domingo, 19 de abril de 2015

Doce Sacrifício - Capítulo 33 [Wonderwall]

Musica tema: Wonderwall [Oasis]

Today is gonna be the day That they're gonna throw it back to you By now you should've somehow Realized what you gotta do don't believe that anybody Feels the way I do about you now 

– Um ano atrás – 

Raphael se sentia assombrado. Assombrado por aquelas imagens que se repetiam em sua cabeça todas as vezes que ele fechava os olhos. 
Ele não conhecia Thea Blackwell, mas isso não fazia a culpa diminuir. Muito pelo contrário, ela estava sempre lá, como uma sombra constante às suas costas. Mas é claro que nada disso se comparava com a possibilidade de ir parar em alguma casa para adolescentes delinquentes. Essa não era uma opção, por isso Jensen Duncan usou de toda a sua influência e poder para conseguir no máximo alguns meses de serviço comunitário para o filho. E como esperado, logo veio a sentença do juiz: Raphael Duncan trabalharia como voluntário na ala infantil de um hospital especializado em câncer de Los Angeles como pena por ter apostado corrida ilegal nas ruas e por ter matado Thea Blackwell. 
Quando chegou ao hospital (mais de vinte minutos depois do horário), deu de cara com Vanessa Stonem o esperando com um jaleco branco na mão e uma cara nada amigável. 
- Vanessa? – ele estava um pouco surpreso. O que a garota estava fazendo ali? Ela sabia sobre ele? 
- Está atrasado. – ela joga o jaleco para o garoto, que ao pegá-lo nas mãos, descobre que havia alguns desenhos de animaizinhos nele. 
Era só o que lhe faltava. 

~”~  
Back beat, the word is on the street That the fire in your heart is out I'm sure you've heard it all before But you never really had a doubt I don't believe that anybody feels The way I do about you now 

Duas semanas depois, Raphael já estava se apegando àquelas crianças o suficiente para começar a sentir a tensão que era lidar com pessoas tão jovens com câncer. Dois dias atrás, uma delas não conseguiu e foi levada pela doença. E ele se pegou fumando no estacionamento, uma lágrima solitárias escorrendo pela bochecha e sua armadura de indiferença danificada. 
Seu trabalho ali se resumia em contar histórias, tocar música e apresentar teatrinhos para as crianças. Ele realmente odiou a ideia no início, mas agora ele até que estava contente por ajudar aquelas crianças a terem momentos alegres para distrai-las do sofrimento e tédio que era ficar em um hospital. 
Descobrira em seu primeiro dia ali que Vanessa era uma voluntária também e a encarregada de supervisiona-lo. Graças à Deus ela não sabia o porquê de ele estar ali, sabia que foi por ordem de um juiz, mas como era informação sigilosa e Raphael não falaria disso nem sob tortura, a garota estava totalmente no escuro sobre o assunto. 
Raphael se sentia no escuro em relação a ela também. Ele tinha a estranha sensação de que havia algo de errado com Vanessa, e não saber exatamente o que era estava deixando-o nervoso, apreensivo. Esse sentimento durou por duas semanas, até ele se dar conta do que estava acontecendo. Ainda era só uma suspeita, mas ele tinha quase certeza de que era isso. Ele só não sabia como abordar o assunto. 
Por isso passou mais alguns dias só observando Vanessa quase desmaiar de fome, fingindo-se ocupada demais para fazer uma pausa e ir comer alguma coisa na lanchonete do hospital com ele. Além de suas pontuais idas ao banheiro após almoçar (uma quantidade mínima) no colégio. Estava praticamente escrito na cara dela o que ela fazia, mas Raphael parecia o único ali a ter percebido. 
Como não sabia o que fazer com a informação, decidiu pela saída mais fácil: contar para a irmã-gêmea da garota, Ashley. Não achava que ela fosse fazer algo, já que estava ocupada demais fazendo compras com Cassandra, Michelle e Nicole, mas decidiu tentar. O que ele não sabia, no entanto, era o quanto Ashley se importava com a irmã. 

~"~
And all the roads we have to walk are winding And all the lights that lead us there are blinding There are many things that I would Like to say to you But I don't know how Because maybe You're gonna be the one that saves me And after all You're my wonderwall 

Um mês após começar o serviço comunitário, Raphael finalmente conseguiu chegar antes do horário e estava fumando em frente ao hospital, perto da entrada da ala de câncer (que ironia) quando Vanessa chegou como um furacão até ele, empurrando-o para trás pelo peito. 
- Qual é a tua? - outro empurrão. - Você não tem direito algum de se meter na minha vida desse jeito! 
Nessa altura do campeonato, ela já o tinha feito derrubar a bituca de cigarro no chão, deixando suas mãos livres para segurar as da garota, que começara a estapeá-lo. 
- Ashley falou com você então. 
- Por que fez isso? Por que contou pra ela? Mas que merda, Duncan! 
- Eu só estava tentando te ajudar. 
- Me ajudar? - Vanessa percebe que estava se sobressaltando e então se concentra em sua respiração, tentando se acalmar. - Eu não preciso de ajuda. Não tem nada de errado comigo. 
O garoto segura as mãos dela nas suas, fazendo um carinho involuntário nelas com os seus dedos. 
- Vanessa... 
- Não, Raphael! - ela se solta, afastando-se dele. - Eu  falando sério, não se meta! 
Vanessa então lhe dá as costas e entra no hospital. Mas se a garota achava que Raphael ia deixar isso terminar assim, ela estava muito enganada. 

