inteligente e maravilhosa agora, mas a verdade é que eu não consigo pensar em nada.
- O que você está fazendo aqui, Joshua?
O rapaz respira fundo. Pensar em frases não iria dar certo. Aquele não era um momento para pensamento lógico, mas sim para sentimentos. Abrir a boca e despejar tudo o que estava sentindo, esperando que as frases atropeladas fizessem sentido. E que fossem a resposta certa.
Eu vim fazer uma serenata piegas para essa garota, sabe? A gente realmente funcionava juntos, mas ela me afastou por alguma razão que eu ainda não entendi direito e eu aceitei, dei o espaço que ela tava pedindo. Só que eu percebi que não era o que eu queria fazer, que não era o que eu deveria fazer. Então eu decidi dizer isso pra ela, na esperança de que ela entendesse e de que talvez ela também... - ele não conseguiu terminar a frase. Os lábios de Jess sobre os seus tornaram a tarefa um pouco impossível.
Na varanda da casa, Alison e Logan assistiam à cena. O moreno leva as mãos ao rosto, com a expressão de quem assiste dois gatinhos brincando com um novelo de lã.
- Own! Eles não são uma gracinha?
- É, são sim – Ali, que estava escorada à parede da casa, com os braços cruzados sobre o peito, revira os olhos para o garoto - eu vou até tirar uma foto e colocar numa camiseta pra celebrar esse momento.
Logan se vira para ela e deita a cabeça para um dos lados, analisando-a.
- Você não parece muito animada. Sabe que não precisa ficar com inveja, né? Se quiser, pode dizer que a música também foi pra você, afinal eu participei disso tanto quanto o Joshua.
- Por que você acha que o fato de você cantar qualquer coisa pra mim me faria sentir melhor?
- Ouch, Ali! Eu sei que pareço forte e durão, mas eu também tenho sentimentos.
- Bem, por mim você pode enfiar os seus sentimentos no seu c...
- Alison!
- No seu carro e ir pra bem longe com eles!

Parte II – David

See the light in the night when you're fading away
Trust in us, we're all you've got these days
Take a look inside these eyes
Oh, lets get carried away

David tinha voltado da pista de skate perto de sua casa para encontrar Lexis e Nick se fundindo no sofá. A questão é a seguinte: quando não é você ali trocando fluidos corporais, isso já é nojento o suficiente, mas quando é sua irmã postiça com o seu melhor amigo, a situação só pode ficar pior.
- Hei, irmãozinho! - Lexis se desgruda do namorado, pega um envelope de cima da mesa de centro e o entrega à Dave. - Isso chegou pra você.
- Valeu. - o garoto analisa o envelope branco e pensa em abri-lo ali mesmo, mas então ele nota que a menina estava interessada demais.
- Não tem remetente. O que é?
Ele nunca negou que era um pouco infantil e vingativo. Achou que deixá-la na curiosidade seria um bom pagamento pela sessão amasso no seu sofá. Da próxima vez, que ela fosse fazer isso na casa da mãe dela, ou ele jogaria um balde de água fria nos dois. E ainda os faria limpar a bagunça.
Sem responder à pergunta da outra, Dave segue até as escadas e vai para o seu quarto, onde poderia abrir o misterioso envelope a salvo de olhares curiosos. Ao abri-lo, percebeu que se tratava de uma carta impressa. Ele se senta em sua cama e começa a lê-la. De início achou que fosse algum tipo de brincadeira sem graça, mas conforme foi lendo, percebeu que ela fazia sim sentido.
A carta acusava Brenda Hitachiin de ser a antiga G e dava provas disso, junto com detalhes do que ela tinha feito e quem a ajudava. Um nome de destacou da folha como se estivesse escrito em tinta neon: Jessica Everdeen.
David tinha se esquecido completamente de que já chegara a desconfiar de Jessica. Foi exatamente na época em que Rachel teve uma overdose e foi parar no hospital. Ele teve uma conversa muito estranha com Jessica, na verdade foram vários pequenos momentos. Ela estava muito esquisita depois dos acontecimentos. Na verdade ela sempre ficava um pouco esquisita quando Rachel era mencionada. Agora ele sabia o motivo. Foi ela. Ela e Brenda. E Alison e Emily. E, claro, Matthew. Com esse aí Dave nem estava tão surpreso assim, mas ele conhecia Brenda, ou ao menos achava que conhecia. Ao que tudo indica, ele não conhecia a verdadeira Brenda, já que ela era a cabeça daquilo tudo. E Jessica? Ele a conhecia desde sempre, foram melhores amigos por anos, mais de uma década! Como ela pôde fazer isso? Por que? O que ela ganhava com aquela loucura?
A overdose de Rachel, a foto dos dois para Cody, a sua volta à clínica de reabilitação, o acidente de carro em que Lexis se feriu... Tudo obra deles! Até sabiam sobre o distúrbio alimentar de Madison e Vanessa, e incentivavam!
A segunda parte da carta não lhe era tão surpreendente assim. Nela havia provas de que Emily ainda estava ligada à G e que Joshua fazia parte desse novo grupo também. David sempre soube. Toda vez que ele olhava para o Campbell, ele sentia que o cara estava escondendo alguma coisa. O pior é que essa sensação vinha do seu senso de proteção com Jessica.
Ele não podia acreditar no quão cego ele fora em relação à ela!

