sexta-feira, 22 de julho de 2016

Doce Sacrifício - Capitulo 37 [Cry]

Música tema: Cry [Marmozets]

Fight your wars don't leave blood
justice flows in your vein’s
Cut your shame from the vane
now you know in your heart
life's to short to fall apart”

Parte I – Emily

Visitas à clinica obstétrica sem dúvida não estavam na lista de coisas favoritas a se fazer de Emily. Ir com Matthew até ali, com certeza só fazia o trauma aumentar. Por que mesmo ela tinha pedido para ele ir com ela? Devia ter ido sozinha. É o que faria na próxima vez que Vanessa não pudesse a acompanhar, porque se mais alguém pedisse se Matthew era o pai da criança, Emily viraria um avestruz só para poder enfiar a cabeça em um buraco qualquer.
Matthew ainda estava um pouco vermelho pela pergunta inapropriada (para Emily) feita pela outra moça na sala de espera, que não parecia incomodada pelo equívoco (se soubesse do histórico dos dois, talvez ficasse). Antes que mais alguma pergunta constrangedora pudesse ser feita, Emily ouve seu nome ser chamado e, só Deus sabe porque, ela sinaliza para Matty acompanhá-la até a sala de ultrassonografia.
Quando a Dra. Tyler entrou na sala, encontrou os dois jovens em um silencio sepulcral, olhando para tudo, menos de um para o outro. Emily já estava com a roupa da clínica e a doutora preferiu fazer o seu trabalho e fingir que não percebeu a óbvia constatação de que tinha algo errado com aqueles dois. Durante todos os seus anos de carreira, Dra. Tyler já ouviu cada história que as vezes nem ela acredita que vivenciou, e ela sabia que ali tinha mais uma dessas. Porém Emily nunca foi de se abrir muito e se tinha uma coisa que Anne Tyler sabia fazer era ser profissional e ignorar fatores externos.
Estava indo muito bem nessa parte, até que ela decide fazer a bendita pergunta:
- Você quer saber o que é?
Emily estava tão concentrada em pensar em qualquer outra coisa que não fosse em Matthew vendo dentro do seu útero e ouvindo as malditas batidas de coração que demorou um pouco para entender o que a doutora havia lhe perguntado. Não precisou pensar muito na resposta, entretanto, pois já a sabia há muito tempo.
- Eu já sei o que é: é a porra de um bebê.
- Não quer saber o sexo?
Matthew sempre foi um pouco curioso e aquela pergunta o deixou inquieto. Ao ver Emily dar de ombros, fazendo pouco caso, ele teve que questionar:
- Já dá pra saber, doutora?
- Dá sim, eu posso dizer se a Emily não se importar.
Emily não se importava com isso, afinal aquela criança iria para a adoção no momento que o cordão umbilical fosse cortado, mas Matty parecia interessado na resposta. Achou que não faria mal.
- Tudo bem.
- Emily está esperando uma menina.
O certo seria ambos darem de ombros e seguirem com suas vidas, porém o que aconteceu foi um pouco diferente disso. De repente, o som daquele coraçãozinho batendo ficou difícil de ignorar e, pela primeira vez no dia, Emi se virou para olhar o monitor. Nunca via nada naqueles borrões na tela, assim como Matt estava com dificuldades para identificar qualquer coisa que não fosse riscos e manchas, mas mesmo assim, nenhum dos dois conseguiu desfiar o olhar do monitor por alguns bons minutos.
Anne conhecia esse momento muito bem. Eles estavam começando a reconsiderar.

