You’ll never change
what’s been and gone
Musica tema: Stop crying your heart out [Oasis]
Algo molhado passa pelo rosto de Vanessa, acordando-a. Ela
faz uma careta e abre os olhos, encontrando um pequeno cachorro preto lambendo
sua bochecha direita.
- Shadow! – Vanessa se senta e coloca o Pug no chão, que deita de barriga pra cima no tapete rosa no meio
do quarto. Ela solta um suspiro cansado pela bagunça de lenços de papel e fotos
picotadas espalhados pelo cômodo. Era melhor juntar tudo aquilo antes que
alguém visse.
Depois de dar uma geral no quarto e nela mesma, Vanessa olha
para o seu reflexo no espelho redondo da parede branca. Seus olhos estavam
inchados (resultado de todo o choro do dia/noite anterior), aquele uniforme
incomodava-a e a tinta preta em seus cabelos, de repente, não lhe agradava
mais.
Uma batida na porta é ouvida e Vanessa grita um “pode entrar”,
observando Shadow rolar feliz pelo tapete.
- Não vai descer? Vamos nos atrasar – Ashley diz num tom
mais calmo que o usual, enquanto a outra media sua roupa: o uniforme azul e
branco, meia 7/8 preta e uma bota de salto da mesma cor. Ela olha para o seu
reflexo mais uma vez: a única coisa de diferente era a meia-calça que usava por
baixo da mesma meia que a irmã. Assim ficava difícil fugir do fato que tinha
uma irmã gêmea.
- Já estou indo – a morena coloca sua bolsa no ombro, o
cachorro no colo e segue Ashley até a sala, passando pelo vão da porta no
momento em que ouve seu celular apitar dentro da bolsa.
Precisamos conversar. Por favor.
- É ele? – Vanessa balança a cabeça em afirmação à pergunta
da irmã. Ashley tira o celular de sua mão e o desliga, jogando-o de qualquer
jeito no sofá.
- Eu o ignorei o dia todo ontem, talvez...
- Não Vanessa! – Ashley corta sua frase ali, ficando de
frente para a irmã, com os braços cruzados, encarando-a séria. – Você é
boazinha demais, por isso ele fez o que fez.
- Com a sua melhor amiga ainda por cima – ela devolve num
tom seco. Não queria parecer grossa, mas aquela conversa já a estava irritando.
- Ex melhor amiga. Agora larga esse cachorro e vamos pro
colégio, não quero chegar atrasada e ter que encarar a cara cheia de rugas da
Sra. Hastings hoje.
Vanessa deixa o Pug preto em cima do mesmo sofá em que
estava seu celular. Ela joga o aparelho dentro da bolsa e segue a irmã porta
afora, xingando-se mentalmente por não ter inventado uma dor de barriga ou
qualquer outra coisa para ficar em casa. Não adiantaria, de qualquer forma.
Ashley perceberia que era uma desculpa para ficar embaixo das cobertas curtindo
uma fossa e aí sim que ela a obrigaria a ir. Por que era tão difícil para
Ashley entender que a irmã não era tão forte quanto ela?
#
Ele olha mais uma vez para as portas de vidro do hospital
que se abriam e mais uma vez não era
a pessoa que Raphael estava esperando. O garoto encosta-se na parede gelada
atrás dele, impaciente. Ela não podia fugir pra sempre.
E agora ela não iria nem se quisesse.
Vanessa passa pelas portas duplas automáticas do hospital,
desejando desesperadamente uma poção de invisibilidade, ou que tivesse tido
tempo de dar meia volta e se esconder dentro do prédio novamente antes que
aqueles olhos a encontrassem.
Ela se empenhou tanto em fugir daquele garoto no colégio (e
ligações, mensagens, avisos por intermediários...), mas pelo visto suas
intenções de escapar do inevitável terminavam ali.
Os dois andam lentamente um na direção do outro, como se
ambos soubessem o viria a seguir e quisessem adiar o momento o máximo que
conseguissem.
- Eu posso explicar tudo – Raphael começa assim que chegam
perto o suficiente.
- Eu não quero que você me explique nada, só me responda há
quanto tempo – Vanessa cruza os braços sobre o peito, parte por desconforto,
parte para se proteger do vento gelado que os rondava.
O garoto pisca duas vezes, não entendo o que ela quis dizer.
- Há quanto tempo o quê?
- Que você está me traindo com a Michelle – a garota
devolve, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo e ele fosse lento
demais pra sacar. Aquela frase (ou seria acusação?) deixou Raphael ainda mais
impaciente. Todos estavam fazendo uma ideia muito errada do que estava
acontecendo ali e, infelizmente, Vanessa era perita quando o assunto era
“seguir as massas”.
- É isso o que eu estou tentando te dizer: eu não estou te traindo com ela, ou com
nenhuma outra garota! – ele gesticula com as mãos, elevando um pouco o tom de
voz, o que faz com que algumas pessoas que passavam pelo local dirigissem seu
olhar a eles. Vanessa olha para trás, para a fachada do hospital, claramente
consciente de que estavam fazendo uma cena
e que seria bem ruim se algum conhecido visse aquilo. Então ela puxa Raphael
pelo braço para o ponto mais distante do fluxo de pessoas, parando ao lado do
chafariz recém-construído.
- Então por que você a beijou?
- Eu... – “não sei”.
