Música tema: Sick Little Games [All Time Low]
“We're all part of the same sick
little games and I need to get away”
Harry pensara nas possibilidades milhares e
milhares de vezes. Será que aconteceria alguma coisa se ele
contasse? O que aconteceria se ele contasse? Nunca parou para
pensar profundamente nisso porque nunca realmente pensou em contar.
Quando perdeu o controle da direção
numa curva e seu carro capotou na pista, tudo no que pensou antes de
perder a consciência era que ele nem havia contado ainda. E
nunca iria.
~”~
Alison não
podia acreditar. Ela viu acontecer, mas não podia acreditar.
Não
tinha como aquele acidente ser mais inconveniente! Tudo bem, talvez
essa não fosse a palavra e ela estivesse sendo um pouco
egoísta ao pensar daquele jeito, mas poxa! Harry tinha que
sofrer um acidente justo minutos antes de finalmente lhe contar seja
lá o que ele tinha para dizer sobre G?
Está
bem: Alison estava
sendo egoísta. O acidente foi muito feio e ela duvida que
Harry estava bem, e tudo no que ela conseguia pensar era que não
teve a chance de descobrir o que ele sabia. Egoísta, certo,
podemos seguir em frente.
Ainda
tentando processar o ocorrido, Alison sai a procura de Jessica.
Precisava lhe contar sobre isso. Era muito estranho, muita
coincidência que isso acontecesse justo agora. Será que
foi realmente um acidente? Se o que Harry tinha para lhes dizer era
mesmo sobre G, será que ela deveria tratar o fato como um
acidente?
Poderia
discutir isso com Jessica assim que a encontrou, porém elas
não puderam falar o que realmente pensavam, pois David estava
ali com elas e era melhor não o meter nessa situação.
Mas pelo olhar que Jessie lhe mandara, Ali soube que a amiga também
estava tendo a mesma dúvida.
~”~
Dakota
observava o garoto pelo vidro da janela, ele parecia melhor. Ela, ao
contrário, estava acabada. Não conseguira pregar os
olhos à noite, preocupada com o estado de Harry. A cena de seu
carro perdendo o controle se repetia em um loop
infinito na sua cabeça. Dakota preferia pensar que toda a sua
preocupação era coisa de amiga, mas talvez, e só
talvez, ela estivesse se deixando levar demais por seja lá
qual for a relação que eles tinham. Por Deus, ela tinha
acordado às sete da manha de um feriado só para ir
vê-lo!
Tudo bem
que “acordado” era superestimado, já que ela não
dormira de fato, e bem, isso por si só já era
preocupante. Dakota não podia deixar isso acontecer. Ele
gostava de outra e em poucos meses ele iria para a faculdade,
enquanto a loira ficaria ali, presa por mais três anos ao
Ensino Médio. Ela não podia lidar com mais uma pessoa
com quem ela se importava a abandonando, e aquele acidente lhe serviu
muito bem para lembrá-la disso.
~”~
- Eu ainda
acho que foi muita coincidência.
Alison e
Jessica observavam a fachada do hospital, de dentro do carro da
loira.
- Bem –
Jess arruma seu cachecol em volta do pescoço, preparando-se
para encarar o vento do lado de fora. – o TheGossip também
não acha que foi só um acidente.
- Como
assim? Espera! Você lê aquela merda?
- Eu não,
mas o David estava meio nervoso por causa de uma enquete que anda
rolando por lá. Ela pede pra você votar se acha que o
culpado foi o Nick, por causa da mãe dele e da Alexandra, ou
se foi o Raphael, por causa da Michelle e da Dakota.
É
incrível como o laudo da perícia nem saiu ainda pra
confirmar o que deu errado no carro, mas mesmo assim já tem
pessoas prontas para bancarem o júri. Exatamente como aqueles
programas policiais/jornalísticos sensacionalistas que saem
julgando todo mundo a torto e a direito.
