Música tema: Secret [The Pierces]
“I gotta a secret, can you keep
it?
Swear this one you will save
Better lock it in your pocket
Take this one to the grave”
O vento do inverno passou morbidamente frio por
Jessica quando a morena saiu de casa, mas ela estava com pressa
demais para se importar com algo tão banal quanto o clima. Era
um pouco passado das nove da manhã e a garota já estava
correndo até a casa de Alison. Devia estar fazendo uns oito
graus e tudo o que Jess queria era estar dormindo em sua cama. Porém,
ao invés disso, já estava tendo um começo de dia
bem agitado e, apesar do frio, suas mãos estavam suando em
antecipação.
Estava nervosa, muito nervosa.
Seu celular toca mais uma vez e ela nem precisa
tirá-lo do bolso da calça para saber que era Alison.
Ela também devia estar nervosa. E tudo isso por culpa de uma
simples mensagem.
Alison já a esperava em frente a sua casa
quando Jess apontou no fim da rua. Sem dizer palavra, as duas seguem
até o quarto da loira, sem saberem ao certo o que fazer agora.
Ali então decide tentar ligar para o garoto novamente.
- Pra quem você está ligando? -
Jessica senta na cama da amiga, a respiração ainda um
tanto descompassada pela corrida.
- Pro Harry, mas ele não atende!
- Se ele quisesse falar com a gente agora, não
teria mandado a mensagem e não taria nos fazendo esperar o dia
inteira.
- Eu sei, mas se é o que estamos pensando,
nós precisamos falar com ele!
- E nós vamos. À noite, no E-Zine.
Só tenha paciência, Ali. - Jess sabia que nem ela mesma
acataria àquele seu conselho, mas Alison sempre foi melhor que
ela para manter a calma em situações difíceis.
Se Alison perdesse a calma também, é porque a coisa
estava realmente séria. E Jessica precisava de uma confirmação
de que a coisa não era tão séria assim, ou ela
iria pirar.
As duas estavam sentadas na cama, roendo as unhas
em silêncio, com a mensagem que receberam de Harry Jones
ecoando em suas cabeças.
“Me encontrem atrás do galpão da piscina depois da minha corrida, precisamos conversar sobre vocês-sabem-quem.”
~”~
A lua crescente não podia ser vista no seu
céu na noite daquela terça-feira. Estava chovendo em
Los Angeles e as nuvens pesadas impediam a visão de qualquer
astro mais próximo. Os pingos de chuva batiam com violência
contra o vidro das janelas de seu carro, estacionado numa rua mal
iluminada qualquer.
O garoto só tivera tempo de comprar seus
cigarros e voltar para o seu carro (na verdade, de seu tio) para o
dilúvio começar. A nova lei proibia menores de 21 anos
de comprar cigarros ou qualquer outro produto relacionado diretamente
com tabaco, mas o que uma identidade falsa não conseguia, não
é mesmo? E o homem por trás do balcão do pequeno
estabelecimento não parecia muito interessado em checar a
procedência daquela identidade, de qualquer forma. Se percebeu
que Harry não tinha a aparência de alguém com
mais de vinte e um anos, fez questão de ignorar.
Agora o moreno estava sentado no conforto de seu
carro, tragando um cigarro preguiçosamente, enquanto esperava
a chuva dar uma acalmada. Sua mais nova “missão” estava no
porta-malas, impressa em uma folha branca A4. Ele nem sabia mais por
quê estava fazendo aquilo. No início era divertido, e
ele recebera a promessa de que ficaria com a garota. Agora a garota
estava o mais longe possível de ser dele e aquilo não
era mais divertido. Era errado, muito errado.
Porém, estava demasiado tarde para ele
desistir. Nunca o deixariam sair agora que sabia de tanta coisa.
Aquilo lá mais parecia a máfia italiana às
vezes. Enquanto observava a fumaça se desfazendo no teto, o
moreno se perguntava o que deveria fazer, porque compactuar com
aquela brincadeira não lhe parecia certo, especialmente
depois de ler o que estava escrito naquele papel em seu porta-malas.