Don't you dare, don't you ever give up,
Don't you ever give up, oh whoa
Don't you dare, don't you ever give up,
Don't you ever give up on us my dear

-x-

Jess desce as escadas aos tropeços. Seja lá quem estivesse do outro lado da porta, não parecia muito paciente. Apertava o botão da campainha como se o mundo fosse acabar caso não o fizesse. Assim que ela abre a porta de sua casa, David passa por ela, como um furacão, e vai logo exclamando:
- Eu não acredito que eu já cheguei a confiar em você!
Jess se assusta com aquela explosão. O que estava acontecendo? Ele parecia furioso.
- De onde isso está vindo?
- Você mentiu pra mim por todo esse tempo? - Dave lhe entrega a carta, ainda gritando enquanto ela lia o seu conteúdo. - O que tem de errado com você? Com todos vocês? - Tudo bem, agora fazia sentido aquela reação. Ele devia estar se sentido traído, e não era pra menos. Jess abre a boca pra tentar explicar, mas o barulho de passos faz os dois se virarem para as escadas. Ao ver Joshua descendo por elas, David parece ficar ainda mais nervoso. - O que ele está fazendo aqui?
- O que está havendo? - Jess entrega a carta para Joshua, que fica branco como o papel que tinha em mãos. Droga, onde David conseguiu aquilo? Era só o que lhe faltava! Agora que ele e Jessie estavam finalmente se entendendo... - Onde você conseguiu isso?
- O seu namoradinho não parece surpreso. Talvez você devesse perguntar a ele o por que.
- David... - Jessica tenta dizer alguma coisa, mas Joshua a impede.
Ele entra no meio dos dois, com medo de pra onde aquela conversa poderia levá-los. Três dias. Só tinham se passado três dias desde o seu pequeno concerto no jardim dos Everdeen. Não era tempo suficiente.
Ele estava tão preocupado tentando pensar em uma forma de contornar as acusações sobre ele na carta que nem lembrou que, tecnicamente, ele não sabia sobre Jessica e G, e por isso deveria parecer surpreso, assim como Dave havia dito.
- Cara, é melhor você ir embora.
Dave olha para os dois mais atentamente, percebendo certos detalhes que tinham lhe passado despercebidos. Os dois estavam meio corados, a raiz do cabelo molhada, um botão da blusa de Jessica estava na casa errada e a camisa de Joshua estava do avesso.
- Vocês dois realmente se merecem. - David não tinha condições de ficar nem mais um segundo ali. Após um último olhar carreado de mágoa para ex melhor amiga, ele lhes dá as costas e vai embora, batendo a porta com força atrás de si.

Don't give up on us
No, don't give up on us
Don't give up on us
No, don't give up on us

- O que ele quis dizer com isso? O que está escrito nessa carta...?
- Eu posso explicar!
- Então é verdade? Por que?
- Jessie... - ele tenta se aproximar, mas ela se afasta, como se ele fosse um leproso e ela estivesse com nojo de chegar perto.
- Como você pôde?
- Me deixa explicar, por favor!
- Não! Vai embora, Joshua.
- Jessie, por favor, só me...
- Agora Joshua!
O garoto pega a mochila que tinha deixado em cima do sofá da sala e vai embora, de cabeça baixa, sem olhar para ela. Não conseguiria fazer o que ela pediu se olhasse, iria se jogar aos seus pés e espernear até que ela o escutasse, o que era mais do que ridículo, mas acredite, se ele não saísse dali agora, seria exatamente o que ele faria.

Don't you dare, don't you ever give up,
Don't you ever give up, oh whoa
Don't you dare, don't you ever give up,
Don't you ever give up on us, my dear


*Misofóbica: pessoa que tem misofobia, ou seja, medo de se sujar, de ter contato com germes.
___________________________________________________
Breaking News: Eu estou viva! E não desisti de DS!
Eu sei que demorei, e eu sinto muito, mas a vida fica meio complicada às vezes. E bloqueios criativos também não ajudam...
Mas aqui está: capítulo 38! E é com certo pesar que digo que DS está chegando à sua reta final, pois é, falta pouco para o fim. Porém, como eu demoro o tempo de uma vida para postar, pode ser que esse fim não chegue tao logo.
Enfim, aqui estão las respostinhas do cap. anterior. Muito obrigada pelos comentários e pra quem acompanha a história mesmo sem comentar também ♡ (estou num clima de distribuir amor hoje hahaha)
Beijos e até a próxima!