- Nick
nunca faria uma coisa dessas! - será que ele sabia sobre essa
enquete? Alison faz uma nota mental pra se lembrar de falar com ele
depois. - E também não acho que o Raphael chegaria à
tanto...
- Não.
Parece extremo demais. Bem coisa de G mesmo.
As duas
fecham suas jaquetas e descem do carro, andando em direção
à porta do hospital. Precisavam falar com Harry antes que o
horário de visitas acabasse. Só esperavam que as outras
visitas tivessem ido no horário da manhã e que agora,
já no fim da tarde, ele estivesse sozinho no quarto.
Não
estava, porém. Sua tia continuava ali, mas graças a
Deus ela os deixou a sós assim que as meninas chegaram.
- Como
você está? - ele tinha um braço e uma perna
engessados e agulhas perfurando o outro braço, Jessica
realmente não sabia por que tinha feito aquela pergunta.
-
Melhorando. - Hazz dá de ombros, já tinha perdido a
conta de quantas vezes respondera aquela pergunta desde que acordara.
Oitenta por cento das vezes, foi para a sua tia.
- Que bom.
– Alison estava sendo sincera, mas a sua postura apresada a fez
soar um pouco rude. Nada de muito diferente, tratando-se de Alison. -
Sobre a mensagem que você nos mandou...
- Não
era nada. Na verdade eu nem lembro o que eu queria dizer. – Harry
desconfiou que era por isso que elas estavam ali no momento em que as
viu cruzar a porta. Na verdade, ele pensara sobre esse assunto por
uma boa parte do dia e já tinha chegado a uma conclusão.
- Esqueçam isso.
Elas
sabiam que isso poderia acontecer, que ele também desconfiaria
que aquele acidente tinha sido coisa de G e mudado de ideia sobre
contar o que ele sabia, porém ter a confirmação
dessa hipótese foi como um banho de água fria pra elas.
- Tem
certeza Harry? - Jessica o pegunta uma última vez, deixando
claro no seu olhar que elas sabiam o que ele estava fazendo e que
estavam lhe dando uma chance para reconsiderar.
- Tenho. -
ele percebeu, mas já tinha tomado sua decisão e não
tinha divindade no céu ou demônio no inferno que o
fizesse mudar de ideia. - Não era nada.
~”~
Matthew as
estava esperando quando elas chegaram à casa de Jessica. Antes
de ir ao hospital com Alison, ela ligara para o garoto e o deixara a
par de toda a situação com Harry, logo ele também
estava super curioso para saber qual era o envolvimento de Jones com
G. Infelizmente, descobriu que teria que conviver com a dúvida
quando as meninas lhe contaram sobre a decisão de Harry.
Matty não
o julgava, no entanto, pois se estivesse no seu lugar faria a mesma
coisa. G deixara bem claro que não o pouparia se ele abrisse a
boca e se o menino fosse esperto e tivesse amor a vida, ele acataria
com os termos sem pestanejar. Porém, Matty tinha que confessar
que ficara um tanto quanto decepcionado. Se Harry lhes contasse algo
grande, Matthew esperava que eles conseguissem ficar mais próximos
de saber quem é G e acabar com essa história de vez.
Mas, pelo visto, ela continuaria atormentando suas vidas e os
tratando como marionetes de seu show particular por mais um bom
tempo.
~”~
Harry
detestava ter que passar a noite num hospital, por isso sua cara de
desgosto ao descobrir que teria que ficar aquela madrugada ali em
observação não foi grande surpresa. Em
observação. Como se não tivessem feito isso o
dia inteiro. Ele poderia reclamar um pouco mais se não
estivesse tão cansado. Aquele foi um 1º de janeiro muito
estranho. Ainda bem que Hazz não tinha superstições
de ano novo, ou ficaria um pouco preocupado com o ano que teria pela
frente.
Foi um dia
estranhamente agitado, apesar de ele não ter se movido um
centímetro (claro, se você não contar as
experiências traumatizantes de hospitais, como ter que tomar
banho com a ajuda de enfermeiras e da sua tia). Sua mente ainda
estava tentando processar todos os acontecimentos, ele estava achando
a tarefa particularmente difícil porque cada um deles lhe
proporcionava emoções diferentes.
