sábado, 19 de dezembro de 2015

Doce Sacrifício - Capítulo 34 [Secret - Harry Parte I]

Música tema: Secret [The Pierces]

I gotta a secret, can you keep it?
Swear this one you will save
Better lock it in your pocket
Take this one to the grave”

O vento do inverno passou morbidamente frio por Jessica quando a morena saiu de casa, mas ela estava com pressa demais para se importar com algo tão banal quanto o clima. Era um pouco passado das nove da manhã e a garota já estava correndo até a casa de Alison. Devia estar fazendo uns oito graus e tudo o que Jess queria era estar dormindo em sua cama. Porém, ao invés disso, já estava tendo um começo de dia bem agitado e, apesar do frio, suas mãos estavam suando em antecipação.
Estava nervosa, muito nervosa.
Seu celular toca mais uma vez e ela nem precisa tirá-lo do bolso da calça para saber que era Alison. Ela também devia estar nervosa. E tudo isso por culpa de uma simples mensagem.
Alison já a esperava em frente a sua casa quando Jess apontou no fim da rua. Sem dizer palavra, as duas seguem até o quarto da loira, sem saberem ao certo o que fazer agora. Ali então decide tentar ligar para o garoto novamente.
- Pra quem você está ligando? - Jessica senta na cama da amiga, a respiração ainda um tanto descompassada pela corrida.
- Pro Harry, mas ele não atende!
- Se ele quisesse falar com a gente agora, não teria mandado a mensagem e não taria nos fazendo esperar o dia inteira.
- Eu sei, mas se é o que estamos pensando, nós precisamos falar com ele!
- E nós vamos. À noite, no E-Zine. Só tenha paciência, Ali. - Jess sabia que nem ela mesma acataria àquele seu conselho, mas Alison sempre foi melhor que ela para manter a calma em situações difíceis. Se Alison perdesse a calma também, é porque a coisa estava realmente séria. E Jessica precisava de uma confirmação de que a coisa não era tão séria assim, ou ela iria pirar.
As duas estavam sentadas na cama, roendo as unhas em silêncio, com a mensagem que receberam de Harry Jones ecoando em suas cabeças.
Me encontrem atrás do galpão da piscina depois da minha corrida, precisamos conversar sobre vocês-sabem-quem.”

