Música tema: Cry [Marmozets]
“Fight
your wars don't leave blood
justice flows in your vein’s
Cut your shame from the vane
now you know in your heart
life's to short to fall apart”
justice flows in your vein’s
Cut your shame from the vane
now you know in your heart
life's to short to fall apart”
Parte I – Emily
Visitas
à clinica obstétrica sem dúvida não
estavam na lista de coisas favoritas a se fazer de Emily. Ir com
Matthew até ali, com certeza só fazia o trauma
aumentar. Por que mesmo ela tinha pedido para ele ir com ela? Devia
ter ido sozinha. É o que faria na próxima vez que
Vanessa não pudesse a acompanhar, porque se mais alguém
pedisse se Matthew era o pai da criança, Emily viraria um
avestruz só para poder enfiar a cabeça em um buraco
qualquer.
Matthew
ainda estava um pouco vermelho pela pergunta inapropriada (para
Emily) feita pela outra moça na sala de espera, que não
parecia incomodada pelo equívoco (se soubesse do histórico
dos dois, talvez ficasse). Antes que mais alguma pergunta
constrangedora pudesse ser feita, Emily ouve seu nome ser chamado e,
só Deus sabe porque, ela sinaliza para Matty acompanhá-la
até a sala de ultrassonografia.
Quando
a Dra. Tyler entrou na sala, encontrou os dois jovens em um silencio
sepulcral, olhando para tudo, menos de um para o outro. Emily já
estava com a roupa da clínica e a doutora preferiu fazer o seu
trabalho e fingir que não percebeu a óbvia constatação
de que tinha algo errado com aqueles dois. Durante todos os seus anos
de carreira, Dra. Tyler já ouviu cada história que as
vezes nem ela acredita que vivenciou, e ela sabia que ali tinha mais
uma dessas. Porém Emily nunca foi de se abrir muito e se tinha
uma coisa que Anne Tyler sabia fazer era ser profissional e ignorar
fatores externos.
Estava
indo muito bem nessa parte, até que ela decide fazer a bendita
pergunta:
-
Você quer saber o que é?
Emily
estava tão concentrada em pensar em qualquer outra coisa que
não fosse em Matthew vendo dentro do seu útero e
ouvindo as malditas batidas de coração que demorou um
pouco para entender o que a doutora havia lhe perguntado. Não
precisou pensar muito na resposta, entretanto, pois já a sabia
há muito tempo.
-
Eu já sei o que é: é a porra de um bebê.
-
Não quer saber o sexo?
Matthew
sempre foi um pouco curioso e aquela pergunta o deixou inquieto. Ao
ver Emily dar de ombros, fazendo pouco caso, ele teve que questionar:
-
Já dá pra saber, doutora?
-
Dá sim, eu posso dizer se a Emily não se importar.
Emily
não se importava com isso, afinal aquela criança iria
para a adoção no momento que o cordão umbilical
fosse cortado, mas Matty parecia interessado na resposta. Achou que
não faria mal.
-
Tudo bem.
-
Emily está esperando uma menina.
O
certo seria ambos darem de ombros e seguirem com suas vidas, porém
o que aconteceu foi um pouco diferente disso. De repente, o som
daquele coraçãozinho batendo ficou difícil de
ignorar e, pela primeira vez no dia, Emi se virou para olhar o
monitor. Nunca via nada naqueles borrões na tela, assim como
Matt estava com dificuldades para identificar qualquer coisa que não
fosse riscos e manchas, mas mesmo assim, nenhum dos dois conseguiu
desfiar o olhar do monitor por alguns bons minutos.
Anne
conhecia esse momento muito bem. Eles estavam começando a
reconsiderar.
Parte II – Madison
Era
meio da tarde de uma terça-feira e Jessica estava sozinha em
casa. Para não sucumbir ao tédio, decidiu passar seu
tempo aprendendo a tocar novas músicas em seu violão.
Férias de inverno eram um saco, frio demais para fazer
qualquer coisa.
Estava
concentrada tentando pegar o ritmo do refrão quando a
campainha tocou. Não sabia se ficava feliz por algo estar de
fato acontecendo no seu dia ou se ficava com raiva pela interrupção.
De qualquer forma, teve que deixar o violão de lado e descer
até a sala para atender seja lá quem estivesse na
porta.