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Doce Sacrifício - Capitulo 37 [Cry]

Música tema: Cry [Marmozets]

Fight your wars don't leave blood
justice flows in your vein’s
Cut your shame from the vane
now you know in your heart
life's to short to fall apart”

Parte I – Emily

Visitas à clinica obstétrica sem dúvida não estavam na lista de coisas favoritas a se fazer de Emily. Ir com Matthew até ali, com certeza só fazia o trauma aumentar. Por que mesmo ela tinha pedido para ele ir com ela? Devia ter ido sozinha. É o que faria na próxima vez que Vanessa não pudesse a acompanhar, porque se mais alguém pedisse se Matthew era o pai da criança, Emily viraria um avestruz só para poder enfiar a cabeça em um buraco qualquer.
Matthew ainda estava um pouco vermelho pela pergunta inapropriada (para Emily) feita pela outra moça na sala de espera, que não parecia incomodada pelo equívoco (se soubesse do histórico dos dois, talvez ficasse). Antes que mais alguma pergunta constrangedora pudesse ser feita, Emily ouve seu nome ser chamado e, só Deus sabe porque, ela sinaliza para Matty acompanhá-la até a sala de ultrassonografia.
Quando a Dra. Tyler entrou na sala, encontrou os dois jovens em um silencio sepulcral, olhando para tudo, menos de um para o outro. Emily já estava com a roupa da clínica e a doutora preferiu fazer o seu trabalho e fingir que não percebeu a óbvia constatação de que tinha algo errado com aqueles dois. Durante todos os seus anos de carreira, Dra. Tyler já ouviu cada história que as vezes nem ela acredita que vivenciou, e ela sabia que ali tinha mais uma dessas. Porém Emily nunca foi de se abrir muito e se tinha uma coisa que Anne Tyler sabia fazer era ser profissional e ignorar fatores externos.
Estava indo muito bem nessa parte, até que ela decide fazer a bendita pergunta:
- Você quer saber o que é?
Emily estava tão concentrada em pensar em qualquer outra coisa que não fosse em Matthew vendo dentro do seu útero e ouvindo as malditas batidas de coração que demorou um pouco para entender o que a doutora havia lhe perguntado. Não precisou pensar muito na resposta, entretanto, pois já a sabia há muito tempo.
- Eu já sei o que é: é a porra de um bebê.
- Não quer saber o sexo?
Matthew sempre foi um pouco curioso e aquela pergunta o deixou inquieto. Ao ver Emily dar de ombros, fazendo pouco caso, ele teve que questionar:
- Já dá pra saber, doutora?
- Dá sim, eu posso dizer se a Emily não se importar.
Emily não se importava com isso, afinal aquela criança iria para a adoção no momento que o cordão umbilical fosse cortado, mas Matty parecia interessado na resposta. Achou que não faria mal.
- Tudo bem.
- Emily está esperando uma menina.
O certo seria ambos darem de ombros e seguirem com suas vidas, porém o que aconteceu foi um pouco diferente disso. De repente, o som daquele coraçãozinho batendo ficou difícil de ignorar e, pela primeira vez no dia, Emi se virou para olhar o monitor. Nunca via nada naqueles borrões na tela, assim como Matt estava com dificuldades para identificar qualquer coisa que não fosse riscos e manchas, mas mesmo assim, nenhum dos dois conseguiu desfiar o olhar do monitor por alguns bons minutos.
Anne conhecia esse momento muito bem. Eles estavam começando a reconsiderar.

Parte II – Madison

Era meio da tarde de uma terça-feira e Jessica estava sozinha em casa. Para não sucumbir ao tédio, decidiu passar seu tempo aprendendo a tocar novas músicas em seu violão. Férias de inverno eram um saco, frio demais para fazer qualquer coisa.
Estava concentrada tentando pegar o ritmo do refrão quando a campainha tocou. Não sabia se ficava feliz por algo estar de fato acontecendo no seu dia ou se ficava com raiva pela interrupção. De qualquer forma, teve que deixar o violão de lado e descer até a sala para atender seja lá quem estivesse na porta.
- Jeremy? - ela não estava esperando que fosse alguém em específico, mas ter Jeremy Marshall na sua porta era um tanto surpreendente. E curioso.
- Oi, eu posso entrar? - ele parecia um pouco nervoso, esfregando uma mão na outra. Mas talvez fosse só o frio mesmo. Era melhor dar um abrigo para o coitado do garoto servindo de alvo fácil para o vento congelante (o que não era muito comum, visto que estavam na Califórnia. Se Jessica fosse um pouco mais ambientalista, poderia ficar preocupada com esse fato).
- Claro.
Jessica o guiou até o sofá da sala e os dois ficaram um instante sentados em silencio. Aquilo a lembrou do dia em que Madison foi falar com ela e estavam na mesma situação. Pelo visto namorados pegavam mesmo as manias um do outro. Ela não saberia dizer, já que nunca ficou com alguém por tempo suficiente para isso acontecer.
- Então...?
- Madison me contou que você já sabia. Sobre o seu distúrbio alimentar.
- Faz um tempo. Por que? Aconteceu alguma coisa?
- Não sei. Não é como se ela falasse com a gente sobre isso. O que é um pouco estranho, ela não nos diz nada, mas conversa com você.
- Ela não conversa comigo.
- Mas ela veio aqui uma vez. O que você disse à ela?
- Pra ela contar pra vocês, pedir ajuda.
- Só isso?
- O que mais eu poderia fazer?
- Nos contar. Olha o tempo que demorou pra ela nos dizer alguma coisa! E só foi porque a Lexi descobriu!
Graças a quem? Jess queria dizer, mas achou melhor não fazer uso de sarcasmo nessa conversa. Jeremy parecia um pouco nervoso.
- Eu fiz o que eu podia. - Jessica já se sentia mal por ter negligenciado a situação de Madison aquela fez, Jeremy não ia fazer ela se sentir mal de novo.
- Tem certeza Jessica? Porque isso aqui é sério! E eu acho que você podia ter feito mais!
Ah, foda-se! Ela não ia deixar ele gritar com ela em sua própria casa (ou em qualquer outro lugar)!
- E eu acho que você está descontando na pessoa errada Jeremy! Eu não convivo com ela, não sou o namorado dela, ou amiga dela! Não tenho culpa que vocês demoraram uma vida pra descobrir o que estava acontecendo e só descobriram graças à Alison e eu, que nem temos nada a ver com isso!
Se isso fosse um filme, esse seria o momento de pegar uma pipoca e assistir o show, porque os dois se levantarem do sofá e ficarem em pé no meio da sala empurrando a culpa um para o outro era só o começo.
- É claro que não tem! Você está ocupada demais fodendo com qualquer um e se entupindo de drogas pra se importar!
Nenhum dos dois percebeu isso vindo, mas ambos ouviram (e sentiram) o estalo da mão de Jessica em contato com a bochecha de Jeremy. E depois, um momento muito constrangedor de silêncio. Jessica recolhe a mão (que se já ardia pra caramba, nem queria imaginar a dor no rosto de Jeremy) e decide tomar as rédeas daquela situação calamitosa.
- Acho que ambos deixamos os ânimos se exaltarem. É melhor você ir embora. Agora.
Nem precisava pedir duas vezes. Jeremy não podia acreditar que tinha deixado as coisas chegarem àquele ponto!