~”~

A lua crescente não podia ser vista no seu céu na noite daquela terça-feira. Estava chovendo em Los Angeles e as nuvens pesadas impediam a visão de qualquer astro mais próximo. Os pingos de chuva batiam com violência contra o vidro das janelas de seu carro, estacionado numa rua mal iluminada qualquer.
O garoto só tivera tempo de comprar seus cigarros e voltar para o seu carro (na verdade, de seu tio) para o dilúvio começar. A nova lei proibia menores de 21 anos de comprar cigarros ou qualquer outro produto relacionado diretamente com tabaco, mas o que uma identidade falsa não conseguia, não é mesmo? E o homem por trás do balcão do pequeno estabelecimento não parecia muito interessado em checar a procedência daquela identidade, de qualquer forma. Se percebeu que Harry não tinha a aparência de alguém com mais de vinte e um anos, fez questão de ignorar.
Agora o moreno estava sentado no conforto de seu carro, tragando um cigarro preguiçosamente, enquanto esperava a chuva dar uma acalmada. Sua mais nova “missão” estava no porta-malas, impressa em uma folha branca A4. Ele nem sabia mais por quê estava fazendo aquilo. No início era divertido, e ele recebera a promessa de que ficaria com a garota. Agora a garota estava o mais longe possível de ser dele e aquilo não era mais divertido. Era errado, muito errado.
Porém, estava demasiado tarde para ele desistir. Nunca o deixariam sair agora que sabia de tanta coisa. Aquilo lá mais parecia a máfia italiana às vezes. Enquanto observava a fumaça se desfazendo no teto, o moreno se perguntava o que deveria fazer, porque compactuar com aquela brincadeira não lhe parecia certo, especialmente depois de ler o que estava escrito naquele papel em seu porta-malas.
Harry se estica para pegá-lo no pequeno compartimento e, envolto numa coragem lesiva, ele rasca a folha em pequenos pedaços, abre um pouco de sua janela e joga os vários pedaços de papel na rua, junto com a bituca de seu cigarro, observando-os ficarem encharcados pela água da chuva. A intensidade desta estava diminuindo e ele resolveu que estava na hora de voltar para casa, antes que sua tia ficasse muito preocupada com ele.
O garoto tinha dez anos quando o câncer levou a sua mãe e treze quando o pai também morreu, mas Harry sabia que ele já tinha ido muito antes, levado pela depressão que o acometeu após a morte de sua esposa. Desde então o garoto passou a morar com os seus tios, Ethan e Rose Jones. Eram pessoas muito boas e tratavam o sobrinho como o filho que eles nunca poderiam ter. Harry gostava bastante deles e não queria nem pensar o que eles achariam se descobrissem no que ele estava metido.
Passou o caminho inteiro pensando no que fazer e quando estacionou em frente à casa, ele já tinha a resposta. Não se incomodou em disfarçar o cheiro de cigarro do carro, seu tio também fumava e o veículo estar cheirando a nicotina era normal. Harry tinha quinze anos quando pegou um cigarro do tio sem que ninguém percebesse e o fumou escondido pela primeira vez. Não parara desde então. Agora, aos dezoito, se arriscava também em coisas um pouco mais pesadas e ilegais.
A luz da sala estava acessa e ele sabia que era a sua tia esperando por ele. O garoto sopra o ar na mão para checar se a bala de menta tinha cumprido com o seu papel e então abre a porta. O cheiro na roupa ele podia dizer que vinha do lugar onde estava com os amigos. Odiava mentir para os tios, mas não estava nem um pouco a fim de levar uma bronca agora, porque seu tio podia fumar, mas para o garoto esse ato era estritamente proibido. Se ao menos eles soubessem...
Estava certo, afinal. Sua tia estava na sala assistindo televisão, mas ficou bem claro para Harry que aquilo era apenas um disfarce quando ela a desligou assim que o garoto passou pela porta.
- Você veio nessa chuva?
- Não está mais tão forte. - ela estava andando em sua direção e ele, disfarçadamente, se afastando dela. Uma pena que não adiantou em nada.
- E esse cheiro?
- Taylor também adquiriu o péssimo hábito do tio Ethan. - o garoto dá de ombros, com uma carinha de inocente que sempre enganava a tia. Ele era um ser humano desprezível.
- É uma pena. Mas agora vá dormir, está ficando tarde. - a mulher lhe dá um beijo na testa e segue em direção ao seu quarto. - Boa noite, Hazz.
- Boa noite, tia.
Quando Harry acordou naquela manhã de trinta e um de dezembro, surpreendentemente, aquela coragem perigosa que o fez picar os planos de G dirigidos à ele ainda estava lá, e quando percebeu, já tinha apertado o botão “enviar” em seu celular.
Depois disso, passou o resto do dia completamente tenso, esperando que a qualquer momento algo de mau lhe acontecesse, que G fizesse alguma coisa de ruim contra ele, para puni-lo pela sua boca grande. Por que mesmo ele enviou aquela mensagem? Bem, agora era tarde demais para arrependimentos, teria que seguir com seu plano suicida até o fim. Talvez aquilo desse certo e tudo terminasse bem. É, talvez...