Harry se estica para pegá-lo no pequeno
compartimento e, envolto numa coragem lesiva, ele rasca a folha em
pequenos pedaços, abre um pouco de sua janela e joga os vários
pedaços de papel na rua, junto com a bituca de seu cigarro,
observando-os ficarem encharcados pela água da chuva. A
intensidade desta estava diminuindo e ele resolveu que estava na hora
de voltar para casa, antes que sua tia ficasse muito preocupada com
ele.
O garoto tinha dez anos quando o câncer
levou a sua mãe e treze quando o pai também morreu, mas
Harry sabia que ele já tinha ido muito antes, levado pela
depressão que o acometeu após a morte de sua esposa.
Desde então o garoto passou a morar com os seus tios, Ethan e
Rose Jones. Eram pessoas muito boas e tratavam o sobrinho como o
filho que eles nunca poderiam ter. Harry gostava bastante deles e não
queria nem pensar o que eles achariam se descobrissem no que ele
estava metido.
Passou o caminho inteiro pensando no que fazer e
quando estacionou em frente à casa, ele já tinha a
resposta. Não se incomodou em disfarçar o cheiro de
cigarro do carro, seu tio também fumava e o veículo
estar cheirando a nicotina era normal. Harry tinha quinze anos quando
pegou um cigarro do tio sem que ninguém percebesse e o fumou
escondido pela primeira vez. Não parara desde então.
Agora, aos dezoito, se arriscava também em coisas um pouco
mais pesadas e ilegais.
A luz da sala estava acessa e ele sabia que era a
sua tia esperando por ele. O garoto sopra o ar na mão para
checar se a bala de menta tinha cumprido com o seu papel e então
abre a porta. O cheiro na roupa ele podia dizer que vinha do lugar
onde estava com os amigos. Odiava mentir para os tios, mas não
estava nem um pouco a fim de levar uma bronca agora, porque seu tio
podia fumar, mas para o garoto esse ato era estritamente proibido. Se
ao menos eles soubessem...
Estava certo, afinal. Sua tia estava na sala
assistindo televisão, mas ficou bem claro para Harry que
aquilo era apenas um disfarce quando ela a desligou assim que o
garoto passou pela porta.
- Você veio nessa chuva?
- Não está mais tão forte. -
ela estava andando em sua direção e ele,
disfarçadamente, se afastando dela. Uma pena que não
adiantou em nada.
- E esse cheiro?
- Taylor também adquiriu o péssimo
hábito do tio Ethan. - o garoto dá de ombros, com uma
carinha de inocente que sempre enganava a tia. Ele era um ser humano
desprezível.
- É uma pena. Mas agora vá dormir,
está ficando tarde. - a mulher lhe dá um beijo na testa
e segue em direção ao seu quarto. - Boa noite, Hazz.
- Boa noite, tia.
Quando Harry acordou naquela manhã de
trinta e um de dezembro, surpreendentemente, aquela coragem perigosa
que o fez picar os planos de G dirigidos à ele ainda estava
lá, e quando percebeu, já tinha apertado o botão
“enviar” em seu celular.
Depois disso, passou o resto do dia completamente
tenso, esperando que a qualquer momento algo de mau lhe acontecesse,
que G fizesse alguma coisa de ruim contra ele, para puni-lo pela sua
boca grande. Por que mesmo ele enviou aquela mensagem? Bem, agora era
tarde demais para arrependimentos, teria que seguir com seu plano
suicida até o fim. Talvez aquilo desse certo e tudo terminasse
bem. É, talvez...
~”~
O E-Zine era um ótimo lugar para se estar
na virada de ano novo. Ficava em um ponto alto da cidade, em uma
colina. A visão panorâmica do lugar era bem ampla e, se
não fosse pela poluição que pairava no ar,
criando uma neblina cinza, seria possível ver metade de Los
Angeles dali de cima.
Por esse motivo, o E-Zine ficava ainda mais
lotado nesse dia, o que era ótimo para os negócios da
família Avery.
Chovera a semana inteira, mas naquele trinta e um
de dezembro estava fazendo uma bela e limpa noite, com a lua
crescente e as estrelas iluminando a colina. Lá de baixo era
um pouco mais difícil de se enxergar as estrelas no céu
por causa de todas aquelas luzes artificiais, mas dali de cima, até
que era uma bela visão.
