domingo, 15 de maio de 2016

Doce Sacrifício - Capítulo 36 [Blood Hands]

Música tema: Blood Hands [Royal Blood]


Took a lonely feeling
Just to let the meaning
Sink like the sun goes down
Never close to heaven
Felt my feet were burning from the same red hot ground

Um ano atrás –

David se sentia idiota. Idiota por estar se culpando por algo que antes ele não via problema algum.
Quantas vezes ele já não planejara fazer aquilo? E agora que realmente fizera, estava se sentindo uma pessoa horrível. Ele só queria descobrir o porquê.
Ela tinha namorado. Bem, era só o cara não ficar sabendo. Ou então David faria uso das aulas de judô que frequentava anos atrás.
O cara estava do outro lado do país. E sem previsão certa para voltar. Não tinha como ele saber, só se a namorada lhe contasse - o que David duvida seriamente. Fazer isso pelas costas dele, no entanto, mesmo a menina estando claramente precisando de atenção, era muita sacanagem. Mas ela estava lá, e David também... somente aconteceu.
Ela era a melhor amiga da sua “irmã”. Certo, isso nem era um problema. Pode ser retirado da lista.
O garoto estava tão compenetrado na tarefa de tentar descobrir o que lhe fazia sentir culpado por ter beijado Rachel Martin que demorou alguns segundos para notar a movimentação ao seu lado, só despertando completamente quando Nicholas estalou os dedos em frente a sua cara.
- Tava em que galáxia, cara? - Nick, Jeremy, Madison e Lexie estavam sentados na mesa que ele ocupava, olhando-o de forma divertida. Deveriam estar tentando chamar sua atenção havia algum tempo. Não que ele se importasse com isso.
Ele ia responder com alguma gracinha quando Lexie o interrompeu, olhando com os olhos arregalados para o portão do Roundview.
- Não acredito!
Os outros quatro adolescentes olham na mesma direção, procurando o que deixara a loira tão chocada. Até que eles encontram: atravessando o pátio, estava Rachel, andando de mãos dadas com um garoto loiro.
David joga-se contra o encosto do banco, olhando-os sem acreditar em seus olhos, se sentindo a pessoa mais azarada do Universo. O que aquele cara estava fazendo ali? Era para Cody estar na maldita clínica de reabilitação, se desintoxicando de todas as drogas consumidas nos últimos meses, não andando todo sorridente ao lado de Rachel, e pior: na sua direção!
- Cody! Quando que você voltou? - Madison e Alexandra se levantam para cumprimentá-lo com um beijo na bochecha, numa felicidade que David achou completamente desnecessária. Qual é! O moleque era um drogadinho filho da puta, que só meteu Rachel em encrenca por causa disso! Como elas podiam apoiar aquela relação?
- Ontem mesmo. E aí, caras, beleza? - era só o que faltava! Até Jeremy e Nick estavam cumprimentando o filho da mãe!
Mas se acham que David iria fazer o mesmo, saibam que estão muito... certos, porque David Thompson era bem esse tipo de sínico sem-vergonha mesmo.