~”~

O E-Zine era um ótimo lugar para se estar na virada de ano novo. Ficava em um ponto alto da cidade, em uma colina. A visão panorâmica do lugar era bem ampla e, se não fosse pela poluição que pairava no ar, criando uma neblina cinza, seria possível ver metade de Los Angeles dali de cima.
Por esse motivo, o E-Zine ficava ainda mais lotado nesse dia, o que era ótimo para os negócios da família Avery.
Chovera a semana inteira, mas naquele trinta e um de dezembro estava fazendo uma bela e limpa noite, com a lua crescente e as estrelas iluminando a colina. Lá de baixo era um pouco mais difícil de se enxergar as estrelas no céu por causa de todas aquelas luzes artificiais, mas dali de cima, até que era uma bela visão.
No início, o E-Zine era somente um autódromo mais afastado da movimentação da cidade, mas logo começou a englobar também outros esportes e agora era um grande clube do qual a maioria dos estudantes do Roundview High School era sócia. Suas famílias visitavam o clube nos finais de semana, mas durante à noite o lugar era majoritariamente preenchido por adolescentes, atraídos pela falta de vizinhança e policiais vigiando cada passo. A segurança do clube também era bem negligente, mas ninguém parecia se importar.
Naquela noite em específico, todos os veteranos do Roundview estavam ali, até mesmo Emily, com Matthew e Vanessa a tira-colo, é claro. De todos, ela era provavelmente a única com babás pegando no seu pé. Mas antes isso do que ficar em casa trancada, como ela passava a maioria de seus dias. Podia ir para o colégio, mas nem morta ela pisaria naquele lugar de novo, não com aquela barriga pelo menos, e ficar vagando sem rumo pelas ruas não parecia muito sábio. Por causa de seus maus hábitos ilegais sua gravidez era de risco, então andar sozinha por aí não era uma opção. Ao menos ela tinha sua melhor amiga para lhe fazer companhia. E Matthew, por mais estranho que isso parecesse.

~”~

Quando David voltou da sua ida para buscar a segunda garrafa de cerveja, encontrou Jessica exatamente do mesmo jeito que a tinha deixado: sentada no murinho, encarando Joshua, o mais discretamente que conseguia, sem nem ao menos piscar.
- Tira uma foto, dura mais. - o garoto divide o conteúdo da garrafa em dois copos de plástico e quando estende um deles para a amiga, percebe que ela estava olhando para o garoto moreno mais a frente com o cenho franzido, como se estivesse tentando montar um complicado quebra-cabeça.
- Cadê a grudenta da Naomi?
- Por que não aproveita a chance para ir lá falar com ele? - Jess quase engasga com a bebida e o olha como se uma segunda cabeça tivesse nascido em seu pescoço. Dave revira os olhos. Sério que depois de todo esse tempo ela ainda acha que pode enganá-lo? - Eu sei que você quer.
A garota solta um suspiro derrotado, olhando para o copo de plástico em sua mão com desânimo.
- Não posso.
- Por que não? - ela não responde, só remexe os ombros, não muito a fim de entrar em detalhes. – Eu ainda não entendi por quê você não explicou o lance daquela foto nossa pra ele.
- Eu só não queria envolvê-lo nessa história toda de G. Queria deixá-lo longe disso.
Dave começa a rir, uma risada meio rouca e sarcástica. A garota estava olhando para ele como se avaliasse qual era a sua doença mental de novo, então ele logo explica o motivo da risada:
- Se você acha que Naomi tem alguma coisa a ver com isso, então já é tarde demais.
- Eu não tenho certeza disso, é só um palpite.
Há um pequeno silêncio depois disso, com o qual Jessica assume que o assunto foi encerado, mas então David externiza o pensamento que rondava sua cabeça toda vez que via o Campbell:
- Talvez ele esteja mais envolvido do que você pensa.
- Está falando isso pelo o que aconteceu no halloween?
- Você tem que admitir que aquilo foi suspeito. Você foi atrás de mim e ele saiu ileso. A ideia não era alguma coisa acontecer com aquele que não fosse “salvo”?
- Talvez tenha acontecido. Pode ser que a consequência fosse ele se aproximar de Naomi. E eu não fui atrás de você, estava a procura dos dois, te encontrei primeiro por acaso.
Na verdade, ela tinha esperança de encontrar Joshua antes. Ela foi até onde Matthew disse ter visto Joshua com Taylor (o que ainda era estranho pra ela, pois os dois não eram amigos), mas tudo o que encontrou foi David na sala ao lado. Não contara isso pra ele porque daí sim ele desconfiaria de Joshua de verdade, já que o garoto foi supostamente visto na “cena do crime”.
- Obrigado pela parte que me toca.
Não contara isso antes também para não magoar os seus sentimentos, e quando ele soltou aquela frase, ela ficou um pouco preocupada que o tivesse feito, mas sua voz estava com um leve tom sarcástico e ele ostentava um sorriso divertido no rosto. Talvez ele já soubesse disso até, afinal era David. Mesmo que eles tivessem cortado relações por dois anos, Thompson ainda a conhecia melhor do que qualquer um. Às vezes, até melhor do que ela própria.