No início, o E-Zine era somente um
autódromo mais afastado da movimentação da
cidade, mas logo começou a englobar também outros
esportes e agora era um grande clube do qual a maioria dos estudantes
do Roundview High School era sócia. Suas famílias
visitavam o clube nos finais de semana, mas durante à noite o
lugar era majoritariamente preenchido por adolescentes, atraídos
pela falta de vizinhança e policiais vigiando cada passo. A
segurança do clube também era bem negligente, mas
ninguém parecia se importar.
Naquela noite em específico, todos os
veteranos do Roundview estavam ali, até mesmo Emily, com
Matthew e Vanessa a tira-colo, é claro. De todos, ela era
provavelmente a única com babás pegando no seu
pé. Mas antes isso do que ficar em casa trancada, como ela
passava a maioria de seus dias. Podia ir para o colégio, mas
nem morta ela pisaria naquele lugar de novo, não com aquela
barriga pelo menos, e ficar vagando sem rumo pelas ruas não
parecia muito sábio. Por causa de seus maus hábitos
ilegais sua gravidez era de risco, então andar sozinha por aí
não era uma opção. Ao menos ela tinha sua melhor
amiga para lhe fazer companhia. E Matthew, por mais estranho que isso
parecesse.
~”~
Quando David voltou da sua ida para buscar a
segunda garrafa de cerveja, encontrou Jessica exatamente do mesmo
jeito que a tinha deixado: sentada no murinho, encarando Joshua, o
mais discretamente que conseguia, sem nem ao menos piscar.
- Tira uma foto, dura mais. - o garoto divide o
conteúdo da garrafa em dois copos de plástico e quando
estende um deles para a amiga, percebe que ela estava olhando para o
garoto moreno mais a frente com o cenho franzido, como se estivesse
tentando montar um complicado quebra-cabeça.
- Cadê a grudenta da Naomi?
- Por que não aproveita a chance para ir
lá falar com ele? - Jess quase engasga com a bebida e o olha
como se uma segunda cabeça tivesse nascido em seu pescoço.
Dave revira os olhos. Sério que depois de todo esse tempo ela
ainda acha que pode enganá-lo? - Eu sei que você quer.
A garota solta um suspiro derrotado, olhando para
o copo de plástico em sua mão com desânimo.
- Não posso.
- Por que não? - ela não responde,
só remexe os ombros, não muito a fim de entrar em
detalhes. – Eu ainda não entendi por quê você
não explicou o lance daquela foto nossa pra ele.
- Eu só não queria envolvê-lo
nessa história toda de G. Queria deixá-lo longe disso.
Dave começa a rir, uma risada meio rouca e
sarcástica. A garota estava olhando para ele como se avaliasse
qual era a sua doença mental de novo, então ele logo
explica o motivo da risada:
- Se você acha que Naomi tem alguma coisa a
ver com isso, então já é tarde demais.
- Eu não tenho certeza disso, é só
um palpite.
Há um pequeno silêncio depois disso,
com o qual Jessica assume que o assunto foi encerado, mas então
David externiza o pensamento que rondava sua cabeça toda vez
que via o Campbell:
- Talvez ele esteja mais envolvido do que você
pensa.
- Está falando isso pelo o que aconteceu
no halloween?
- Você tem que admitir que aquilo foi
suspeito. Você foi atrás de mim e ele saiu ileso. A
ideia não era alguma coisa acontecer com aquele que não
fosse “salvo”?
- Talvez tenha acontecido. Pode ser que a
consequência fosse ele se aproximar de Naomi. E eu não
fui atrás de você, estava a procura dos dois, te
encontrei primeiro por acaso.
Na verdade, ela tinha esperança de
encontrar Joshua antes. Ela foi até onde Matthew disse ter
visto Joshua com Taylor (o que ainda era estranho pra ela, pois os
dois não eram amigos), mas tudo o que encontrou foi David na
sala ao lado. Não contara isso pra ele porque daí sim
ele desconfiaria de Joshua de verdade, já que o garoto foi
supostamente visto na “cena do crime”.