Optou por
recapitular o seu dia em ordem cronológica, como sempre fazia
antes de dormir, pra ter certeza que não tinha esquecido nada.
Primeiro, ele estava um tanto intrigado pelo o que sua tia lhe contou
logo que ele acordou pela manhã. Dakota esteve ali desde o
início do horário de visitas até o momento que
soube que ele acordara, mais de uma hora depois, e sem lhe dar nem
sequer um “oi”, ela foi embora, assim sem mais nem menos. Qual
era o ponto em ficar todo aquele tempo ali (na manhã de um
feriado), se assim que ele acordou e eles poderiam conversar, ela vai
embora?
Ele a
mandou uma mensagem quando seu tio chegou com o seu celular, mas ela
não o respondera, o que era esquisito, já que os dois
estavam sempre trocando mensagem, mesmo quando era desnecessário.
Harry
poderia ter dado mais atenção a esse fato, se o seu
quarto não tivesse virado um entra e sai de pessoas conhecidas
e de enfermeiros o dia todo. Ele poderia achar aquilo ruim, mas então
Alexandra passou pela porta e ele entendeu o sentido daquela frase
“há males que vem pra bem”, porque, poxa, era a Lexie, bem
ali na sua frente, toda preocupada com
ele... Tudo bem, hora de
admitir: Harry estava se tornando sadomasoquista. Porque não
tinha outra explicação para o fato de ele se negar
seguir em frente e esquecer de uma vez dessa sua paixão não
correspondida (o tipo de paixão mais comum e mais filha da
puta, verdade seja dita). Mas é óbvio que a sua alegria
não ia durar muito, porque é claro que ela tinha que se
despedir dizendo que estava indo ver Nicholas, a.k.a., O Namorado™.
Não
teve muito tempo para se afundar na fossa porém, porque logo
quem ele imaginou que apareceria, realmente apareceu. Indiretamente,
o motivo de ele estar naquela cama de hospital: Jessica Everdeen e
Alison Fitzgerald.
Harry
preferia ter os dois braços arrancados à admitir que
estava com medo de abrir a boca, mas ele estava. Muito. Então
não, ele não se arrependia de ter ficado quieto sobre
tudo o que ele sabia. Aprendera sua lição.
A única
razão do que o incomodava de verdade foi visitá-lo na
manhã seguinte. Pra falar a verdade, Harry nem achou que ele
fosse, mas lá estava: Taylor Holdman, encarando-o ao lado da
porta (fechada, é claro. Aquele não era um assunto pra
qualquer um ouvir).
- Fico
feliz em saber que você está bem.
- Não
graças à você, não é? Sabe, eu
realmente pensei ter ouvido você dizer que éramos
amigos, mas devo ter confundido a palavra.
- Eu não
sabia sobre isso. Juro! Mas você tem que admitir que o que você
fez foi bem estúpido. No que você estava pensando?
Perfeito!
O cara achava que estava no direito de dar bronca em Harry! Sabe o
Harry? Aquele seu suposto amigo que estava todo engessado numa cama
de hospital? Pois então...
- Não
importa mais. O que disseram?
- Que
vocês estão bem. Quer dizer, mais ou menos. Confiar
desconfiando, sabe como é.
- Certo.
Pode ir agora.
- Eu não
sabia Harry, é sério.
-
Tudo bem. - mentira, não estava. E Hazz nem sabia se Taylor
estava falando a verdade, e mesmo se estivesse, ele estava puto com
toda aquela situação e Taylor parecia um ótimo
bode expiatório
no momento.
- Ok. -
Taylor também não parecia muito alegre, talvez porque
não estava acostumando com pessoas o destratando. Harry não
podia se importar menos. - Eu já vou então.
Vai tarde.
“Losing it all on these sick
little games”