~”~

A cada toque compartilhado, o coração de Joshua apertava um pouquinho. Jessica e David estavam a uma distância razoável dali, sentados numa parte do baixo murinho que dividia o estacionamento da pequena quadra de basquete. Eles trocavam abraços, risadas e conversas ao pé do ouvido que faziam o estômago do moreno embrulhar.
Joshua decidiu parar com seu momento masoquista quando viu David apertando a coxa da garota.
- Aqui. - Logan se encosta ao seu lado no pilar, estendendo-lhe uma garrafinha de Heineken. - Tu tá precisando.
- Valeu cara. - ele estava determinado a não deixá-la acaber com a sua noite, mas quando sua garrafa já estava pela metade, ele se pegou olhando para Jessica de novo. Merda. Ficar longe de Jessica era umas daquelas metas de ano novo que Joshua sabia que não iria cumprir.
- Você tem certeza que quer continuar com isso? - tinha até esquecido que Logan estava ao seu lado. Não que fizesse muita diferença. Só haviam duas pessoas que sabiam no que Campbell estava metido de verdade e Miller era uma delas. A outra estava afundada nisso com Joshua até o pescoço.
- Não tem mais volta.
- Ela não merece isso. Quando ela descobrir o que você tá fazendo... - a ambiguidade na frase de Logan poderia gerar dúvidas, mas Josh apreciava o esforço. Atuar nunca foi muito a praia de Logs mesmo. Já Campbell estava aprendendo dessa arte bem rápido.
- Ela já fez muito pior. Eu fui parar no hospital por causa dela. Cara, eu podia ter morrido!
- Eu sei! Mas pagar na mesma moeda talvez não seja a melhor solução. E ainda envolver Naomi nisso...
- Não envolvi ninguém em nada. Eu gosto dela. - Joshua já dissera essa mentira tantas vezes que se ele não soubesse de todas as coisas ruins que aquela garota fizera, até ele começaria a acreditar.
- Se você diz. - e com um remexer de ombros Logan estava dando aquela conversa por encerrado, rezando para que essa encenação codificada tivesse dado certo e convencido Taylor (o garoto que achava que estava bem escondido atrás do pilar) que Joshua estava do seu lado.

~”~

Cassandra tomou o primeiro shot para esquecer a discussão que teve com os seus pais antes de sair de casa. O segundo e o terceiro também. Depois disso ela parou de contar. Sabia que estava exagerando na dose de álcool, mas não podia ligar menos.
Foram poucas as vezes que bebera até passar mal e a loira estava ciente que essa seria uma delas. Ela se odiava quando acordava depois de beber demais porque sempre fazia alguma merda. O arrependimento dessa vez provavelmente seria acordar na cama daquele cara que tinha suas mãos por todo o corpo da loira.
Mãos demais.
Mãos masculinas demais.
Às vezes sua bissexualidade escolhia um lado e agora, definitivamente, não era o hétero.
Percebeu a movimentação das pessoas a sua volta para a contagem regressiva para o Ano Novo e usou isso como desculpa para se afastar, mas assim que a contagem chegou no um e os casais começaram a se formar para o beijo de ano novo, o cara com quem ela estava dançando se aproximou novamente. Cassie tentou se esquivar do beijo, mas ele não parecia muito receptível a um não, forçando a situação.
Cassandra estava bem molinha pela quantia de álcool ingerida e mesmo que o outro também estivesse bêbado, ainda era mais forte que ela. Ele a estava apertando demais e uma parte do seu cérebro começou a emitir um sinal de alerta.