- Obrigado pela parte que me toca.
Não contara isso antes também para
não magoar os seus sentimentos, e quando ele soltou
aquela frase, ela ficou um pouco preocupada que o tivesse feito, mas
sua voz estava com um leve tom sarcástico e ele ostentava um
sorriso divertido no rosto. Talvez ele já soubesse disso até,
afinal era David. Mesmo que eles tivessem cortado relações
por dois anos, Thompson ainda a conhecia melhor do que qualquer um.
Às vezes, até melhor do que ela própria.
~”~
A cada toque compartilhado, o coração
de Joshua apertava um pouquinho. Jessica e David estavam a uma
distância razoável dali, sentados numa parte do baixo
murinho que dividia o estacionamento da pequena quadra de basquete.
Eles trocavam abraços, risadas e conversas ao pé do
ouvido que faziam o estômago do moreno embrulhar.
Joshua decidiu parar com seu momento masoquista
quando viu David apertando a coxa da garota.
- Aqui. - Logan se encosta ao seu lado no pilar,
estendendo-lhe uma garrafinha de Heineken. - Tu tá precisando.
- Valeu cara. - ele estava determinado a não
deixá-la acaber com a sua noite, mas quando sua garrafa já
estava pela metade, ele se pegou olhando para Jessica de novo. Merda.
Ficar longe de Jessica era umas daquelas metas de ano novo que
Joshua sabia que não iria cumprir.
- Você tem certeza que quer continuar com
isso? - tinha até esquecido que Logan estava ao seu lado. Não
que fizesse muita diferença. Só haviam duas pessoas que
sabiam no que Campbell estava metido de verdade e Miller era
uma delas. A outra estava afundada nisso com Joshua até o
pescoço.
- Não tem mais volta.
- Ela não merece isso. Quando ela
descobrir o que você tá fazendo... - a ambiguidade na
frase de Logan poderia gerar dúvidas, mas Josh apreciava o
esforço. Atuar nunca foi muito a praia de Logs mesmo. Já
Campbell estava aprendendo dessa arte bem rápido.
- Ela já fez muito pior. Eu fui parar no
hospital por causa dela. Cara, eu podia ter morrido!
- Eu sei! Mas pagar na mesma moeda talvez não
seja a melhor solução. E ainda envolver Naomi nisso...
- Não envolvi ninguém em nada. Eu
gosto dela. - Joshua já dissera essa mentira tantas vezes que
se ele não soubesse de todas as coisas ruins que aquela garota
fizera, até ele começaria a acreditar.
- Se você diz. - e com um remexer de ombros
Logan estava dando aquela conversa por encerrado, rezando para que
essa encenação codificada tivesse dado certo e
convencido Taylor (o garoto que achava que estava bem
escondido atrás do pilar) que Joshua estava do seu lado.
~”~
Cassandra tomou o primeiro shot para esquecer a
discussão que teve com os seus pais antes de sair de casa. O
segundo e o terceiro também. Depois disso ela parou de contar.
Sabia que estava exagerando na dose de álcool, mas não
podia ligar menos.
Foram poucas as vezes que bebera até
passar mal e a loira estava ciente que essa seria uma delas. Ela se
odiava quando acordava depois de beber demais porque sempre
fazia alguma merda. O arrependimento dessa vez provavelmente seria
acordar na cama daquele cara que tinha suas mãos por todo o
corpo da loira.
Mãos demais.
Mãos masculinas demais.
Às vezes sua bissexualidade escolhia um
lado e agora, definitivamente, não era o hétero.
Percebeu a movimentação das pessoas
a sua volta para a contagem regressiva para o Ano Novo e usou isso
como desculpa para se afastar, mas assim que a contagem chegou no um
e os casais começaram a se formar para o beijo de ano novo, o
cara com quem ela estava dançando se aproximou novamente.
Cassie tentou se esquivar do beijo, mas ele não parecia muito
receptível a um não, forçando a situação.