-x-

Madison não sabia se ria ou se chorava daquela situação. Não bastava seus amigos ficarem em cima dela como cães-de-guarda, gruindo a cada menção que ela fazia de ir ao banheiro sozinha, tinham também que contar tudo para a sua mãe! E é claro que dona Lewis aceitou isso numa boa... só que não. Ela estava furiosa. E nem eram pelos motivos certos.
Angelic Lewis não estava brava por sua filha estar brincando com sua saúde daquela forma, mas sim por não ter percebido a filha fraca que tinha criado. Onde já se viu ter todo esse trabalho e não conseguir emagrecer? Se a menina fechasse um pouco a boca, nem precisaria ir ao banheiro vomitar. Era só ter um pouco de disciplina e parar de comer tanto. E ir à academia com sua mãe nos fins de tarde. Pronto, era isso que Angelic faria, colocaria sua filha na academia e numa dieta rígida. Se ela queria emagrecer tanto assim (e convenhamos que ela estava precisando), então ela iria, mas de uma maneira onde Angelic não precisaria passar pelo constrangimento de ter que explicar que havia criando uma filha doente!
Com esses pensamentos da mãe, fica fácil imaginar a situação de Madison agora: nem um pouco melhor. Todo aquele julgamento da mãe e a falta de confiança dos amigos não ajudavam Madison a parar. Ela não se sentia segura para compartilhar com eles o que sentia, não só porque eles não lhe transmitiam essa segurança, mas porque ela sabia que eles não entenderiam. Sua mãe, suas amigas, Jeremy, nenhum deles haviam passado por alguma situação que chegasse remotamente perto do que ela estava passando agora. Eles não sentiam nojo deles mesmo quando se olhavam no espelho, não precisavam ouvir todo um discurso pronto de como pessoas gordas eram gordas por serem desleixadas, ou como elas era feias, ou erradas. Não precisavam dar um sorriso falso toda vez que ouviam uma frase do tipo “ela é gordinha, mas até que tem um rosto bonito” ou “ela é bonita, apesar de ser gorda” ou então o famoso “eu não acredito que ele me largou pra ficar com aquela gorda!”.
Eles não sabiam como era.