~”~

Ashley admirava os fogos de artifício colorirem o céu, ao lado de Vanessa, Emily e Matthew. Há bem pouco tempo, pensava que aquela cena seria diferente. Tinha certeza que estaria passando aquele momento na companhia de Nicole, Cassandra e Michelle. Mas desde que descobrira do curto envolvimento de Michie com Raphael, as coisas que já não estavam indo muito bem, desandaram completamente.
Para ser sincera, de Nicole ela não sentia a menor falta, as duas nunca foram muito chegadas mesmo, mas com Michelle era mais complicado. As duas eram, de fato, muito amigas. Ashley sabia da queda de séculos da loira por Raphael e que ele era o culpado pela morte da mãe da garota, mas como Michie a fizera jurar secreto, ela não tinha contado do fato para Vanessa e desconfiava que Raphael nem tinha noção de que ela sabia. O relacionamento de sua irmã com o garoto nunca foi um empecilho para elas, afinal Michie não queria se envolver com o cara que matou sua mãe (mesmo que tenha sido por um terrível acidente). Ashley contara para Michie sobre Vanessa, a sua doença e quanto Raphael a ajudara. Achava que esse era outro motivo para que a loira desistisse do seu crush de vez, mas no final se descobriu totalmente errada.
Michelle podia jurar de pé junto que aquele fora um erro que não cometeria novamente o quanto quisesse, Ashley não lhe daria uma segunda chance. Vanessa estava quebrada de novo, só se fazendo de forte pela situação de Emily, e Ashley culpava igualmente Raphael e Michelle por isso. Então não, por mais que Ash sentisse falta daquela amizade, ela não voltaria a falar com Michelle nem tao cedo.
Já em relação a Cassandra, o quadro era tão surreal que Ashley nem conseguia descreve-lo. Desde o beijo na festa de halloween, Ash se envolveu numa nuvem de dúvida que não a deixou em paz até que a garota se sentiu tão perdida dentro de si mesma, que precisou tomar uma atitude. Mesmo receosa, ela começara a experimentar ficar com outras garotas e qual não foi sua surpresa ao descobrir que gostava da coisa, e mais surpreendentemente ainda, que por mais interessante que fosse, não chegava nem perto da sensação que teve com Cassandra. Mas bem, naquele dia ela estava chapada e podia muito bem ter sido a euforia da droga falando mais alto. Ela preferia acreditar que sim, afinal ela podia aceitar (com certo esforço, confesso) a sua provável bissexualidade, mas o fato de que poderia estar gostando de verdade de uma garota era demais para ela processar.
Voltando a sua situação atual, Ash se sentia um pouco constrangida com todos aqueles casais a sua volta se beijando, pelo menos ela tinha mais três pessoas para lhe fazer companhia. Especialmente Emily e Matty. A morena quase conseguia ver a névoa de tensão que pairava sobre eles. Muito bizarro.
Dando uma olhada ao redor, ela notou uma cena que fez uma estranha sensação se apossar de seu estomago. Não muito longe dali, ela encontrou Cassandra beijando, não, sendo engolida por um cara qualquer. Nojento. Estava a ponto de virar as costas para a cena quando percebeu Cassandra tentando se afastar e o cara a puxando de volta. Não entendeu bem o porque, mas aquilo a deixou com uma puta raiva e quando deu por si, já estava a centímetros dos dois.
- Me solta. - ouviu o comando/pedido da loira e isso foi o combustível que ela precisava para tomar a atitude de empurrar o cara pra longe da outra.
Cassie aproveitou da surpresa do cara para se afastar, sentindo o bolo incomodo no estomago e o mundo girar. É, ela tava “um pouco bêbada”, hora de admitir.
- Mas o que...?
- Cai fora! - Ash corta o cara, olhando-o ameaçadoramente.
- E quem vai me obrigar? Você?
Ele tava com um sorriso bêbado debochado na cara, o que deixou a morena ainda mais nervosa. Ninguém zombava dela. Principalmente um bêbado qualquer. Mais principalmente ainda, um bêbado qualquer que forçava a barra com meninas em situação precária de defessa própria. Por isso, agindo novamente por impulso, Ash se viu dando um belo de um chute nas partes baixas do infeliz e um soco remodelador de narizes no dito cujo, torcendo para que tenha doído tanto nele quanto doeu em sua mão.
O garoto se encolheu, uma mão no meio das pernas e outra na cara, e Ashley aproveitou o momento para puxar Cassandra pelo pulso e saírem correndo dali. Podia facilmente gritar e chamar a atenção do pessoal mais próximo caso ele tentasse revidar, mas ela não queria arriscar, além do mais, escândalos não eram bem a sua praia. Quando chegou perto do trio que a acompanhava, percebeu que Cassie estava meio verde, a mão livre massageando a barriga.
- O que aconteceu? - Vanessa pergunta preocupada assim que as vê chegando.
- Eu acho que ela vai vomitar. - Emily alerta, dando discretos passos para longe da loira.
A morena estava certa, Cassie só tem tempo de ir apressada até o canteiro em volta do poste de luz antes de devolver tudo o que tinha no estomago. Rapidamente, Ash vai até a garota e junta os cabelos da mesma nas mãos, deixando as da loira livres para se apoiar no poste. Assim que Cassie termina de adubar as plantas, Matty decreta que a noite tinha acabado e decide levar as garotas pra casa.