Cassandra estava bem molinha pela quantia de
álcool ingerida e mesmo que o outro também estivesse
bêbado, ainda era mais forte que ela. Ele a estava apertando
demais e uma parte do seu cérebro começou a
emitir um sinal de alerta.
~”~
Ashley admirava os fogos de artifício
colorirem o céu, ao lado de Vanessa, Emily e Matthew. Há
bem pouco tempo, pensava que aquela cena seria diferente. Tinha
certeza que estaria passando aquele momento na companhia de Nicole,
Cassandra e Michelle. Mas desde que descobrira do curto envolvimento
de Michie com Raphael, as coisas que já não estavam
indo muito bem, desandaram completamente.
Para ser sincera, de Nicole ela não sentia
a menor falta, as duas nunca foram muito chegadas mesmo, mas com
Michelle era mais complicado. As duas eram, de fato, muito amigas.
Ashley sabia da queda de séculos da loira por Raphael e que
ele era o culpado pela morte da mãe da garota, mas como Michie
a fizera jurar secreto, ela não tinha contado do fato para
Vanessa e desconfiava que Raphael nem tinha noção de
que ela sabia. O relacionamento de sua irmã com o garoto nunca
foi um empecilho para elas, afinal Michie não queria se
envolver com o cara que matou sua mãe (mesmo que tenha sido
por um terrível acidente). Ashley contara para Michie sobre
Vanessa, a sua doença e quanto Raphael a ajudara. Achava que
esse era outro motivo para que a loira desistisse do seu crush
de vez, mas no final se descobriu totalmente errada.
Michelle podia jurar de pé junto que
aquele fora um erro que não cometeria novamente o quanto
quisesse, Ashley não lhe daria uma segunda chance. Vanessa
estava quebrada de novo, só se fazendo de forte pela situação
de Emily, e Ashley culpava igualmente Raphael e Michelle por isso.
Então não, por mais que Ash sentisse falta daquela
amizade, ela não voltaria a falar com Michelle nem tao cedo.
Já em relação a Cassandra, o
quadro era tão surreal que Ashley nem conseguia descreve-lo.
Desde o beijo na festa de halloween, Ash se envolveu numa nuvem de
dúvida que não a deixou em paz até que a garota
se sentiu tão perdida dentro de si mesma, que precisou tomar
uma atitude. Mesmo receosa, ela começara a experimentar ficar
com outras garotas e qual não foi sua surpresa ao descobrir
que gostava da coisa, e mais surpreendentemente ainda, que por mais
interessante que fosse, não chegava nem perto da
sensação que teve com Cassandra. Mas bem, naquele dia
ela estava chapada e podia muito bem ter sido a euforia da droga
falando mais alto. Ela preferia acreditar que sim, afinal ela podia
aceitar (com certo esforço, confesso) a sua provável
bissexualidade, mas o fato de que poderia estar gostando de
verdade de uma garota era demais para ela processar.
Voltando a sua situação atual, Ash
se sentia um pouco constrangida com todos aqueles casais a sua volta
se beijando, pelo menos ela tinha mais três pessoas para lhe
fazer companhia. Especialmente Emily e Matty. A morena quase
conseguia ver a névoa de tensão que pairava sobre eles.
Muito bizarro.
Dando uma olhada ao redor, ela notou uma cena que
fez uma estranha sensação se apossar de seu estomago.
Não muito longe dali, ela encontrou Cassandra beijando, não,
sendo engolida por um cara qualquer. Nojento. Estava a ponto de virar
as costas para a cena quando percebeu Cassandra tentando se afastar e
o cara a puxando de volta. Não entendeu bem o porque, mas
aquilo a deixou com uma puta raiva e quando deu por si, já
estava a centímetros dos dois.
- Me solta. - ouviu o comando/pedido da loira e
isso foi o combustível que ela precisava para tomar a atitude
de empurrar o cara pra longe da outra.
Cassie aproveitou da surpresa do cara para se
afastar, sentindo o bolo incomodo no estomago e o mundo girar. É,
ela tava “um pouco bêbada”, hora de admitir.
- Mas o que...?
- Cai fora! - Ash corta o cara, olhando-o
ameaçadoramente.