Parte II – Madison

Era meio da tarde de uma terça-feira e Jessica estava sozinha em casa. Para não sucumbir ao tédio, decidiu passar seu tempo aprendendo a tocar novas músicas em seu violão. Férias de inverno eram um saco, frio demais para fazer qualquer coisa.
Estava concentrada tentando pegar o ritmo do refrão quando a campainha tocou. Não sabia se ficava feliz por algo estar de fato acontecendo no seu dia ou se ficava com raiva pela interrupção. De qualquer forma, teve que deixar o violão de lado e descer até a sala para atender seja lá quem estivesse na porta.
- Jeremy? - ela não estava esperando que fosse alguém em específico, mas ter Jeremy Marshall na sua porta era um tanto surpreendente. E curioso.
- Oi, eu posso entrar? - ele parecia um pouco nervoso, esfregando uma mão na outra. Mas talvez fosse só o frio mesmo. Era melhor dar um abrigo para o coitado do garoto servindo de alvo fácil para o vento congelante (o que não era muito comum, visto que estavam na Califórnia. Se Jessica fosse um pouco mais ambientalista, poderia ficar preocupada com esse fato).
- Claro.
Jessica o guiou até o sofá da sala e os dois ficaram um instante sentados em silencio. Aquilo a lembrou do dia em que Madison foi falar com ela e estavam na mesma situação. Pelo visto namorados pegavam mesmo as manias um do outro. Ela não saberia dizer, já que nunca ficou com alguém por tempo suficiente para isso acontecer.
- Então...?
- Madison me contou que você já sabia. Sobre o seu distúrbio alimentar.
- Faz um tempo. Por que? Aconteceu alguma coisa?
- Não sei. Não é como se ela falasse com a gente sobre isso. O que é um pouco estranho, ela não nos diz nada, mas conversa com você.
- Ela não conversa comigo.
- Mas ela veio aqui uma vez. O que você disse à ela?
- Pra ela contar pra vocês, pedir ajuda.
- Só isso?
- O que mais eu poderia fazer?
- Nos contar. Olha o tempo que demorou pra ela nos dizer alguma coisa! E só foi porque a Lexi descobriu!
Graças a quem? Jess queria dizer, mas achou melhor não fazer uso de sarcasmo nessa conversa. Jeremy parecia um pouco nervoso.
- Eu fiz o que eu podia. - Jessica já se sentia mal por ter negligenciado a situação de Madison aquela fez, Jeremy não ia fazer ela se sentir mal de novo.
- Tem certeza Jessica? Porque isso aqui é sério! E eu acho que você podia ter feito mais!
Ah, foda-se! Ela não ia deixar ele gritar com ela em sua própria casa (ou em qualquer outro lugar)!
- E eu acho que você está descontando na pessoa errada Jeremy! Eu não convivo com ela, não sou o namorado dela, ou amiga dela! Não tenho culpa que vocês demoraram uma vida pra descobrir o que estava acontecendo e só descobriram graças à Alison e eu, que nem temos nada a ver com isso!
Se isso fosse um filme, esse seria o momento de pegar uma pipoca e assistir o show, porque os dois se levantarem do sofá e ficarem em pé no meio da sala empurrando a culpa um para o outro era só o começo.
- É claro que não tem! Você está ocupada demais fodendo com qualquer um e se entupindo de drogas pra se importar!
Nenhum dos dois percebeu isso vindo, mas ambos ouviram (e sentiram) o estalo da mão de Jessica em contato com a bochecha de Jeremy. E depois, um momento muito constrangedor de silêncio. Jessica recolhe a mão (que se já ardia pra caramba, nem queria imaginar a dor no rosto de Jeremy) e decide tomar as rédeas daquela situação calamitosa.
- Acho que ambos deixamos os ânimos se exaltarem. É melhor você ir embora. Agora.
Nem precisava pedir duas vezes. Jeremy não podia acreditar que tinha deixado as coisas chegarem àquele ponto!

-x-

Madison não sabia se ria ou se chorava daquela situação. Não bastava seus amigos ficarem em cima dela como cães-de-guarda, gruindo a cada menção que ela fazia de ir ao banheiro sozinha, tinham também que contar tudo para a sua mãe! E é claro que dona Lewis aceitou isso numa boa... só que não. Ela estava furiosa. E nem eram pelos motivos certos.
Angelic Lewis não estava brava por sua filha estar brincando com sua saúde daquela forma, mas sim por não ter percebido a filha fraca que tinha criado. Onde já se viu ter todo esse trabalho e não conseguir emagrecer? Se a menina fechasse um pouco a boca, nem precisaria ir ao banheiro vomitar. Era só ter um pouco de disciplina e parar de comer tanto. E ir à academia com sua mãe nos fins de tarde. Pronto, era isso que Angelic faria, colocaria sua filha na academia e numa dieta rígida. Se ela queria emagrecer tanto assim (e convenhamos que ela estava precisando), então ela iria, mas de uma maneira onde Angelic não precisaria passar pelo constrangimento de ter que explicar que havia criando uma filha doente!
Com esses pensamentos da mãe, fica fácil imaginar a situação de Madison agora: nem um pouco melhor. Todo aquele julgamento da mãe e a falta de confiança dos amigos não ajudavam Madison a parar. Ela não se sentia segura para compartilhar com eles o que sentia, não só porque eles não lhe transmitiam essa segurança, mas porque ela sabia que eles não entenderiam. Sua mãe, suas amigas, Jeremy, nenhum deles haviam passado por alguma situação que chegasse remotamente perto do que ela estava passando agora. Eles não sentiam nojo deles mesmo quando se olhavam no espelho, não precisavam ouvir todo um discurso pronto de como pessoas gordas eram gordas por serem desleixadas, ou como elas era feias, ou erradas. Não precisavam dar um sorriso falso toda vez que ouviam uma frase do tipo “ela é gordinha, mas até que tem um rosto bonito” ou “ela é bonita, apesar de ser gorda” ou então o famoso “eu não acredito que ele me largou pra ficar com aquela gorda!”.
Eles não sabiam como era.