~”~

- Mas Cody já está de volta? - a garota estava deitada na cama de Matthew, lendo em seu celular a mensagem que acabara de chegar. Era sua amiga Alison lhe contando a mais nova notícia e, claro, perguntando onde ela estava. Jessica responde rapidamente que iria se atrasar e devolve o celular ao criado-mudo, ajeitando-se sob o lençol.
- E o que você esperava? Todo mundo acha que o filho do Senador só estava tendo um momento, se ele ficasse mais tempo por lá, todos saberiam que ele é um puta de um viciado das antigas. - a garota dá de ombros, observando o garoto ao seu lado se mexer e ficar por cima dela, com os braços apoiados ao lado de sua cabeça. - Na verdade, ele é um garoto de sorte.
Matthew também era, em sua concepção. Afinal não era qualquer um que podia ficar com Emily e Jessica quando e quantas vezes quisesse. Esse negócio de poligamia era a melhor coisa que já inventaram, na real!
- E não podia ter voltado em hora melhor. - ela solta um suspiro no meio de sua fala, ao sentir os lábios de Matty em seu pescoço. Talvez devesse ter dito à Ali que não iria para o colégio hoje. - Ela com certeza vai usar isso.
- A foto?
Jessica engole em seco, sentindo como se estivesse fazendo alguma coisa muito errada. Mesmo que gostasse de proferir pra quem quisesse ouvir o quanto David estava morto pra ela, Jessica ainda não se sentia bem fazendo essas coisas com ele. Se bem que aquilo poderia ajudá-lo a se livrar do namorado da garota que ele queria. E olhando por esse lado, ela até podia fingir que estava fazendo isso a favor dele.
- A foto.

~”~

It's getting hard to listen
When the clock is ticking
Counting down the days gone by
Praying for an answer to another question
That will only leave you dry

Os gritos continuavam altos e irritantes como ele se lembrava. Passara três meses ouvindo os gritos suplicantes dos outros pacientes passando pela pior fase da abstinência e nenhum deles, incluindo os próprios, chegava a incomodá-lo como aqueles que ele ouvia agora.
Nada como retornar ao doce lar... Bem, Cody não saberia dizer, pois nunca se sentira em casa ali. Também não achava que seus pais já tivessem. Talvez no início, quando Cody era ainda um bebê e eram tudo flores na carreira política do pai. Mas não agora. Não depois de perceberem que não se amavam mais, não depois das puladas de cerca de ambos os pais... Não depois das drogas. A mãe culpava o distanciamento do pai e o pai culpava a futilidade da mãe. Como se não fossem ambos distantes e fúteis em igual proporção. Talvez fosse por isso que se odiavam, eram parecidos demais.
O garoto estava considerando a ideia de fugir por algumas horas (já que estavam sob ordem expressa de não deixar a casa sem supervisão), quando percebeu o pacote na sua mesa. Era uma caixa pequena, quadrada, prateada com um laço branco amarrado à ela. Cody a examinou e, não encontrando nenhum tipo de identificação, desfez o laço e puxou a tampa. Encontrou três saquinhos com pó dentro e dois frascos cheios de pílulas.
Deveria jogar aquilo fora, afinal não sabia quem lhe deixara a caixa e estava somente a dois dias fora da reabilitação. Tinha que ser mais forte do que isso. Mas então ouviu o barulho de algo se quebrando no quarto dos pais e decidiu que foda-se.

~”~

Achou que conseguiria ser forte quando passou os dois próximos dias sem lembrar da caixa escondida em seu quarto. Mas então uma das empregadas lhe entregou o envelope. O envelope com a maldita foto.
Sabia que era melhor lidar com a situação sóbrio, que precisava falar com Rachel e encarar a situação com o pouco de dignidade que ainda lhe sobrava. Mas sua resistência estava rachando e tudo no que ele conseguia pensar agora era na caixa escondida no fundo falso do seu armário. A qual, pelo bilhete que acabara de receber, fazia uma ideia a quem pertencia.
Você passou muito tempo fora, precisava se inteirar dos fatos. O curativo eu já te mandei, espero que ainda o tenha. Bem-vindo de volta, G.