- E quem vai me obrigar? Você?
Ele tava com um sorriso bêbado debochado na
cara, o que deixou a morena ainda mais nervosa. Ninguém
zombava dela. Principalmente um bêbado qualquer. Mais
principalmente ainda, um bêbado qualquer que forçava a
barra com meninas em situação precária de
defessa própria. Por isso, agindo novamente por impulso, Ash
se viu dando um belo de um chute nas partes baixas do infeliz e um
soco remodelador de narizes no dito cujo, torcendo para que tenha
doído tanto nele quanto doeu em sua mão.
O garoto se encolheu, uma mão no meio das
pernas e outra na cara, e Ashley aproveitou o momento para puxar
Cassandra pelo pulso e saírem correndo dali. Podia facilmente
gritar e chamar a atenção do pessoal mais próximo
caso ele tentasse revidar, mas ela não queria arriscar, além
do mais, escândalos não eram bem a sua praia. Quando
chegou perto do trio que a acompanhava, percebeu que Cassie estava
meio verde, a mão livre massageando a barriga.
- O que aconteceu? - Vanessa pergunta preocupada
assim que as vê chegando.
- Eu acho que ela vai vomitar. - Emily alerta,
dando discretos passos para longe da loira.
A morena estava certa, Cassie só tem tempo
de ir apressada até o canteiro em volta do poste de luz antes
de devolver tudo o que tinha no estomago. Rapidamente, Ash vai até
a garota e junta os cabelos da mesma nas mãos, deixando as da
loira livres para se apoiar no poste. Assim que Cassie termina de
adubar as plantas, Matty decreta que a noite tinha acabado e decide
levar as garotas pra casa.
~”~
Dakota olha para o céu explodindo em luzes
coloridas e depois para as pessoas à sua volta comemorando o
Ano Novo. Ela olha com certa repulsa para as pessoas se abraçando.
A única pessoa com quem ela se dignava a ter esse tipo de
reação não estava mais ali. Só Deus sabe
em que lugar do planeta seu pai estava nesse momento e sua irma
deveria, muito provavelmente, estar se agarrando com algum garoto
aleatório por aí. Bem, pois a loirinha também
tinha um garoto a quem recorrer nesses momentos de melancolia.
Já sabendo onde o encontraria, Dakota vai
a passos firmes até os fundos da quadra coberta. Tinha mais
pessoas do que ela gostaria ali, mas resolveu deixar isso de lado
assim que avistou Harry num canto, arrumando as carreirinhas de pó
branco em cima de uma mesinha improvisada.
- Eu deveria me preocupar com a frequencia com
que você está me procurando? - foi o que ela ouviu assim
que parou a sua frente. Ele não olhou diretamente pra ela,
concentrado em seu trabalho, o que a loira agradeceu mentalmente,
pois sabia que tinha corado.
- Eu não estou te procurando. Eu to
procurando o seu amigo branco aí.
Ele levanta o olhar para ela pela primeira vez,
não parecia muito contente com o que ela acabara de falar.
- Então é com isso que eu tenho que
me preocupar?
- Você não tem que se preocupar com
nada.
- O que significa que eu tenho com o que me
preocupar.
Dakota não entendeu se ele disse isso pela
dupla negativa em sua frase ou porque ela estava mentindo na cara
dura. Mas de qualquer forma, ela deixou o comentário de lado e
se sentou a sua frente, tomando posse da primeira fileira de pó.
- Ei, vai com calma aí! E deixa pra mim
também. Esse aí custou caro.
- Depois eu compro mais pra você,
satisfeito?
- Não. Vamos manter o esquema de que
quando você quiser alguma coisa é só me pedir que
eu arrumo pra você. Não te quero metida com essa gente,
entendeu?
- Sim, pai.
...
Raphael estava do lado de fora da quadra quando
Dakota e Harry saíram de lá, minutos depois. A loirinha
não o percebeu parado ali, andando meio grogue e olhando
fascinada para o céu, onde os últimos fogos de
artifício estouravam. Já a atenção de
Harry foi puxada para o garoto, uma vez que este agarrou o seu braço
assim que o viu passar por ele.