Parte III – Joshua

Era oficial: Jessica estava enfrentando sérios problemas de carma.
Primeiro, ela conseguiu entrar numa discussão calorosa com o garoto mais tranquilo de toda Roundview High School (provavelmente de toda Los Angeles), e agora, de volta às aulas, descobre que teria que fazer o próximo trabalho de Sociologia com a sua dupla do trabalho anterior, ou seja Joshua Campbell.
Sério, qual era o problema que o Universo tinha com ela?
Jessica podia estar odiando aquilo, mas Joshua estava adorando. Estava quase fazendo um altar em sua casa para a professora Katie. De verdade.
Ele já estava repensando o seu plano há um bom tempo e esse trabalho talvez fosse mais uma dica para ele. Aquilo não estava funcionando mesmo, estava praticamente sozinho naquela empreitada e precisava confessar que nada daquilo compensava ficar longe dela.
Não podia mais enganar a si mesmo: sentia falta de Jessica. Mas não podia ficar com ela se continuasse com o plano. Não que ela o quisesse de volta. Ou queria? Jessica parecia ficar incomodada quando ele estava por perto. Joshua só não saberia dizer se era porque ele ainda mexia com ela ou porque ela simplesmente achava constrangedor ficar por perto de ex-namorados. Não que ela estivesse tendo esse problema com David. E sim, tem gotas de ciúmes nessa frase.
O problema mesmo era Naomi. Em mais de uma maneira, o que deixava o “problema Naomi” bem grande.
De volta ao trabalho de Sociologia, Jessica teve a (nem tão) brilhante ideia de propor que o fizessem em sua casa. Ponto para Joshua. Porém, ela se esqueceu que Marta não estaria lá na terça-feira. Mais um ponto para Joshua. A vida estava facilitando tanto para Joshua que ele teve que tomar isso como um “pelo amor de Deus, larga esse plano idiota e se acerta de uma vez com essa menina!”. Joshua é que não seria idiota de não seguir um conselho desse.
E agora estavam os dois sentados no chão da sala dos Everdeen, sobre o tapete felpudo xodó da mãe de Jess, em um silêncio estranho. Jessica parecia estar com a cabeça em outro lugar, a feição um pouco preocupada.
- Está tudo bem com você Jess?
- Não muito...
- Bem que eu senti um distúrbio na força. O que houve?
Os dois estavam com as costas apoiadas no sofá, que conseguia ser alto o suficiente para apoiar suas cabeças também. Ela vira o rosto na direção do garoto, observando-o por um instante, tentando decidir se lhe contava ou não. Resolveu que não faria mal ter a sua opinião no assunto.
- Eu acho que consegui fazer um feito bem idiota. Você acreditaria se eu te dissesse que briguei com Jeremy ao ponto de lhe dar um tapa?
- Jeremy? Marshall? Brigando? Tem certeza?
- Pois é.
- Por que?
- Madison. - ela não sabia se deveria dizer mais do que isso, afinal não era seu segredo para sair espalhando por aí. - Eu descobri que ela estava com um problema e acho que não ajudei o quanto deveria. Quando Jeremy descobriu, ele ficou doido. Na hora eu achei meio injusto ele descontar em mim, sendo que percebi algo que ele deveria ter notado. Mas talvez ele esteja certo, sabe? O problema era um pouco sério.
- E onde entra o tapa nisso?
- Ele veio aqui, nós discutimos, ele disse umas coisas que eu não gostei e eu bati nele.
- O que ele disse? - Joshua não estava gostando disso. Jessica não ficava distribuindo tapas por aí por qualquer motivo. Para isso ter acontecido, Jeremy deve ter dito algo muito sério. Joshua estava começando a criar uma raiva sem fundamento pelo garoto.
Jessica percebeu a feição um tanto irritada de Joshua e por isso resolveu por bem terminar com aquele assunto. Joshua tinha essa mania de dar uma de herói pra cima dela.
- Não importa agora. Você está com fome? Marta não está aí hoje, mas eu posso me aventurar na cozinha e ver se acho alguma coisa pra gente comer. - ela não esperou pela resposta do garoto, se levantando e seguindo para a cozinha. Joshua ainda não estava pronto para deixar aquele assunto de lado, mas decidiu respeitar sua escolha e a seguiu até a cozinha, porque para ser honesto, ele estava mesmo com um pouco de fome.
Jessica resolveu fazer um chá, porque o tempo frio pedia pela bebida, e Joshua (que nunca foi muito de ter vergonha mesmo) estava fuçando nos armários, vendo se encontrava alguma coisa. Achou um pacote de pipoca de micro-ondas.
- Que tal uma pipoca? E um filme?
- Nós ainda temos que terminar o trabalho
- E um filme depois que terminarmos o trabalho? Você não me deixou acabar a frase.
Filme? Ela e Joshua? Joshua e ela? Filme?
- Tudo bem.

Parte IV – Madison e Jessica

- Madison, espera!
Madison tinha acabado de sair do banheiro. Tinha aproveitado que estava sozinha na biblioteca para ir também sozinha ao banheiro, precisava se livrar do seu café-da-manhã, que já estava pesando no estomago.
- Jessica? Está tudo bem?
- Está sim, só queria saber como você está mesmo.
- Como eu estou?
- É, faz um tempo que a gente não conversa, sabe, sobre aquilo.
- Nós nunca conversamos sobre aquilo, ou qualquer outra coisa.
- Bem, você tinha me pedido ajuda, não tinha?
Então realização atingiu Madison. Seus amigos não saberiam pelo o que ela estava passando, mas talvez Jessica poderia ter uma leve noção, visto que ela também tinha uma espécie de “prática condenável” pelos outros e de certa forma era julgada sobre isso.
- Depende. Que tipo de ajuda você tem em mente?
- Eu tenho que ir nesse grupo de ajuda sobre vícios, e eu pensei que talvez isso te ajudasse, falar com pessoas que entendem pelo o que você está passando e ter o acompanhamento de um profissional.
- Qualquer um pode entrar?
- Sim, é bem tranquilo, e tem todo esse pacto de não falar sobre o que é dito lá e tal. Estaria interessada?
- Quando você vai?
- Nas quartas, no caso hoje, e nas sextas, logo depois da escola.
- Me espera na esquina, em frente ao ponto de ônibus, não quero que ninguém saiba.
- Tudo bem.