-
Jeremy? - ela não estava esperando que fosse alguém em
específico, mas ter Jeremy Marshall na sua porta era um tanto
surpreendente. E curioso.
-
Oi, eu posso entrar? - ele parecia um pouco nervoso, esfregando uma
mão na outra. Mas talvez fosse só o frio mesmo. Era
melhor dar um abrigo para o coitado do garoto servindo de alvo fácil
para o vento congelante (o que não era muito comum, visto que
estavam na Califórnia. Se Jessica fosse um pouco mais
ambientalista, poderia ficar preocupada com esse fato).
-
Claro.
Jessica
o guiou até o sofá da sala e os dois ficaram um
instante sentados em silencio. Aquilo a lembrou do dia em que Madison
foi falar com ela e estavam na mesma situação. Pelo
visto namorados pegavam mesmo as manias um do outro. Ela não
saberia dizer, já que nunca ficou com alguém por tempo
suficiente para isso acontecer.
-
Então...?
-
Madison me contou que você já sabia. Sobre o seu
distúrbio alimentar.
-
Faz um tempo. Por que? Aconteceu alguma coisa?
-
Não sei. Não é como se ela falasse com a gente
sobre isso. O que é um pouco estranho, ela não nos diz
nada, mas conversa com você.
-
Ela não conversa
comigo.
-
Mas ela veio aqui uma vez. O que você disse à ela?
-
Pra ela contar pra vocês, pedir ajuda.
-
Só isso?
-
O que mais eu poderia fazer?
-
Nos contar. Olha o tempo que demorou pra ela nos dizer alguma coisa!
E só foi porque a Lexi descobriu!
Graças
a quem? Jess queria
dizer, mas achou melhor não fazer uso de sarcasmo nessa
conversa. Jeremy parecia um pouco nervoso.
-
Eu fiz o que eu podia. - Jessica já se sentia mal por ter
negligenciado a situação de Madison aquela fez, Jeremy
não ia
fazer ela se sentir mal de novo.
-
Tem certeza Jessica? Porque isso aqui é sério! E eu acho
que você podia ter feito mais!
Ah,
foda-se! Ela não
ia deixar ele gritar com ela em sua própria casa (ou em
qualquer outro lugar)!
-
E eu acho que você está descontando na pessoa errada
Jeremy! Eu não convivo com ela, não sou o namorado
dela, ou amiga dela! Não tenho culpa que vocês demoraram
uma vida pra descobrir o que estava acontecendo e só
descobriram graças à Alison e eu, que nem temos nada a
ver com isso!
Se
isso fosse um filme, esse seria o momento de pegar uma pipoca e
assistir o show, porque os dois se levantarem do sofá e
ficarem em pé no meio da sala empurrando a culpa um para o
outro era só o começo.
-
É claro que não tem! Você está ocupada
demais fodendo com qualquer um e se entupindo de drogas pra se
importar!
Nenhum
dos dois percebeu isso vindo, mas ambos ouviram (e sentiram) o estalo
da mão de Jessica em contato com a bochecha de Jeremy. E
depois, um momento muito constrangedor de silêncio. Jessica
recolhe a mão (que se já ardia pra caramba, nem queria
imaginar a dor no rosto de Jeremy) e decide tomar as rédeas
daquela situação calamitosa.
- Acho
que ambos deixamos os ânimos se exaltarem. É melhor você
ir embora. Agora.
Nem
precisava pedir duas vezes. Jeremy não podia acreditar que
tinha deixado as coisas chegarem àquele ponto!
-x-
Madison
não sabia se ria ou se chorava daquela situação.
Não bastava seus amigos ficarem em cima dela como
cães-de-guarda, gruindo a cada menção que ela
fazia de ir ao banheiro sozinha, tinham também que contar tudo
para a sua mãe! E é claro que dona Lewis aceitou isso
numa boa... só que não. Ela estava furiosa. E nem eram
pelos motivos certos.
Angelic
Lewis não estava brava por sua filha estar brincando com sua
saúde daquela forma, mas sim por não ter percebido a
filha fraca que tinha criado. Onde já se viu ter todo esse
trabalho e não conseguir emagrecer? Se a menina fechasse um
pouco a boca, nem precisaria ir ao banheiro vomitar. Era só
ter um pouco de disciplina e parar de comer tanto. E ir à
academia com sua mãe nos fins de tarde. Pronto, era isso que
Angelic faria, colocaria sua filha na academia e numa dieta rígida.