- Eu sei que você é um idiota que só
faz as escolhas erradas, mas será que dava pra deixar a Dakota
fora dessa? Ela é só uma criança.
- Eu acho que ela é grandinha o suficiente
para fazer as suas próprias escolhas. E eu pensei que seu
interesse era em outra Blackwell.
- Não tenho interesse em alguma delas, só
estou te alertando.
- Alertando? Por que isso soa como uma ameaça?
Raphael não responde, só continua a
encarar Harry, que vai perdendo o sorriso debochado ao perceber que
Duncan falava sério, bastante sério.
- Hei, Harry! Você vai correr hoje? -
Dakota, alguns passos à frente, volta-se para o garoto, que,
assim como Raphael, percebeu bem rápido qual era a intenção
da mocinha com aquela pergunta.
- Se você colocá-la dentro daquele
carro, pode dar adeus à sua festinha
ilegal.
- E lá vem a ameaça de novo. Você
devia superar essa família, cara. Sério, tá
ficando esquisito.
~”~
Assim que Vanessa e Ashley terminam de carregar
uma quase desacordada Cassandra para dentro de casa, Matthew dá
a partida no carro mais uma vez e Emily se remexe desconfortável
no banco do carona, pensando em uma maneira de abordar aquele assunto
que vinha ensaiando o dia todo. Era Vanessa que sempre arrumava essas
coisas para ela, que sempre intermediava as coisas entre Emi e Matty.
Mas agora ela deixara a pobre garota sozinha com a difícil
tarefa de pedir (mais) aquele favor ao garoto.
A morena sabia que ele iria prestativamente
concordar em acompanhá-la, ele sempre fazia o que ela pedia; o
que deixava Emi ainda mais desconfortável em fazer aquele tipo
de coisa.
Ela tentava não demonstrar, mas sabia que
o que Matty estava fazendo por ela não era só pela
amizade dos dois. Sabia que tinha algo a mais e ela simplesmente não
conseguia entender como, depois de tudo o que ela fez, ele ainda
podia sentir algo por ela. Emily não se sentia merecedora de
todo o seu esforço. Por Deus, ela estava grávida de
outro cara!
Ela não podia pedir para que ele a
acompanhasse até a clínica para fazer aquele ultrassom,
não podia!
Mas teria.
Vanessa não poderia ir com ela e Emi não
queria que seus pais participassem de nada relacionado àquele
bebe. Eles poderiam se apegar à criança e, como Emily
estava disposta a dá-lo para a adoção assim que
ele nascesse, era melhor nem arriscar com aquilo. Logo, só lhe
restava Matthew.
- Hm, Matty? - estava com os olhos fixos na
estrada a sua frente, tentando parecer o mais relaxada e casual
possível.
- Sim? - ele não a olha, atento a direção,
ao que ela agradece. Assim seria mais fácil para ela deixar as
palavras saírem.
- Segunda-feira eu tenho uma consulta com a Dra.
Tyler. Vanessa não vai poder ir, será que você
poderia me acompanhar?
Matthew desvia sua atenção da
estrada por um instante, para olhar a menina ao seu lado no carro.
Dra. Tyler era a obstetra de Emily e aquilo o pegou de surpresa.
Apesar de fazer várias coisas por ela e estar presente em
todos os momentos nesses cinco meses, ele nunca a acompanhou em
alguma consulta, achava que era algo íntimo, pessoal demais e
Vanessa ocupava bem o papel. Mas ele tinha aquele pequeno defeito de
não conseguir negar algo à Emily.
- Claro, Em. Eu vou com você.
~”~
Vanessa estava acostumada a dar banho em pessoas
debilitadas em seu trabalho voluntário no hospital, mas visto
que essas pessoas que ela ajudava eram crianças e em sua
maioria bem magrinhas em razão da doença, suas
habilidades não eram exatamente suficientes para ajudar uma
garota de 18 anos bêbada em seu banheiro. Achou que poderia
ficar feliz por ter sua irma como assistente, mas Ashley estava sendo
de tanta ajuda quanto a sua pasta de dente em cima da pia.