~”~

Dakota olha para o céu explodindo em luzes coloridas e depois para as pessoas à sua volta comemorando o Ano Novo. Ela olha com certa repulsa para as pessoas se abraçando. A única pessoa com quem ela se dignava a ter esse tipo de reação não estava mais ali. Só Deus sabe em que lugar do planeta seu pai estava nesse momento e sua irma deveria, muito provavelmente, estar se agarrando com algum garoto aleatório por aí. Bem, pois a loirinha também tinha um garoto a quem recorrer nesses momentos de melancolia.
Já sabendo onde o encontraria, Dakota vai a passos firmes até os fundos da quadra coberta. Tinha mais pessoas do que ela gostaria ali, mas resolveu deixar isso de lado assim que avistou Harry num canto, arrumando as carreirinhas de pó branco em cima de uma mesinha improvisada.
- Eu deveria me preocupar com a frequencia com que você está me procurando? - foi o que ela ouviu assim que parou a sua frente. Ele não olhou diretamente pra ela, concentrado em seu trabalho, o que a loira agradeceu mentalmente, pois sabia que tinha corado.
- Eu não estou te procurando. Eu to procurando o seu amigo branco aí.
Ele levanta o olhar para ela pela primeira vez, não parecia muito contente com o que ela acabara de falar.
- Então é com isso que eu tenho que me preocupar?
- Você não tem que se preocupar com nada.
- O que significa que eu tenho com o que me preocupar.
Dakota não entendeu se ele disse isso pela dupla negativa em sua frase ou porque ela estava mentindo na cara dura. Mas de qualquer forma, ela deixou o comentário de lado e se sentou a sua frente, tomando posse da primeira fileira de pó.
- Ei, vai com calma aí! E deixa pra mim também. Esse aí custou caro.
- Depois eu compro mais pra você, satisfeito?
- Não. Vamos manter o esquema de que quando você quiser alguma coisa é só me pedir que eu arrumo pra você. Não te quero metida com essa gente, entendeu?
- Sim, pai.
...
Raphael estava do lado de fora da quadra quando Dakota e Harry saíram de lá, minutos depois. A loirinha não o percebeu parado ali, andando meio grogue e olhando fascinada para o céu, onde os últimos fogos de artifício estouravam. Já a atenção de Harry foi puxada para o garoto, uma vez que este agarrou o seu braço assim que o viu passar por ele.
- Eu sei que você é um idiota que só faz as escolhas erradas, mas será que dava pra deixar a Dakota fora dessa? Ela é só uma criança.
- Eu acho que ela é grandinha o suficiente para fazer as suas próprias escolhas. E eu pensei que seu interesse era em outra Blackwell.
- Não tenho interesse em alguma delas, só estou te alertando.
- Alertando? Por que isso soa como uma ameaça?
Raphael não responde, só continua a encarar Harry, que vai perdendo o sorriso debochado ao perceber que Duncan falava sério, bastante sério.
- Hei, Harry! Você vai correr hoje? - Dakota, alguns passos à frente, volta-se para o garoto, que, assim como Raphael, percebeu bem rápido qual era a intenção da mocinha com aquela pergunta.
- Se você colocá-la dentro daquele carro, pode dar adeus à sua festinha ilegal.
- E lá vem a ameaça de novo. Você devia superar essa família, cara. Sério, tá ficando esquisito.