Se ela queria emagrecer tanto assim (e convenhamos que ela estava
precisando), então ela iria, mas de uma maneira onde Angelic não
precisaria passar pelo constrangimento de ter que explicar que havia
criando uma filha doente!
Com
esses pensamentos da mãe, fica fácil imaginar a
situação de Madison agora: nem um pouco melhor. Todo
aquele julgamento da mãe e a falta de confiança dos
amigos não ajudavam Madison a parar. Ela não se sentia
segura para compartilhar com eles o que sentia, não só
porque eles não lhe transmitiam essa segurança, mas
porque ela sabia que eles não entenderiam. Sua mãe,
suas amigas, Jeremy, nenhum deles haviam passado por alguma situação
que chegasse remotamente perto do que ela estava passando agora. Eles
não sentiam nojo deles mesmo quando se olhavam no espelho, não
precisavam ouvir todo um discurso pronto de como pessoas gordas eram
gordas por serem desleixadas, ou como elas era feias, ou erradas. Não
precisavam dar um sorriso falso toda vez que ouviam uma frase do tipo “ela é
gordinha, mas até que tem um rosto bonito” ou “ela é
bonita, apesar
de ser gorda” ou então o famoso “eu não acredito
que ele me largou pra ficar com aquela gorda!”.
Eles
não sabiam como era.
Parte III – Joshua
Era
oficial: Jessica estava enfrentando sérios problemas de carma.
Primeiro,
ela conseguiu entrar numa discussão calorosa com o garoto mais
tranquilo de toda Roundview High School (provavelmente de toda Los
Angeles), e agora, de volta às aulas, descobre que teria que
fazer o próximo trabalho de Sociologia com a sua dupla do
trabalho anterior, ou seja Joshua Campbell.
Sério,
qual era o problema que o Universo tinha com ela?
Jessica
podia estar odiando aquilo, mas Joshua estava adorando. Estava quase
fazendo um altar em sua casa para a professora Katie. De verdade.
Ele
já estava repensando o seu plano há um bom tempo e esse
trabalho talvez fosse mais uma dica para ele. Aquilo não
estava funcionando mesmo, estava praticamente sozinho naquela
empreitada e precisava confessar que nada daquilo compensava ficar
longe dela.
Não
podia mais enganar a si mesmo: sentia falta de Jessica. Mas não
podia ficar com ela se continuasse com o plano. Não que ela o
quisesse de volta. Ou queria? Jessica parecia ficar incomodada quando
ele estava por perto. Joshua só não saberia dizer se
era porque ele ainda mexia com ela ou porque ela simplesmente achava
constrangedor ficar por perto de ex-namorados. Não que ela
estivesse tendo esse problema com David. E sim, tem gotas de ciúmes
nessa frase.
O
problema mesmo era Naomi. Em mais de uma maneira, o que deixava o
“problema Naomi” bem grande.
De
volta ao trabalho de Sociologia, Jessica teve a (nem tão)
brilhante ideia de propor que o fizessem em sua casa. Ponto para
Joshua. Porém, ela se esqueceu que Marta não estaria lá
na terça-feira. Mais um ponto para Joshua. A vida estava
facilitando tanto para Joshua que ele teve que tomar isso como um
“pelo amor de Deus, larga esse plano idiota e se acerta de uma vez
com essa menina!”. Joshua é que não seria idiota de
não seguir um conselho desse.
E
agora estavam os dois sentados no chão da sala dos Everdeen,
sobre o tapete felpudo xodó da mãe de Jess, em um
silêncio estranho. Jessica parecia estar com a cabeça em
outro lugar, a feição um pouco preocupada.
-
Está tudo bem com você Jess?
-
Não muito...
-
Bem que eu senti um distúrbio na força. O que houve?
Os
dois estavam com as costas apoiadas no sofá, que conseguia ser
alto o suficiente para apoiar suas cabeças também. Ela
vira o rosto na direção do garoto, observando-o por um
instante, tentando decidir se lhe contava ou não. Resolveu que
não faria mal ter a sua opinião no assunto.
-
Eu acho que consegui fazer um feito bem idiota. Você
acreditaria se eu te dissesse que briguei com Jeremy ao ponto de lhe
dar um tapa?