~”~

David estava virando o corredor, em seu caminho até o refeitório, quando foi brutalmente interrompido por um puxão que o fez bater com as costas na parede.
- Pra que essa violência? - ele olha indignado para o seu agressor, percebendo que na verdade se tratava de uma agressora: Rachel Martin.
- Foi você, não foi? - ela não parecia muito feliz, com a postura tensa e uma tempestade de raiva nos olhos escuros.
- O que aconteceu? - Dave já estava ficando assustado com aquela situação, mas então ela lhe empurra uma foto e quando ele vê a imagem de si mesmo beijando Rachel, ele entende tudo.
- Cody viu?
- É claro que ele viu! Você manda essa merda pra casa dele e quer que ele não veja?
- O que? Rachel, essa foto não é minha, eu não mandei isso pra ele! Eu nem sabia da existência disso aqui. Olha, se você quiser eu vou falar com ele, digo que você não...
- Não. Não importa mais agora.
Pelo seu tom David soube que estava tudo acabado. Rachel e Cody tinham terminado. A descoberta o deixou com uma sensação agridoce, estava feliz por ela ter se livrado daquele idiota, mas a tristeza em seu olhar acabou com ele. Thompson precisava descobrir quem mandou aquela foto para Cody. Tinha que lhe ensinar a não ficar se entrometendo na vida dos outros assim, principalmente na de Rachel.

~”~

Every time I'm drinking
Try to stop my thinking
About the things I've said and done
Stop the world from turning faster
Than I'm learning not to just hide and run

- Eu ainda não entendi, você gosta do David, pra que fazer Rachel e Cody terminarem?
- Pelo show, é claro. E se ela chegar perto do David de novo, eu posso tirá-la do caminho rapidinho. Que cara é essa?
- Você não pode ficar brincando com a vida deles assim. Acho que chegamos longe demais.
- Longe demais? Eu não estou nem perto de onde quero chegar ainda.
- Tem razão, você não matou ninguém ainda. Ah, espera, talvez esse seu próximo passo vá.
- Eu não tenho culpa se ela não sabe guardar segredos.
- Mas deve ter outras formas de faze-la aprender! Sério Brenda, você já colocou pessoas o suficiente numa cama de hospital!
- Eu não apontei uma arma na cabeça deles e os obriguei a fazer algo. Fizeram porque quiseram.
- Não faça isso.
- Ou o que? Você vai me denunciar? Porque, e eu sei que você sabe disso Emily, se eu cair, eu levo todos vocês comigo.

~”~

David perde o equilíbrio e cai mais uma vez do skate. Era a terceira em menos de dez minutos. Definitivamente ele não estava em um bom dia para aquilo. Resolveu parar e sentar em um dos bancos espalhados perto da pista de skate.
Tinha um embaixo de uma sombra bacana, mas não sabia se deveria se aproximar, afinal Jessica Everdeen estava sentada ali. Parecia agitada, balançando uma perna e girando o celular nas mãos.
A relação entre eles não era mais tao estranha, mas ainda assim ele não se sentia tao a vontade em falar com ela. Afinal, foram dois anos de relações cortadas.
Se considerasse essas variáveis, chegaria a conclusão de que era melhor ignorá-la e seguir com sua vida, já que tinha certeza que era isso o que ela faria, mas quando deu por si, já estava sentado ao lado dela, fazendo a pergunta de um milhão de dólares:
- Está tudo bem?
Jessica já o tinha visto se aproximando (estava observando-o desde quando chegara no parque), por isso não se surpreendeu em te-lo ali, mas estava tao presa em seus pensamentos que se fosse em qualquer outra situação, teria levado um susto. Chegava a ser engraçado até, na verdade. Ter a razão de seu conflito interno sentado ao seu lado lhe perguntando se ela estava bem. Sua situação deveria estar mesmo desesperadora para o garoto que fingia não saber de sua existência (a recíproca costumava ser verdadeira) estar lhe fazendo tal pergunta.
Com um suspiro e um tom que não convencia ninguém, ela optou pela saída mais segura:
- Está sim. E com você? - ela aponta rapidamente para o esfolado no braço de David, recém adquirido pela última queda.
- Meu equilíbrio resolveu me abandonar hoje. Muita coisa na cabeça, eu acho.
- Rachel?
Dave ficou vermelho na hora, mas o tempo que Jessica precisaria para se arrepender de tocar no assunto foi substituído pela confusão que se seguiu.
Um carro cantou pneu numa rua ali perto e a comoção foi instantânea. Os dois se olharam assustados e levantaram do banco, seguindo os outros pedestres até o local do barulho.
Um acidente, foi o que descobriram a se aproximarem. Jessica conseguiu dar uma olhada na rua e viu que, estirado no chão, no meio de todas aquelas pessoas, Joshua Campbell jazia inconsciente.
O celular em sua mão vibrou e, tremendo, a menina desbloqueou a tela, só para encontrar o motivo de todo aquele carma negativo em sua vida:
Quietinha você fica mais bonitinha e menos perigosa para as pessoas a sua volta.
Ela não precisou assinar, nem se explicar mais. Joshua estava pagando pela carta que Jessica mandara para Rachel no hospital.
Brenda passara de todos os limites.
Ainda em choque, Jessica se obrigou a sair dali. Já tinham chamado uma ambulância e ela não confiava em si mesma naquele estado perto de David. Ia acabar contando sobre a foto, a overdose de Rachel, tudo. É o que ela queria fazer há um bom tempo. E mesmo com a recente ameaça, ela não exitaria, estava cansada de tudo aquilo. Porém, o resultado não atingiria só a ela, e isso, ao contrário de todo o resto, ela podia evitar.