Parte III – Joshua

Era oficial: Jessica estava enfrentando sérios problemas de carma.
Primeiro, ela conseguiu entrar numa discussão calorosa com o garoto mais tranquilo de toda Roundview High School (provavelmente de toda Los Angeles), e agora, de volta às aulas, descobre que teria que fazer o próximo trabalho de Sociologia com a sua dupla do trabalho anterior, ou seja Joshua Campbell.
Sério, qual era o problema que o Universo tinha com ela?
Jessica podia estar odiando aquilo, mas Joshua estava adorando. Estava quase fazendo um altar em sua casa para a professora Katie. De verdade.
Ele já estava repensando o seu plano há um bom tempo e esse trabalho talvez fosse mais uma dica para ele. Aquilo não estava funcionando mesmo, estava praticamente sozinho naquela empreitada e precisava confessar que nada daquilo compensava ficar longe dela.
Não podia mais enganar a si mesmo: sentia falta de Jessica. Mas não podia ficar com ela se continuasse com o plano. Não que ela o quisesse de volta. Ou queria? Jessica parecia ficar incomodada quando ele estava por perto. Joshua só não saberia dizer se era porque ele ainda mexia com ela ou porque ela simplesmente achava constrangedor ficar por perto de ex-namorados. Não que ela estivesse tendo esse problema com David. E sim, tem gotas de ciúmes nessa frase.
O problema mesmo era Naomi. Em mais de uma maneira, o que deixava o “problema Naomi” bem grande.
De volta ao trabalho de Sociologia, Jessica teve a (nem tão) brilhante ideia de propor que o fizessem em sua casa. Ponto para Joshua. Porém, ela se esqueceu que Marta não estaria lá na terça-feira. Mais um ponto para Joshua. A vida estava facilitando tanto para Joshua que ele teve que tomar isso como um “pelo amor de Deus, larga esse plano idiota e se acerta de uma vez com essa menina!”. Joshua é que não seria idiota de não seguir um conselho desse.
E agora estavam os dois sentados no chão da sala dos Everdeen, sobre o tapete felpudo xodó da mãe de Jess, em um silêncio estranho. Jessica parecia estar com a cabeça em outro lugar, a feição um pouco preocupada.
- Está tudo bem com você Jess?
- Não muito...
- Bem que eu senti um distúrbio na força. O que houve?
Os dois estavam com as costas apoiadas no sofá, que conseguia ser alto o suficiente para apoiar suas cabeças também. Ela vira o rosto na direção do garoto, observando-o por um instante, tentando decidir se lhe contava ou não. Resolveu que não faria mal ter a sua opinião no assunto.
- Eu acho que consegui fazer um feito bem idiota. Você acreditaria se eu te dissesse que briguei com Jeremy ao ponto de lhe dar um tapa?
- Jeremy? Marshall? Brigando? Tem certeza?
- Pois é.
- Por que?
- Madison. - ela não sabia se deveria dizer mais do que isso, afinal não era seu segredo para sair espalhando por aí. - Eu descobri que ela estava com um problema e acho que não ajudei o quanto deveria. Quando Jeremy descobriu, ele ficou doido. Na hora eu achei meio injusto ele descontar em mim, sendo que percebi algo que ele deveria ter notado. Mas talvez ele esteja certo, sabe? O problema era um pouco sério.
- E onde entra o tapa nisso?
- Ele veio aqui, nós discutimos, ele disse umas coisas que eu não gostei e eu bati nele.
- O que ele disse? - Joshua não estava gostando disso. Jessica não ficava distribuindo tapas por aí por qualquer motivo. Para isso ter acontecido, Jeremy deve ter dito algo muito sério. Joshua estava começando a criar uma raiva sem fundamento pelo garoto.
Jessica percebeu a feição um tanto irritada de Joshua e por isso resolveu por bem terminar com aquele assunto. Joshua tinha essa mania de dar uma de herói pra cima dela.
- Não importa agora. Você está com fome? Marta não está aí hoje, mas eu posso me aventurar na cozinha e ver se acho alguma coisa pra gente comer. - ela não esperou pela resposta do garoto, se levantando e seguindo para a cozinha. Joshua ainda não estava pronto para deixar aquele assunto de lado, mas decidiu respeitar sua escolha e a seguiu até a cozinha, porque para ser honesto, ele estava mesmo com um pouco de fome.
Jessica resolveu fazer um chá, porque o tempo frio pedia pela bebida, e Joshua (que nunca foi muito de ter vergonha mesmo) estava fuçando nos armários, vendo se encontrava alguma coisa. Achou um pacote de pipoca de micro-ondas.
- Que tal uma pipoca? E um filme?
- Nós ainda temos que terminar o trabalho
- E um filme depois que terminarmos o trabalho? Você não me deixou acabar a frase.
Filme? Ela e Joshua? Joshua e ela? Filme?
- Tudo bem.

Parte IV – Madison e Jessica

- Madison, espera!
Madison tinha acabado de sair do banheiro. Tinha aproveitado que estava sozinha na biblioteca para ir também sozinha ao banheiro, precisava se livrar do seu café-da-manhã, que já estava pesando no estomago.
- Jessica? Está tudo bem?
- Está sim, só queria saber como você está mesmo.
- Como eu estou?
- É, faz um tempo que a gente não conversa, sabe, sobre aquilo.
- Nós nunca conversamos sobre aquilo, ou qualquer outra coisa.
- Bem, você tinha me pedido ajuda, não tinha?
Então realização atingiu Madison. Seus amigos não saberiam pelo o que ela estava passando, mas talvez Jessica poderia ter uma leve noção, visto que ela também tinha uma espécie de “prática condenável” pelos outros e de certa forma era julgada sobre isso.
- Depende. Que tipo de ajuda você tem em mente?
- Eu tenho que ir nesse grupo de ajuda sobre vícios, e eu pensei que talvez isso te ajudasse, falar com pessoas que entendem pelo o que você está passando e ter o acompanhamento de um profissional.
- Qualquer um pode entrar?
- Sim, é bem tranquilo, e tem todo esse pacto de não falar sobre o que é dito lá e tal. Estaria interessada?
- Quando você vai?
- Nas quartas, no caso hoje, e nas sextas, logo depois da escola.
- Me espera na esquina, em frente ao ponto de ônibus, não quero que ninguém saiba.
- Tudo bem.