I'm fighting I'm fighting on my own
[...]
Still fighting still fighting on my own, on my own


______________________________________________________________________________
Olá Weirds and Wonderfuls! Tudo sussa na montanha-russa?
Então, Emily está esperando uma menina (*.*) Será que alguém está começando a se apegar?
Treta com Jeremy e Jessica... Eita, eita.
Qual será esse "plano" do Joshua? Alguma teoria? Diz aí!
Espero que gostem o capítulo (me tomou alguns dias a mais do que esperava, sorry!)
Beijos no pâncreas e até a próxima! ;)

domingo, 15 de maio de 2016

Doce Sacrifício - Capítulo 36 [Blood Hands]

Música tema: Blood Hands [Royal Blood]


Took a lonely feeling
Just to let the meaning
Sink like the sun goes down
Never close to heaven
Felt my feet were burning from the same red hot ground

Um ano atrás –

David se sentia idiota. Idiota por estar se culpando por algo que antes ele não via problema algum.
Quantas vezes ele já não planejara fazer aquilo? E agora que realmente fizera, estava se sentindo uma pessoa horrível. Ele só queria descobrir o porquê.
Ela tinha namorado. Bem, era só o cara não ficar sabendo. Ou então David faria uso das aulas de judô que frequentava anos atrás.
O cara estava do outro lado do país. E sem previsão certa para voltar. Não tinha como ele saber, só se a namorada lhe contasse - o que David duvida seriamente. Fazer isso pelas costas dele, no entanto, mesmo a menina estando claramente precisando de atenção, era muita sacanagem. Mas ela estava lá, e David também... somente aconteceu.
Ela era a melhor amiga da sua “irmã”. Certo, isso nem era um problema. Pode ser retirado da lista.
O garoto estava tão compenetrado na tarefa de tentar descobrir o que lhe fazia sentir culpado por ter beijado Rachel Martin que demorou alguns segundos para notar a movimentação ao seu lado, só despertando completamente quando Nicholas estalou os dedos em frente a sua cara.
- Tava em que galáxia, cara? - Nick, Jeremy, Madison e Lexie estavam sentados na mesa que ele ocupava, olhando-o de forma divertida. Deveriam estar tentando chamar sua atenção havia algum tempo. Não que ele se importasse com isso.
Ele ia responder com alguma gracinha quando Lexie o interrompeu, olhando com os olhos arregalados para o portão do Roundview.
- Não acredito!
Os outros quatro adolescentes olham na mesma direção, procurando o que deixara a loira tão chocada. Até que eles encontram: atravessando o pátio, estava Rachel, andando de mãos dadas com um garoto loiro.
David joga-se contra o encosto do banco, olhando-os sem acreditar em seus olhos, se sentindo a pessoa mais azarada do Universo. O que aquele cara estava fazendo ali? Era para Cody estar na maldita clínica de reabilitação, se desintoxicando de todas as drogas consumidas nos últimos meses, não andando todo sorridente ao lado de Rachel, e pior: na sua direção!
- Cody! Quando que você voltou? - Madison e Alexandra se levantam para cumprimentá-lo com um beijo na bochecha, numa felicidade que David achou completamente desnecessária. Qual é! O moleque era um drogadinho filho da puta, que só meteu Rachel em encrenca por causa disso! Como elas podiam apoiar aquela relação?
- Ontem mesmo. E aí, caras, beleza? - era só o que faltava! Até Jeremy e Nick estavam cumprimentando o filho da mãe!
Mas se acham que David iria fazer o mesmo, saibam que estão muito... certos, porque David Thompson era bem esse tipo de sínico sem-vergonha mesmo.

~”~

- Mas Cody já está de volta? - a garota estava deitada na cama de Matthew, lendo em seu celular a mensagem que acabara de chegar. Era sua amiga Alison lhe contando a mais nova notícia e, claro, perguntando onde ela estava. Jessica responde rapidamente que iria se atrasar e devolve o celular ao criado-mudo, ajeitando-se sob o lençol.
- E o que você esperava? Todo mundo acha que o filho do Senador só estava tendo um momento, se ele ficasse mais tempo por lá, todos saberiam que ele é um puta de um viciado das antigas. - a garota dá de ombros, observando o garoto ao seu lado se mexer e ficar por cima dela, com os braços apoiados ao lado de sua cabeça. - Na verdade, ele é um garoto de sorte.
Matthew também era, em sua concepção. Afinal não era qualquer um que podia ficar com Emily e Jessica quando e quantas vezes quisesse. Esse negócio de poligamia era a melhor coisa que já inventaram, na real!
- E não podia ter voltado em hora melhor. - ela solta um suspiro no meio de sua fala, ao sentir os lábios de Matty em seu pescoço. Talvez devesse ter dito à Ali que não iria para o colégio hoje. - Ela com certeza vai usar isso.
- A foto?
Jessica engole em seco, sentindo como se estivesse fazendo alguma coisa muito errada. Mesmo que gostasse de proferir pra quem quisesse ouvir o quanto David estava morto pra ela, Jessica ainda não se sentia bem fazendo essas coisas com ele. Se bem que aquilo poderia ajudá-lo a se livrar do namorado da garota que ele queria. E olhando por esse lado, ela até podia fingir que estava fazendo isso a favor dele.
- A foto.