~”~  
Today was gonna be the day But they'll never throw it back to you By now you should've somehow Realized what you're not to do don't believe that anybody Feels the way I do About you now 

Vanessa seca discretamente uma lágrima solitária que escorreu de seu olho, após sair do quarto que Kate, uma garotinha de doze anos, chamava de seu desde os oito. Era a primeira vez que a menina ficava num estado consideravelmente ruim desde que Vanessa começara a trabalhar ali e isso estava acabando com ela. 
Raphael aparece na sua frente, estendendo-lhe uma barrinha de cereal, e estampando uma expressão séria no rosto. 
- O que é isso? 
- Seu lanche. Eu sei que você não está acostumada a comer muito, então essa barrinha vai me contentar por enquanto. 
- Desculpe, posso saber por que você está falando como se eu fosse aceitar isso aí? 
- Porque você vai. 
- Ou...? 
- Ou eu entro nesse quarto e conto uma história sobre certo acampamento de quatro anos atrás que eu tenho certeza que Kate vai adorar. 
- Você que não se atreva! 
- Quero ver qual é a criança que vai te respeitar depois dessa. 
O sorrisinho de vitória no rosto de Raphael estava irritando Vanessa e ela não queria perder aquela “discussão”, mas ela não podia permitir que Raphael saísse espalhando suas histórias vergonhosas por aí. Então, num jeito meio raivoso e mal-educado, ela pega a barra de cereais da mão dele e a abre, dando uma mordida diminuta e demorando meio século para mastigar e engolir. 
Raphael, percebendo a enrolação da garota, revira os olhos e cruza os braços, voltando com sua expressão de sargento. 
- Come isso feito gente, Vanessa! 
A garota lhe dá língua, mas morde decentemente o alimento dessa vez. Estava mentindo para si mesma que não estava com fome durante a tarde toda, então quando percebeu, a barra já tinha virado história. 
- E nem pense em ir ao banheiro nas próximas duas horas. Eu estou de olho. 
~”~ 

And all the roads that lead you there were winding And all the lights that light the way are blinding There are many things that I would like to say to you But I don't know how said maybe You're gonna be the one that saves me And after all You're my wonderwall 
“Sinto muito. 

Infelizmente isso é tudo o que eu posso oferecer. Mas você também foi a culpada! Desde quando você tem esse instinto suicida? Tinha o suficiente para dias naquela caixa e você consegue acabar com tudo em uma hora? O que Cody andou lhe ensinando? 
Certo, me desculpe. Eu só me sinto um pouco culpada por ter te colocado nessa situação. Queria que ela se sentisse culpada também, mas nós sabemos que isso não vai acontecer. E espero que saiba que o que vai acontecer a partir de agora, é responsabilidade tua. Afinal, lhe demos a caixa, mas ninguém te obrigou a tomar. 
Aprenda a se controlar Rachel Martin! 

Com amor, 
Não G.” 

~”~  
said maybe You're gonna be the one that saves me And after all You're my wonderwall 
No dia seguinte, Rachel tem alta do hospital, mas descobre que estava suspensa do colégio por duas semanas. A Diretora queria expulsá-la, mas seus pais conseguiram convencê-la a deixar Rachel no colégio (nada que uma doação bem generosa não resolva). Rach não tinha mostrado a carta para ninguém e nem pretendia fazê-lo. Se ao menos tivesse uma pista de quem a escreveu, poderia usar como prova, mas na real situação, isso não a ajudava em nada. Ao menos agora sabia que G não estava sozinha. O que era ainda mais sinistro, pois podia ser qualquer um em qualquer lugar, um grupo de amigos ou pessoas aleatórias por aí. Era quase impossível descobrir a verdade. 
Então a morena deixou isso de lado e preferiu focar no fato de que aquela tragédia toda (e o castigo “pra vida toda” que seus pais lhe colocaram) serviu para alguma coisa: agora Lexie estava mais calma (e um tanto frágil pelo ocorrido) e aceitou conversar com a amiga. No final elas se acertarem e até Nick conseguiu sua segunda chance com Lexie. 
Um final tranquilo e feliz para aquele drama todo. Era uma pena que essa foi apenas uma das milhares de voltas na montanha-russa de suas vidas no High School. 

said maybe You're gonna be the one that saves me You're gonna be the one that saves me You're gonna be the one that saves me” 


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Obs.: a formatação do quote (a música) está louca, sorry :/

Hey guys! Consegui postar conforme o meu cronograma! Mais feliz que pinto no lixo aqui haha '
Esse capítulo ficou curtinho, mas é que não tinha muito o que dizer sobre ele, era só uma conclusão para o flashback anterior. E pra quem gostou desse "remember", tem mais dois flashbacks a caminho, então aguardem :)
O próximo pode demorar um pouco mais por motivos de a) meu tempo está extremamente corrido e apertado e b) esse capítulo tem umas tretas meio complicadas, tenho que pensar bem em como elas vão acontecer.
No mais, espero que gostem desse capítulo e aqui estão as respostas do anterior.
~Chu.