Ele já havia se feito essa pergunta, mas nunca chegou a conclusão alguma. Por
que ele fizera aquilo afinal?
Ele talvez não soubesse a resposta, mas Vanessa tinha uma
leve noção:
- Você pode não estar me traindo fisicamente, mas aqui – ela
aponta o dedo indicar na testa do garoto. – você está. E isso não é justo com
nenhum de nós.
Raphael meneia a cabeça freneticamente em negação. Ele não
pensava em Michelle. Não tanto assim.
- Mas foi só um beijo!
- Dois, Raphael, que eu saiba!
- Não tiveram outros, eu juro!
- Um, dois, vinte. Não importa! Isso não muda o fato de que
você a beijou. E se você a beijou é porque você gosta dela. E se você gosta
dela, deveria estar com ela e não comigo.
- Vanessa... – o que ela queria dizer com isso? Mais uma vez
ele foi lento o suficiente para não perceber o óbvio:
- Acabou Raphael – simples, rápido e direto assim. O garoto
precisou de alguns segundos para processar a informação e quando o fez pensou
em contestar, mas já era tarde demais: Vanessa já estava longe. E ele ficou
parado ali, observando-a descer a rua em passos apresados, sem olhar para trás
uma única vez.
A garota permite que uma lágrima caia quando vira a esquina,
o que foi uma grande erro, pois outras começam a escorrer por seu rosto sem
parar e ela se vê obrigada a sentar num dos bancos de madeira dispostos em
frente ao restaurante ainda fechado pelo qual passava, secando-as da forma mais
discreta que conseguia, antes que virassem soluços incontroláveis.
#
Bruce balançava o rabo preto e branco alegremente, deitado
no tapete vermelho. Porém, ao contrário do cachorro, seu dono parecia com raiva
e tentava extravasá-la no saco de pancadas pendurado num canto de seu quarto.
Raphael estava consciente de seus dedos ardendo por dentro
das luvas, mas ele não se importava, pelo contrário: quanto mais suas mãos
reclamavam, mais socos ele distribuía. Ele só queria que fosse possível poder
nocautear a si mesmo.
- A cabeça de quem você está imaginando aí? – seu pai,
Jensen, encosta-se no batente da porta, observando o filho descontar toda a sua
raiva no objeto vermelho, que ia e voltava contra Raphael, que não o permitia
parar.
- A minha.
- E por que tanta raiva de si mesmo? – o mais velho agora
tinha os braços cruzados sobre o peito e o cenho franzido, pronto para ouvir
sobre a mais nova encrenca em que o garoto se metera.
- Porque eu sou um idiota – ele dá um soco ainda mais forte
no saco de pancadas. – Um imbecil – mais um soco. – Um filho da puta egoísta –
e outro soco que faz suas mãos arderem ainda mais.
- E se continuar com isso, você vai ser um idiota, imbecil e
filho da puta sem dedos – Jensen segura o objeto e faz um gesto para o garoto
parar. – Uísque também ajuda. Só não deixe sua mãe saber que eu estou te
incentivando a beber.
Raphael tira as luvas, jogando-as de qualquer jeito no chão
e, como era de se esperar, seus dedos estavam sangrando.
Bruce deita-se preguiçosamente entre a porta e o corredor,
tapando a passagem com seu corpo. Jensen olha para o Border Collie com uma
expressão séria, porém o divertimento estava explícito em seus olhos.
- Esse cachorro está com cara de quem aprontou. Onde está o
Simon? – ele pergunta ao filho, que revira os olhos, passando por cima do cão,
já que este não parecia que iria sair dali tão cedo. Raphael não responde a
pergunta, seu pai sempre insinuava que Bruce iria engolir o pobre gato a
qualquer momento, o rapaz por sua vez achava que era bem ao contrário: Simon era
um siamês com tendências homicidas e Raphael ainda tinha a cicatriz na barriga
para provar isso.
Ele segue o pai em silêncio até a sala de estar, onde se
acomoda na poltrona marrom em frente ao bar, de onde Jensen serve dois copos do
seu uísque preferido e entrega um deles ao filho logo em seguida.
- O que aconteceu?
- Vanessa e eu terminamos – ele responde entre um gole e
outro, sem dirigir o olhar para o homem sentado no sofá ao seu lado.
- Por quê?
Contar ou não contar?
- Porque eu beijei a Michelle – o estrago já estava feito
mesmo, pra que esconder?
- Michelle... Blackwell? – o garoto afirma com a
cabeça, olhando para o copo agora vazio em sua mão. Puta que pariu. Jensen olha para frente, com o cenho franzido,
tentando digerir aquela informação. – Você ficou com uma Blackwell mesmo depois
de tudo o que aconteceu com a mãe delas? – por falta de argumentos, o rapaz só
confirma com a cabeça mais uma vez e de novo tudo o que se passava na mente do
Sr. Duncan era: puta que pariu. Se
Mario descobre que a filha se envolveu com o garoto responsável pela morte de
sua esposa, o próximo a parar num caixão seria Raphael.
Oi.
ResponderExcluirEu sei que isso é chato, mas me ajuda a divulgar , segui e se puder acompanhar a historia e comentar?
http://tudoqueeumaisqueroevoce.blogspot.com.br/
http://iloveyouforevermylove.blogspot.com.br/
Comecei ontem.