~”~

It's getting hard to listen
When the clock is ticking
Counting down the days gone by
Praying for an answer to another question
That will only leave you dry

Os gritos continuavam altos e irritantes como ele se lembrava. Passara três meses ouvindo os gritos suplicantes dos outros pacientes passando pela pior fase da abstinência e nenhum deles, incluindo os próprios, chegava a incomodá-lo como aqueles que ele ouvia agora.
Nada como retornar ao doce lar... Bem, Cody não saberia dizer, pois nunca se sentira em casa ali. Também não achava que seus pais já tivessem. Talvez no início, quando Cody era ainda um bebê e eram tudo flores na carreira política do pai. Mas não agora. Não depois de perceberem que não se amavam mais, não depois das puladas de cerca de ambos os pais... Não depois das drogas. A mãe culpava o distanciamento do pai e o pai culpava a futilidade da mãe. Como se não fossem ambos distantes e fúteis em igual proporção. Talvez fosse por isso que se odiavam, eram parecidos demais.
O garoto estava considerando a ideia de fugir por algumas horas (já que estavam sob ordem expressa de não deixar a casa sem supervisão), quando percebeu o pacote na sua mesa. Era uma caixa pequena, quadrada, prateada com um laço branco amarrado à ela. Cody a examinou e, não encontrando nenhum tipo de identificação, desfez o laço e puxou a tampa. Encontrou três saquinhos com pó dentro e dois frascos cheios de pílulas.
Deveria jogar aquilo fora, afinal não sabia quem lhe deixara a caixa e estava somente a dois dias fora da reabilitação. Tinha que ser mais forte do que isso. Mas então ouviu o barulho de algo se quebrando no quarto dos pais e decidiu que foda-se.

~”~

Achou que conseguiria ser forte quando passou os dois próximos dias sem lembrar da caixa escondida em seu quarto. Mas então uma das empregadas lhe entregou o envelope. O envelope com a maldita foto.
Sabia que era melhor lidar com a situação sóbrio, que precisava falar com Rachel e encarar a situação com o pouco de dignidade que ainda lhe sobrava. Mas sua resistência estava rachando e tudo no que ele conseguia pensar agora era na caixa escondida no fundo falso do seu armário. A qual, pelo bilhete que acabara de receber, fazia uma ideia a quem pertencia.
Você passou muito tempo fora, precisava se inteirar dos fatos. O curativo eu já te mandei, espero que ainda o tenha. Bem-vindo de volta, G.

~”~

David estava virando o corredor, em seu caminho até o refeitório, quando foi brutalmente interrompido por um puxão que o fez bater com as costas na parede.
- Pra que essa violência? - ele olha indignado para o seu agressor, percebendo que na verdade se tratava de uma agressora: Rachel Martin.
- Foi você, não foi? - ela não parecia muito feliz, com a postura tensa e uma tempestade de raiva nos olhos escuros.
- O que aconteceu? - Dave já estava ficando assustado com aquela situação, mas então ela lhe empurra uma foto e quando ele vê a imagem de si mesmo beijando Rachel, ele entende tudo.
- Cody viu?
- É claro que ele viu! Você manda essa merda pra casa dele e quer que ele não veja?
- O que? Rachel, essa foto não é minha, eu não mandei isso pra ele! Eu nem sabia da existência disso aqui. Olha, se você quiser eu vou falar com ele, digo que você não...
- Não. Não importa mais agora.
Pelo seu tom David soube que estava tudo acabado. Rachel e Cody tinham terminado. A descoberta o deixou com uma sensação agridoce, estava feliz por ela ter se livrado daquele idiota, mas a tristeza em seu olhar acabou com ele. Thompson precisava descobrir quem mandou aquela foto para Cody. Tinha que lhe ensinar a não ficar se entrometendo na vida dos outros assim, principalmente na de Rachel.

~”~

Every time I'm drinking
Try to stop my thinking
About the things I've said and done
Stop the world from turning faster
Than I'm learning not to just hide and run

- Eu ainda não entendi, você gosta do David, pra que fazer Rachel e Cody terminarem?
- Pelo show, é claro. E se ela chegar perto do David de novo, eu posso tirá-la do caminho rapidinho. Que cara é essa?
- Você não pode ficar brincando com a vida deles assim. Acho que chegamos longe demais.
- Longe demais? Eu não estou nem perto de onde quero chegar ainda.
- Tem razão, você não matou ninguém ainda. Ah, espera, talvez esse seu próximo passo vá.
- Eu não tenho culpa se ela não sabe guardar segredos.
- Mas deve ter outras formas de faze-la aprender! Sério Brenda, você já colocou pessoas o suficiente numa cama de hospital!
- Eu não apontei uma arma na cabeça deles e os obriguei a fazer algo. Fizeram porque quiseram.
- Não faça isso.
- Ou o que? Você vai me denunciar? Porque, e eu sei que você sabe disso Emily, se eu cair, eu levo todos vocês comigo.