-
Jeremy? Marshall? Brigando? Tem certeza?
-
Pois é.
-
Por que?
-
Madison. - ela não sabia se deveria dizer mais do que isso,
afinal não era seu segredo para sair espalhando por aí.
- Eu descobri que ela estava com um problema e acho que não
ajudei o quanto deveria. Quando Jeremy descobriu, ele ficou doido. Na
hora eu achei meio injusto ele descontar em mim, sendo que percebi
algo que ele
deveria ter notado. Mas talvez ele esteja certo, sabe? O problema era
um pouco sério.
-
E onde entra o tapa nisso?
-
Ele veio aqui, nós discutimos, ele disse umas coisas que eu
não gostei e eu bati nele.
-
O que ele disse? - Joshua não estava gostando disso. Jessica
não ficava distribuindo tapas por aí por qualquer
motivo. Para isso ter acontecido, Jeremy deve ter dito algo muito
sério. Joshua estava começando a criar uma raiva sem
fundamento pelo garoto.
Jessica
percebeu a feição um tanto irritada de Joshua e por
isso resolveu por bem terminar com aquele assunto. Joshua tinha essa
mania de dar uma de herói pra cima dela.
-
Não importa agora. Você está com fome? Marta não
está aí hoje, mas eu posso me aventurar na cozinha e
ver se acho alguma coisa pra gente comer. - ela não esperou
pela resposta do garoto, se levantando e seguindo para a cozinha.
Joshua ainda não estava pronto para deixar aquele assunto de
lado, mas decidiu respeitar sua escolha e a seguiu até a
cozinha, porque para ser honesto, ele estava mesmo com um pouco de
fome.
Jessica
resolveu fazer um chá, porque o tempo frio pedia pela bebida,
e Joshua (que nunca foi muito de ter vergonha mesmo) estava fuçando
nos armários, vendo se encontrava alguma coisa. Achou um
pacote de pipoca de micro-ondas.
-
Que tal uma pipoca? E um filme?
-
Nós ainda temos que terminar o trabalho
-
E um filme depois
que terminarmos o trabalho? Você não me deixou acabar a
frase.
Filme?
Ela e Joshua? Joshua e ela? Filme?
-
Tudo bem.
Parte IV – Madison
e Jessica
-
Madison, espera!
Madison
tinha acabado de sair do banheiro. Tinha aproveitado que estava
sozinha na biblioteca para ir também sozinha ao banheiro,
precisava se livrar do seu café-da-manhã, que já
estava pesando no estomago.
-
Jessica? Está tudo bem?
- Está sim, só
queria saber como você está mesmo.
- Como eu estou?
- É, faz um
tempo que a gente não conversa, sabe, sobre aquilo.
- Nós nunca
conversamos sobre aquilo, ou qualquer outra coisa.
- Bem, você
tinha me pedido ajuda, não
tinha?
Então
realização atingiu Madison. Seus amigos não
saberiam pelo o que ela estava passando, mas talvez Jessica poderia
ter uma leve noção, visto que ela também tinha
uma espécie de “prática condenável” pelos
outros e de certa forma era julgada sobre isso.
-
Depende. Que tipo de ajuda você tem em mente?
-
Eu tenho que ir nesse grupo de ajuda sobre vícios, e eu pensei
que talvez isso te ajudasse, falar com pessoas que entendem pelo o
que você está passando e ter o acompanhamento de um
profissional.
-
Qualquer um pode entrar?
-
Sim, é bem tranquilo, e tem todo esse pacto de não
falar sobre o que é dito lá e tal. Estaria interessada?
-
Quando você vai?
-
Nas quartas, no caso hoje, e nas sextas, logo depois da escola.
-
Me espera na esquina, em frente ao ponto de ônibus, não
quero que ninguém saiba.
-
Tudo bem.
“I'm
fighting I'm fighting on my own
[...]
Still
fighting still fighting on my own, on my own”
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Olá Weirds and Wonderfuls! Tudo sussa na montanha-russa?
Então, Emily está esperando uma menina (*.*) Será que alguém está começando a se apegar?
Treta com Jeremy e Jessica... Eita, eita.
Qual será esse "plano" do Joshua? Alguma teoria? Diz aí!
Espero que gostem o capítulo (me tomou alguns dias a mais do que esperava, sorry!)
Beijos no pâncreas e até a próxima! ;)