I'm fighting I'm fighting on my own
[...]
Still fighting still fighting on my own, on my own


______________________________________________________________________________
Olá Weirds and Wonderfuls! Tudo sussa na montanha-russa?
Então, Emily está esperando uma menina (*.*) Será que alguém está começando a se apegar?
Treta com Jeremy e Jessica... Eita, eita.
Qual será esse "plano" do Joshua? Alguma teoria? Diz aí!
Espero que gostem o capítulo (me tomou alguns dias a mais do que esperava, sorry!)
Beijos no pâncreas e até a próxima! ;)

domingo, 15 de maio de 2016

Doce Sacrifício - Capítulo 36 [Blood Hands]

Música tema: Blood Hands [Royal Blood]


Took a lonely feeling
Just to let the meaning
Sink like the sun goes down
Never close to heaven
Felt my feet were burning from the same red hot ground

Um ano atrás –

David se sentia idiota. Idiota por estar se culpando por algo que antes ele não via problema algum.
Quantas vezes ele já não planejara fazer aquilo? E agora que realmente fizera, estava se sentindo uma pessoa horrível. Ele só queria descobrir o porquê.
Ela tinha namorado. Bem, era só o cara não ficar sabendo. Ou então David faria uso das aulas de judô que frequentava anos atrás.
O cara estava do outro lado do país. E sem previsão certa para voltar. Não tinha como ele saber, só se a namorada lhe contasse - o que David duvida seriamente. Fazer isso pelas costas dele, no entanto, mesmo a menina estando claramente precisando de atenção, era muita sacanagem. Mas ela estava lá, e David também... somente aconteceu.
Ela era a melhor amiga da sua “irmã”. Certo, isso nem era um problema. Pode ser retirado da lista.
O garoto estava tão compenetrado na tarefa de tentar descobrir o que lhe fazia sentir culpado por ter beijado Rachel Martin que demorou alguns segundos para notar a movimentação ao seu lado, só despertando completamente quando Nicholas estalou os dedos em frente a sua cara.
- Tava em que galáxia, cara? - Nick, Jeremy, Madison e Lexie estavam sentados na mesa que ele ocupava, olhando-o de forma divertida. Deveriam estar tentando chamar sua atenção havia algum tempo. Não que ele se importasse com isso.
Ele ia responder com alguma gracinha quando Lexie o interrompeu, olhando com os olhos arregalados para o portão do Roundview.
- Não acredito!
Os outros quatro adolescentes olham na mesma direção, procurando o que deixara a loira tão chocada. Até que eles encontram: atravessando o pátio, estava Rachel, andando de mãos dadas com um garoto loiro.
David joga-se contra o encosto do banco, olhando-os sem acreditar em seus olhos, se sentindo a pessoa mais azarada do Universo. O que aquele cara estava fazendo ali? Era para Cody estar na maldita clínica de reabilitação, se desintoxicando de todas as drogas consumidas nos últimos meses, não andando todo sorridente ao lado de Rachel, e pior: na sua direção!
- Cody! Quando que você voltou? - Madison e Alexandra se levantam para cumprimentá-lo com um beijo na bochecha, numa felicidade que David achou completamente desnecessária. Qual é! O moleque era um drogadinho filho da puta, que só meteu Rachel em encrenca por causa disso! Como elas podiam apoiar aquela relação?
- Ontem mesmo. E aí, caras, beleza? - era só o que faltava! Até Jeremy e Nick estavam cumprimentando o filho da mãe!
Mas se acham que David iria fazer o mesmo, saibam que estão muito... certos, porque David Thompson era bem esse tipo de sínico sem-vergonha mesmo.

~”~

- Mas Cody já está de volta? - a garota estava deitada na cama de Matthew, lendo em seu celular a mensagem que acabara de chegar. Era sua amiga Alison lhe contando a mais nova notícia e, claro, perguntando onde ela estava. Jessica responde rapidamente que iria se atrasar e devolve o celular ao criado-mudo, ajeitando-se sob o lençol.
- E o que você esperava? Todo mundo acha que o filho do Senador só estava tendo um momento, se ele ficasse mais tempo por lá, todos saberiam que ele é um puta de um viciado das antigas. - a garota dá de ombros, observando o garoto ao seu lado se mexer e ficar por cima dela, com os braços apoiados ao lado de sua cabeça. - Na verdade, ele é um garoto de sorte.
Matthew também era, em sua concepção. Afinal não era qualquer um que podia ficar com Emily e Jessica quando e quantas vezes quisesse. Esse negócio de poligamia era a melhor coisa que já inventaram, na real!
- E não podia ter voltado em hora melhor. - ela solta um suspiro no meio de sua fala, ao sentir os lábios de Matty em seu pescoço. Talvez devesse ter dito à Ali que não iria para o colégio hoje. - Ela com certeza vai usar isso.
- A foto?
Jessica engole em seco, sentindo como se estivesse fazendo alguma coisa muito errada. Mesmo que gostasse de proferir pra quem quisesse ouvir o quanto David estava morto pra ela, Jessica ainda não se sentia bem fazendo essas coisas com ele. Se bem que aquilo poderia ajudá-lo a se livrar do namorado da garota que ele queria. E olhando por esse lado, ela até podia fingir que estava fazendo isso a favor dele.
- A foto.