~”~

David perde o equilíbrio e cai mais uma vez do skate. Era a terceira em menos de dez minutos. Definitivamente ele não estava em um bom dia para aquilo. Resolveu parar e sentar em um dos bancos espalhados perto da pista de skate.
Tinha um embaixo de uma sombra bacana, mas não sabia se deveria se aproximar, afinal Jessica Everdeen estava sentada ali. Parecia agitada, balançando uma perna e girando o celular nas mãos.
A relação entre eles não era mais tao estranha, mas ainda assim ele não se sentia tao a vontade em falar com ela. Afinal, foram dois anos de relações cortadas.
Se considerasse essas variáveis, chegaria a conclusão de que era melhor ignorá-la e seguir com sua vida, já que tinha certeza que era isso o que ela faria, mas quando deu por si, já estava sentado ao lado dela, fazendo a pergunta de um milhão de dólares:
- Está tudo bem?
Jessica já o tinha visto se aproximando (estava observando-o desde quando chegara no parque), por isso não se surpreendeu em te-lo ali, mas estava tao presa em seus pensamentos que se fosse em qualquer outra situação, teria levado um susto. Chegava a ser engraçado até, na verdade. Ter a razão de seu conflito interno sentado ao seu lado lhe perguntando se ela estava bem. Sua situação deveria estar mesmo desesperadora para o garoto que fingia não saber de sua existência (a recíproca costumava ser verdadeira) estar lhe fazendo tal pergunta.
Com um suspiro e um tom que não convencia ninguém, ela optou pela saída mais segura:
- Está sim. E com você? - ela aponta rapidamente para o esfolado no braço de David, recém adquirido pela última queda.
- Meu equilíbrio resolveu me abandonar hoje. Muita coisa na cabeça, eu acho.
- Rachel?
Dave ficou vermelho na hora, mas o tempo que Jessica precisaria para se arrepender de tocar no assunto foi substituído pela confusão que se seguiu.
Um carro cantou pneu numa rua ali perto e a comoção foi instantânea. Os dois se olharam assustados e levantaram do banco, seguindo os outros pedestres até o local do barulho.
Um acidente, foi o que descobriram a se aproximarem. Jessica conseguiu dar uma olhada na rua e viu que, estirado no chão, no meio de todas aquelas pessoas, Joshua Campbell jazia inconsciente.
O celular em sua mão vibrou e, tremendo, a menina desbloqueou a tela, só para encontrar o motivo de todo aquele carma negativo em sua vida:
Quietinha você fica mais bonitinha e menos perigosa para as pessoas a sua volta.
Ela não precisou assinar, nem se explicar mais. Joshua estava pagando pela carta que Jessica mandara para Rachel no hospital.
Brenda passara de todos os limites.
Ainda em choque, Jessica se obrigou a sair dali. Já tinham chamado uma ambulância e ela não confiava em si mesma naquele estado perto de David. Ia acabar contando sobre a foto, a overdose de Rachel, tudo. É o que ela queria fazer há um bom tempo. E mesmo com a recente ameaça, ela não exitaria, estava cansada de tudo aquilo. Porém, o resultado não atingiria só a ela, e isso, ao contrário de todo o resto, ela podia evitar.

~”~

Quando Matthew recebeu a notícia, ele realmente achou que fosse uma brincadeira de mau gosto, ou que Emily estava zoando da cara dele. Brenda sofrer um acidente de carro e ir parar em estado grave no hospital era para ser uma notícia horrível, mas Matt não conseguiu frear o pensamento de que talvez ela merecesse isso, por todas as coisas que ela fez. Porém, se você parar para pensar, Fitch a ajudara em quase todas aquelas “brincadeiras”, logo, ele também merecia algo parecido? Não queria pensar nisso agora. Não podia.
Um acidente como esse poderia chamar a atenção, principalmente para onde o GPS de Brenda dizia que ela estava indo quando perdeu o controle da direção (para o QG do TheGossip). Matthew precisava sumir com as evidencias de que estavam ligados à ela. Talvez deixasse algo que “incriminasse” (entre aspas mesmo, porque não existe Lei direta para merda feita na internet) somente Brenda, isso talvez a fizesse parar com toda essa loucura. Porém, após fazer isso e chegar finalmente ao hospital, a visão de Emily chorando ao lado da mãe de Brenda e Jessica lhe balançando a cabeça negativamente, confirmaram que Brenda realmente não faria mais nada. Nunca mais.

~”~

Os três estavam assistindo o final da cerimonia mais para trás das outras pessoas presentes. Emily estava na lá frente, é claro, afinal era a sua melhor amiga ali naquele caixão. Alison achou que era mais sábio Jessie, Matty e ela não se aproximarem muito, visto que para todo mundo eles eram meros colegas de escola. Era melhor deixar desse jeito. Estava tudo acabado qualquer forma.
Mas então algo que ela só presenciava do outro lado lhe aconteceu. Seu celular tocou ao mesmo tempo dos de Jessica e Matthew. Nenhum deles sabia o que pensar quando leram a mensagem:
Não precisam ficarem triste, eu ainda estou aqui. E eu sei de tudo. Bem-vindos ao outro lado. Xoxo – G.
Porém, uma coisa era certa, ao ver a expressão surpresa de Emily os encarando lá da frente, Alison soube que aquilo ainda não tinha acabado.

But there's blood on my hands
Yeah, there's blood


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Salut! Finalmente saiu o último flashback, aquele com a coisa fofa do Cody (ou não).
Dois meses sem atualização é até um bom tempo no meu histórico, então comemoremos!
Espero que tenham gostado do pequeno remember. Aqui (cap. 34) e aqui (cap. 35).
Au revoir!
ps: se você sabe de onde é a imagem do início, vamos nos amar (e chorar junto)!

terça-feira, 22 de março de 2016

Doce Sacrifício - Capítulo 35 [Sick Little Games - Harry Parte II]

Música tema: Sick Little Games [All Time Low]

We're all part of the same sick little games and I need to get away”

Harry pensara nas possibilidades milhares e milhares de vezes. Será que aconteceria alguma coisa se ele contasse? O que aconteceria se ele contasse? Nunca parou para pensar profundamente nisso porque nunca realmente pensou em contar.
Quando perdeu o controle da direção numa curva e seu carro capotou na pista, tudo no que pensou antes de perder a consciência era que ele nem havia contado ainda. E nunca iria.