Pelo menos Cassandra não estava mais
vomitando, na verdade ela avia apagado na metade do caminho pra casa
das gêmeas. Mas por via das dúvidas, era melhor
providenciar um balde para deixar ao lado da cama de Ashley, porque
vai que a menina começa a andar bêbada, ou sonambula,
pela casa e acorda os seus pais, ou pior: e se ela estiver chapada
também? Vanessa não era obrigada a lidar com a larica
de ninguém, Ashley que era sua amiga que fizesse isso.
Infelizmente Ashley não tinha como refutar
o argumento sem entrar em detalhes desnecessários, então
teve que aceitar a situação levemente embaraçosa
em que aquela decisão a colocaria. Dormir na mesma cama que
Cassandra. Céus, isso ia ser estranho. Só o que podia
fazer agora era torcer para que a loira não acordasse e então
Ash podia acordar na manha seguinte e fingir que isso nunca aconteceu.
Mas é claro que não seria assim tão
fácil. Ela já estava convencida de que alguém lá
em cima não gostava dela, mas agora estava começando a
pensar que essa pessoa realmente a odiava. Porque é claro
que assim que Vanessa as deixasse sozinhas no quarto de Ash,
Cassandra começaria a recobrar a consciência, ou quase,
visto que ela ainda parecia meio bêbada.
- O que aconteceu?
Ashley já estava ficando cansada e com
sono, por esse motivo, quando terminou de explicar para Cassie onde
ela estava, se viu deitando ao lado da loira em sua cama.
- Você poderia fechar a janela?
- Já tá fechada.
- Tá frio. - a loira se move mais para o
meio da cama e, visto que elas estavam viradas uma de frente pra
outra, isso as deixou estupidamente perto.
- Foi o banho, daqui a pouco esquenta.
E então as duas ficaram ali, se olhando em
silencio. Até que aconteceu. Ashley não saberia dizer
ao certo como, mas quando percebeu, suas bocas já estavam
grudadas, mãos pra todo lado e a morena estava certa, estava
mesmo esquentando. Porém Ashley nem teve tempo de se preocupar
com o seu ato falho, pois assim que elas se acalmaram, Cassie pegou
no sono direto, mas não sem antes aninhar-se ao lado de Ash e
escorregar a sua mão na dela, apertando-a firme.
E Ashley odiou o quanto aquilo lhe pareceu certo.
~”~
De volta ao E-Zine, Harry preparava-se para a sua
corrida. Ele não podia acreditar que chegara até ali
sem ouvir uma notícia sequer de G. Ele achou sinceramente que
seria pego em sua tentativa idiota de ser o herói da noite,
que G lhe faria alguma coisa por ele ter mandado aquela mensagem para
Alison e Jessica. Mas ali estava ele, a quase uma da manhã e
completamente inteiro.
Era mesmo uma pena ele ter de descobrir do jeito
mais fatal que ninguém era capaz de enganar G.
“If I show you than I know you
won't tell what I said
'Cos two can keep a secret if when
of them is dead
'Cos two can keep a secret if when
of us is dead”
--x--
Hey! Wasup people! Olha só quem está de volta! Cara, como faz tempo...
Não vou pedir desculpas pela demora porque nem foi exatamente culpa minha, a vida tá louca mesmo e é isso aí, temos que lidar... Só sei que estava muito, MUITO, frustrada por não conseguir atualizar esse capítulo, mas agora que o fiz, estou mais feliz que pinto no lixo!
(nunca entendi essa expressão, tipo: pinto gosta de lixo? Enfim...)
Esse capítulo é um dos meus xodós, e eu espero sinceramente que gostem e que ele tenha compensado toda essa demora.
Cliquem aqui para as respostas dos comentários no capitulo anterior.
Como sei que não vou aparecer por aqui de novo esse ano: feliz natal e um próspero ano novo pra vocês! Que 2016 seja 10 mil vezes melhor que 2015 (porque eu não sei vocês, mas pra mim esse ano foi uma merda. Foi tanta treta que olha...)
Beijos de luz e que a força esteja com vocês!
(ou, para aqueles que gostam de Física: que a massa vezes a aceleração esteja com vocês)