~”~

Quando Matthew recebeu a notícia, ele realmente achou que fosse uma brincadeira de mau gosto, ou que Emily estava zoando da cara dele. Brenda sofrer um acidente de carro e ir parar em estado grave no hospital era para ser uma notícia horrível, mas Matt não conseguiu frear o pensamento de que talvez ela merecesse isso, por todas as coisas que ela fez. Porém, se você parar para pensar, Fitch a ajudara em quase todas aquelas “brincadeiras”, logo, ele também merecia algo parecido? Não queria pensar nisso agora. Não podia.
Um acidente como esse poderia chamar a atenção, principalmente para onde o GPS de Brenda dizia que ela estava indo quando perdeu o controle da direção (para o QG do TheGossip). Matthew precisava sumir com as evidencias de que estavam ligados à ela. Talvez deixasse algo que “incriminasse” (entre aspas mesmo, porque não existe Lei direta para merda feita na internet) somente Brenda, isso talvez a fizesse parar com toda essa loucura. Porém, após fazer isso e chegar finalmente ao hospital, a visão de Emily chorando ao lado da mãe de Brenda e Jessica lhe balançando a cabeça negativamente, confirmaram que Brenda realmente não faria mais nada. Nunca mais.

~”~

Os três estavam assistindo o final da cerimonia mais para trás das outras pessoas presentes. Emily estava na lá frente, é claro, afinal era a sua melhor amiga ali naquele caixão. Alison achou que era mais sábio Jessie, Matty e ela não se aproximarem muito, visto que para todo mundo eles eram meros colegas de escola. Era melhor deixar desse jeito. Estava tudo acabado qualquer forma.
Mas então algo que ela só presenciava do outro lado lhe aconteceu. Seu celular tocou ao mesmo tempo dos de Jessica e Matthew. Nenhum deles sabia o que pensar quando leram a mensagem:
Não precisam ficarem triste, eu ainda estou aqui. E eu sei de tudo. Bem-vindos ao outro lado. Xoxo – G.
Porém, uma coisa era certa, ao ver a expressão surpresa de Emily os encarando lá da frente, Alison soube que aquilo ainda não tinha acabado.

But there's blood on my hands
Yeah, there's blood


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Salut! Finalmente saiu o último flashback, aquele com a coisa fofa do Cody (ou não).
Dois meses sem atualização é até um bom tempo no meu histórico, então comemoremos!
Espero que tenham gostado do pequeno remember. Aqui (cap. 34) e aqui (cap. 35).
Au revoir!
ps: se você sabe de onde é a imagem do início, vamos nos amar (e chorar junto)!