~”~

Alison não podia acreditar. Ela viu acontecer, mas não podia acreditar.
Não tinha como aquele acidente ser mais inconveniente! Tudo bem, talvez essa não fosse a palavra e ela estivesse sendo um pouco egoísta ao pensar daquele jeito, mas poxa! Harry tinha que sofrer um acidente justo minutos antes de finalmente lhe contar seja lá o que ele tinha para dizer sobre G?
Está bem: Alison estava sendo egoísta. O acidente foi muito feio e ela duvida que Harry estava bem, e tudo no que ela conseguia pensar era que não teve a chance de descobrir o que ele sabia. Egoísta, certo, podemos seguir em frente.
Ainda tentando processar o ocorrido, Alison sai a procura de Jessica. Precisava lhe contar sobre isso. Era muito estranho, muita coincidência que isso acontecesse justo agora. Será que foi realmente um acidente? Se o que Harry tinha para lhes dizer era mesmo sobre G, será que ela deveria tratar o fato como um acidente?
Poderia discutir isso com Jessica assim que a encontrou, porém elas não puderam falar o que realmente pensavam, pois David estava ali com elas e era melhor não o meter nessa situação. Mas pelo olhar que Jessie lhe mandara, Ali soube que a amiga também estava tendo a mesma dúvida.

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Dakota observava o garoto pelo vidro da janela, ele parecia melhor. Ela, ao contrário, estava acabada. Não conseguira pregar os olhos à noite, preocupada com o estado de Harry. A cena de seu carro perdendo o controle se repetia em um loop infinito na sua cabeça. Dakota preferia pensar que toda a sua preocupação era coisa de amiga, mas talvez, e só talvez, ela estivesse se deixando levar demais por seja lá qual for a relação que eles tinham. Por Deus, ela tinha acordado às sete da manha de um feriado só para ir vê-lo!
Tudo bem que “acordado” era superestimado, já que ela não dormira de fato, e bem, isso por si só já era preocupante. Dakota não podia deixar isso acontecer. Ele gostava de outra e em poucos meses ele iria para a faculdade, enquanto a loira ficaria ali, presa por mais três anos ao Ensino Médio. Ela não podia lidar com mais uma pessoa com quem ela se importava a abandonando, e aquele acidente lhe serviu muito bem para lembrá-la disso.

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- Eu ainda acho que foi muita coincidência.
Alison e Jessica observavam a fachada do hospital, de dentro do carro da loira.
- Bem – Jess arruma seu cachecol em volta do pescoço, preparando-se para encarar o vento do lado de fora. – o TheGossip também não acha que foi só um acidente.
- Como assim? Espera! Você lê aquela merda?
- Eu não, mas o David estava meio nervoso por causa de uma enquete que anda rolando por lá. Ela pede pra você votar se acha que o culpado foi o Nick, por causa da mãe dele e da Alexandra, ou se foi o Raphael, por causa da Michelle e da Dakota.
É incrível como o laudo da perícia nem saiu ainda pra confirmar o que deu errado no carro, mas mesmo assim já tem pessoas prontas para bancarem o júri. Exatamente como aqueles programas policiais/jornalísticos sensacionalistas que saem julgando todo mundo a torto e a direito.
- Nick nunca faria uma coisa dessas! - será que ele sabia sobre essa enquete? Alison faz uma nota mental pra se lembrar de falar com ele depois. - E também não acho que o Raphael chegaria à tanto...
- Não. Parece extremo demais. Bem coisa de G mesmo.
As duas fecham suas jaquetas e descem do carro, andando em direção à porta do hospital. Precisavam falar com Harry antes que o horário de visitas acabasse. Só esperavam que as outras visitas tivessem ido no horário da manhã e que agora, já no fim da tarde, ele estivesse sozinho no quarto.
Não estava, porém. Sua tia continuava ali, mas graças a Deus ela os deixou a sós assim que as meninas chegaram.
- Como você está? - ele tinha um braço e uma perna engessados e agulhas perfurando o outro braço, Jessica realmente não sabia por que tinha feito aquela pergunta.
- Melhorando. - Hazz dá de ombros, já tinha perdido a conta de quantas vezes respondera aquela pergunta desde que acordara. Oitenta por cento das vezes, foi para a sua tia.
- Que bom. – Alison estava sendo sincera, mas a sua postura apresada a fez soar um pouco rude. Nada de muito diferente, tratando-se de Alison. - Sobre a mensagem que você nos mandou...
- Não era nada. Na verdade eu nem lembro o que eu queria dizer. – Harry desconfiou que era por isso que elas estavam ali no momento em que as viu cruzar a porta. Na verdade, ele pensara sobre esse assunto por uma boa parte do dia e já tinha chegado a uma conclusão. - Esqueçam isso.
Elas sabiam que isso poderia acontecer, que ele também desconfiaria que aquele acidente tinha sido coisa de G e mudado de ideia sobre contar o que ele sabia, porém ter a confirmação dessa hipótese foi como um banho de água fria pra elas.
- Tem certeza Harry? - Jessica o pegunta uma última vez, deixando claro no seu olhar que elas sabiam o que ele estava fazendo e que estavam lhe dando uma chance para reconsiderar.
- Tenho. - ele percebeu, mas já tinha tomado sua decisão e não tinha divindade no céu ou demônio no inferno que o fizesse mudar de ideia. - Não era nada.