~”~

It's getting hard to listen
When the clock is ticking
Counting down the days gone by
Praying for an answer to another question
That will only leave you dry

Os gritos continuavam altos e irritantes como ele se lembrava. Passara três meses ouvindo os gritos suplicantes dos outros pacientes passando pela pior fase da abstinência e nenhum deles, incluindo os próprios, chegava a incomodá-lo como aqueles que ele ouvia agora.
Nada como retornar ao doce lar... Bem, Cody não saberia dizer, pois nunca se sentira em casa ali. Também não achava que seus pais já tivessem. Talvez no início, quando Cody era ainda um bebê e eram tudo flores na carreira política do pai. Mas não agora. Não depois de perceberem que não se amavam mais, não depois das puladas de cerca de ambos os pais... Não depois das drogas. A mãe culpava o distanciamento do pai e o pai culpava a futilidade da mãe. Como se não fossem ambos distantes e fúteis em igual proporção. Talvez fosse por isso que se odiavam, eram parecidos demais.
O garoto estava considerando a ideia de fugir por algumas horas (já que estavam sob ordem expressa de não deixar a casa sem supervisão), quando percebeu o pacote na sua mesa. Era uma caixa pequena, quadrada, prateada com um laço branco amarrado à ela. Cody a examinou e, não encontrando nenhum tipo de identificação, desfez o laço e puxou a tampa. Encontrou três saquinhos com pó dentro e dois frascos cheios de pílulas.
Deveria jogar aquilo fora, afinal não sabia quem lhe deixara a caixa e estava somente a dois dias fora da reabilitação. Tinha que ser mais forte do que isso. Mas então ouviu o barulho de algo se quebrando no quarto dos pais e decidiu que foda-se.

~”~

Achou que conseguiria ser forte quando passou os dois próximos dias sem lembrar da caixa escondida em seu quarto. Mas então uma das empregadas lhe entregou o envelope. O envelope com a maldita foto.
Sabia que era melhor lidar com a situação sóbrio, que precisava falar com Rachel e encarar a situação com o pouco de dignidade que ainda lhe sobrava. Mas sua resistência estava rachando e tudo no que ele conseguia pensar agora era na caixa escondida no fundo falso do seu armário. A qual, pelo bilhete que acabara de receber, fazia uma ideia a quem pertencia.
Você passou muito tempo fora, precisava se inteirar dos fatos. O curativo eu já te mandei, espero que ainda o tenha. Bem-vindo de volta, G.

~”~

David estava virando o corredor, em seu caminho até o refeitório, quando foi brutalmente interrompido por um puxão que o fez bater com as costas na parede.
- Pra que essa violência? - ele olha indignado para o seu agressor, percebendo que na verdade se tratava de uma agressora: Rachel Martin.
- Foi você, não foi? - ela não parecia muito feliz, com a postura tensa e uma tempestade de raiva nos olhos escuros.
- O que aconteceu? - Dave já estava ficando assustado com aquela situação, mas então ela lhe empurra uma foto e quando ele vê a imagem de si mesmo beijando Rachel, ele entende tudo.
- Cody viu?
- É claro que ele viu! Você manda essa merda pra casa dele e quer que ele não veja?
- O que? Rachel, essa foto não é minha, eu não mandei isso pra ele! Eu nem sabia da existência disso aqui. Olha, se você quiser eu vou falar com ele, digo que você não...
- Não. Não importa mais agora.
Pelo seu tom David soube que estava tudo acabado. Rachel e Cody tinham terminado. A descoberta o deixou com uma sensação agridoce, estava feliz por ela ter se livrado daquele idiota, mas a tristeza em seu olhar acabou com ele. Thompson precisava descobrir quem mandou aquela foto para Cody. Tinha que lhe ensinar a não ficar se entrometendo na vida dos outros assim, principalmente na de Rachel.

~”~

Every time I'm drinking
Try to stop my thinking
About the things I've said and done
Stop the world from turning faster
Than I'm learning not to just hide and run

- Eu ainda não entendi, você gosta do David, pra que fazer Rachel e Cody terminarem?
- Pelo show, é claro. E se ela chegar perto do David de novo, eu posso tirá-la do caminho rapidinho. Que cara é essa?
- Você não pode ficar brincando com a vida deles assim. Acho que chegamos longe demais.
- Longe demais? Eu não estou nem perto de onde quero chegar ainda.
- Tem razão, você não matou ninguém ainda. Ah, espera, talvez esse seu próximo passo vá.
- Eu não tenho culpa se ela não sabe guardar segredos.
- Mas deve ter outras formas de faze-la aprender! Sério Brenda, você já colocou pessoas o suficiente numa cama de hospital!
- Eu não apontei uma arma na cabeça deles e os obriguei a fazer algo. Fizeram porque quiseram.
- Não faça isso.
- Ou o que? Você vai me denunciar? Porque, e eu sei que você sabe disso Emily, se eu cair, eu levo todos vocês comigo.