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Matthew as estava esperando quando elas chegaram à casa de Jessica. Antes de ir ao hospital com Alison, ela ligara para o garoto e o deixara a par de toda a situação com Harry, logo ele também estava super curioso para saber qual era o envolvimento de Jones com G. Infelizmente, descobriu que teria que conviver com a dúvida quando as meninas lhe contaram sobre a decisão de Harry.
Matty não o julgava, no entanto, pois se estivesse no seu lugar faria a mesma coisa. G deixara bem claro que não o pouparia se ele abrisse a boca e se o menino fosse esperto e tivesse amor a vida, ele acataria com os termos sem pestanejar. Porém, Matty tinha que confessar que ficara um tanto quanto decepcionado. Se Harry lhes contasse algo grande, Matthew esperava que eles conseguissem ficar mais próximos de saber quem é G e acabar com essa história de vez. Mas, pelo visto, ela continuaria atormentando suas vidas e os tratando como marionetes de seu show particular por mais um bom tempo.

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Harry detestava ter que passar a noite num hospital, por isso sua cara de desgosto ao descobrir que teria que ficar aquela madrugada ali em observação não foi grande surpresa. Em observação. Como se não tivessem feito isso o dia inteiro. Ele poderia reclamar um pouco mais se não estivesse tão cansado. Aquele foi um 1º de janeiro muito estranho. Ainda bem que Hazz não tinha superstições de ano novo, ou ficaria um pouco preocupado com o ano que teria pela frente.
Foi um dia estranhamente agitado, apesar de ele não ter se movido um centímetro (claro, se você não contar as experiências traumatizantes de hospitais, como ter que tomar banho com a ajuda de enfermeiras e da sua tia). Sua mente ainda estava tentando processar todos os acontecimentos, ele estava achando a tarefa particularmente difícil porque cada um deles lhe proporcionava emoções diferentes.
Optou por recapitular o seu dia em ordem cronológica, como sempre fazia antes de dormir, pra ter certeza que não tinha esquecido nada. Primeiro, ele estava um tanto intrigado pelo o que sua tia lhe contou logo que ele acordou pela manhã. Dakota esteve ali desde o início do horário de visitas até o momento que soube que ele acordara, mais de uma hora depois, e sem lhe dar nem sequer um “oi”, ela foi embora, assim sem mais nem menos. Qual era o ponto em ficar todo aquele tempo ali (na manhã de um feriado), se assim que ele acordou e eles poderiam conversar, ela vai embora?
Ele a mandou uma mensagem quando seu tio chegou com o seu celular, mas ela não o respondera, o que era esquisito, já que os dois estavam sempre trocando mensagem, mesmo quando era desnecessário.
Harry poderia ter dado mais atenção a esse fato, se o seu quarto não tivesse virado um entra e sai de pessoas conhecidas e de enfermeiros o dia todo. Ele poderia achar aquilo ruim, mas então Alexandra passou pela porta e ele entendeu o sentido daquela frase “há males que vem pra bem”, porque, poxa, era a Lexie, bem ali na sua frente, toda preocupada com ele... Tudo bem, hora de admitir: Harry estava se tornando sadomasoquista. Porque não tinha outra explicação para o fato de ele se negar seguir em frente e esquecer de uma vez dessa sua paixão não correspondida (o tipo de paixão mais comum e mais filha da puta, verdade seja dita). Mas é óbvio que a sua alegria não ia durar muito, porque é claro que ela tinha que se despedir dizendo que estava indo ver Nicholas, a.k.a., O Namorado.
Não teve muito tempo para se afundar na fossa porém, porque logo quem ele imaginou que apareceria, realmente apareceu. Indiretamente, o motivo de ele estar naquela cama de hospital: Jessica Everdeen e Alison Fitzgerald.
Harry preferia ter os dois braços arrancados à admitir que estava com medo de abrir a boca, mas ele estava. Muito. Então não, ele não se arrependia de ter ficado quieto sobre tudo o que ele sabia. Aprendera sua lição.
A única razão do que o incomodava de verdade foi visitá-lo na manhã seguinte. Pra falar a verdade, Harry nem achou que ele fosse, mas lá estava: Taylor Holdman, encarando-o ao lado da porta (fechada, é claro. Aquele não era um assunto pra qualquer um ouvir).
- Fico feliz em saber que você está bem.
- Não graças à você, não é? Sabe, eu realmente pensei ter ouvido você dizer que éramos amigos, mas devo ter confundido a palavra.
- Eu não sabia sobre isso. Juro! Mas você tem que admitir que o que você fez foi bem estúpido. No que você estava pensando?
Perfeito! O cara achava que estava no direito de dar bronca em Harry! Sabe o Harry? Aquele seu suposto amigo que estava todo engessado numa cama de hospital? Pois então...
- Não importa mais. O que disseram?
- Que vocês estão bem. Quer dizer, mais ou menos. Confiar desconfiando, sabe como é.
- Certo. Pode ir agora.
- Eu não sabia Harry, é sério.
- Tudo bem. - mentira, não estava. E Hazz nem sabia se Taylor estava falando a verdade, e mesmo se estivesse, ele estava puto com toda aquela situação e Taylor parecia um ótimo bode expiatório no momento.
- Ok. - Taylor também não parecia muito alegre, talvez porque não estava acostumando com pessoas o destratando. Harry não podia se importar menos. - Eu já vou então.
Vai tarde.


Losing it all on these sick little games”