~”~

David perde o equilíbrio e cai mais uma vez do skate. Era a terceira em menos de dez minutos. Definitivamente ele não estava em um bom dia para aquilo. Resolveu parar e sentar em um dos bancos espalhados perto da pista de skate.
Tinha um embaixo de uma sombra bacana, mas não sabia se deveria se aproximar, afinal Jessica Everdeen estava sentada ali. Parecia agitada, balançando uma perna e girando o celular nas mãos.
A relação entre eles não era mais tao estranha, mas ainda assim ele não se sentia tao a vontade em falar com ela. Afinal, foram dois anos de relações cortadas.
Se considerasse essas variáveis, chegaria a conclusão de que era melhor ignorá-la e seguir com sua vida, já que tinha certeza que era isso o que ela faria, mas quando deu por si, já estava sentado ao lado dela, fazendo a pergunta de um milhão de dólares:
- Está tudo bem?
Jessica já o tinha visto se aproximando (estava observando-o desde quando chegara no parque), por isso não se surpreendeu em te-lo ali, mas estava tao presa em seus pensamentos que se fosse em qualquer outra situação, teria levado um susto. Chegava a ser engraçado até, na verdade. Ter a razão de seu conflito interno sentado ao seu lado lhe perguntando se ela estava bem. Sua situação deveria estar mesmo desesperadora para o garoto que fingia não saber de sua existência (a recíproca costumava ser verdadeira) estar lhe fazendo tal pergunta.
Com um suspiro e um tom que não convencia ninguém, ela optou pela saída mais segura:
- Está sim. E com você? - ela aponta rapidamente para o esfolado no braço de David, recém adquirido pela última queda.
- Meu equilíbrio resolveu me abandonar hoje. Muita coisa na cabeça, eu acho.
- Rachel?
Dave ficou vermelho na hora, mas o tempo que Jessica precisaria para se arrepender de tocar no assunto foi substituído pela confusão que se seguiu.
Um carro cantou pneu numa rua ali perto e a comoção foi instantânea. Os dois se olharam assustados e levantaram do banco, seguindo os outros pedestres até o local do barulho.
Um acidente, foi o que descobriram a se aproximarem. Jessica conseguiu dar uma olhada na rua e viu que, estirado no chão, no meio de todas aquelas pessoas, Joshua Campbell jazia inconsciente.
O celular em sua mão vibrou e, tremendo, a menina desbloqueou a tela, só para encontrar o motivo de todo aquele carma negativo em sua vida:
Quietinha você fica mais bonitinha e menos perigosa para as pessoas a sua volta.
Ela não precisou assinar, nem se explicar mais. Joshua estava pagando pela carta que Jessica mandara para Rachel no hospital.
Brenda passara de todos os limites.
Ainda em choque, Jessica se obrigou a sair dali. Já tinham chamado uma ambulância e ela não confiava em si mesma naquele estado perto de David. Ia acabar contando sobre a foto, a overdose de Rachel, tudo. É o que ela queria fazer há um bom tempo. E mesmo com a recente ameaça, ela não exitaria, estava cansada de tudo aquilo. Porém, o resultado não atingiria só a ela, e isso, ao contrário de todo o resto, ela podia evitar.

~”~

Quando Matthew recebeu a notícia, ele realmente achou que fosse uma brincadeira de mau gosto, ou que Emily estava zoando da cara dele. Brenda sofrer um acidente de carro e ir parar em estado grave no hospital era para ser uma notícia horrível, mas Matt não conseguiu frear o pensamento de que talvez ela merecesse isso, por todas as coisas que ela fez. Porém, se você parar para pensar, Fitch a ajudara em quase todas aquelas “brincadeiras”, logo, ele também merecia algo parecido? Não queria pensar nisso agora. Não podia.
Um acidente como esse poderia chamar a atenção, principalmente para onde o GPS de Brenda dizia que ela estava indo quando perdeu o controle da direção (para o QG do TheGossip). Matthew precisava sumir com as evidencias de que estavam ligados à ela. Talvez deixasse algo que “incriminasse” (entre aspas mesmo, porque não existe Lei direta para merda feita na internet) somente Brenda, isso talvez a fizesse parar com toda essa loucura. Porém, após fazer isso e chegar finalmente ao hospital, a visão de Emily chorando ao lado da mãe de Brenda e Jessica lhe balançando a cabeça negativamente, confirmaram que Brenda realmente não faria mais nada. Nunca mais.

~”~

Os três estavam assistindo o final da cerimonia mais para trás das outras pessoas presentes. Emily estava na lá frente, é claro, afinal era a sua melhor amiga ali naquele caixão. Alison achou que era mais sábio Jessie, Matty e ela não se aproximarem muito, visto que para todo mundo eles eram meros colegas de escola. Era melhor deixar desse jeito. Estava tudo acabado qualquer forma.
Mas então algo que ela só presenciava do outro lado lhe aconteceu. Seu celular tocou ao mesmo tempo dos de Jessica e Matthew. Nenhum deles sabia o que pensar quando leram a mensagem:
Não precisam ficarem triste, eu ainda estou aqui. E eu sei de tudo. Bem-vindos ao outro lado. Xoxo – G.
Porém, uma coisa era certa, ao ver a expressão surpresa de Emily os encarando lá da frente, Alison soube que aquilo ainda não tinha acabado.

But there's blood on my hands
Yeah, there's blood


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Salut! Finalmente saiu o último flashback, aquele com a coisa fofa do Cody (ou não).
Dois meses sem atualização é até um bom tempo no meu histórico, então comemoremos!
Espero que tenham gostado do pequeno remember. Aqui (cap. 34) e aqui (cap. 35).
Au revoir!
ps: se você sabe de onde é a imagem do início, vamos nos amar (e chorar junto)!