~”~

Assim que Vanessa e Ashley terminam de carregar uma quase desacordada Cassandra para dentro de casa, Matthew dá a partida no carro mais uma vez e Emily se remexe desconfortável no banco do carona, pensando em uma maneira de abordar aquele assunto que vinha ensaiando o dia todo. Era Vanessa que sempre arrumava essas coisas para ela, que sempre intermediava as coisas entre Emi e Matty. Mas agora ela deixara a pobre garota sozinha com a difícil tarefa de pedir (mais) aquele favor ao garoto.
A morena sabia que ele iria prestativamente concordar em acompanhá-la, ele sempre fazia o que ela pedia; o que deixava Emi ainda mais desconfortável em fazer aquele tipo de coisa.
Ela tentava não demonstrar, mas sabia que o que Matty estava fazendo por ela não era só pela amizade dos dois. Sabia que tinha algo a mais e ela simplesmente não conseguia entender como, depois de tudo o que ela fez, ele ainda podia sentir algo por ela. Emily não se sentia merecedora de todo o seu esforço. Por Deus, ela estava grávida de outro cara!
Ela não podia pedir para que ele a acompanhasse até a clínica para fazer aquele ultrassom, não podia!
Mas teria.
Vanessa não poderia ir com ela e Emi não queria que seus pais participassem de nada relacionado àquele bebe. Eles poderiam se apegar à criança e, como Emily estava disposta a dá-lo para a adoção assim que ele nascesse, era melhor nem arriscar com aquilo. Logo, só lhe restava Matthew.
- Hm, Matty? - estava com os olhos fixos na estrada a sua frente, tentando parecer o mais relaxada e casual possível.
- Sim? - ele não a olha, atento a direção, ao que ela agradece. Assim seria mais fácil para ela deixar as palavras saírem.
- Segunda-feira eu tenho uma consulta com a Dra. Tyler. Vanessa não vai poder ir, será que você poderia me acompanhar?
Matthew desvia sua atenção da estrada por um instante, para olhar a menina ao seu lado no carro. Dra. Tyler era a obstetra de Emily e aquilo o pegou de surpresa. Apesar de fazer várias coisas por ela e estar presente em todos os momentos nesses cinco meses, ele nunca a acompanhou em alguma consulta, achava que era algo íntimo, pessoal demais e Vanessa ocupava bem o papel. Mas ele tinha aquele pequeno defeito de não conseguir negar algo à Emily.
- Claro, Em. Eu vou com você.

~”~

Vanessa estava acostumada a dar banho em pessoas debilitadas em seu trabalho voluntário no hospital, mas visto que essas pessoas que ela ajudava eram crianças e em sua maioria bem magrinhas em razão da doença, suas habilidades não eram exatamente suficientes para ajudar uma garota de 18 anos bêbada em seu banheiro. Achou que poderia ficar feliz por ter sua irma como assistente, mas Ashley estava sendo de tanta ajuda quanto a sua pasta de dente em cima da pia.
Pelo menos Cassandra não estava mais vomitando, na verdade ela avia apagado na metade do caminho pra casa das gêmeas. Mas por via das dúvidas, era melhor providenciar um balde para deixar ao lado da cama de Ashley, porque vai que a menina começa a andar bêbada, ou sonambula, pela casa e acorda os seus pais, ou pior: e se ela estiver chapada também? Vanessa não era obrigada a lidar com a larica de ninguém, Ashley que era sua amiga que fizesse isso.
Infelizmente Ashley não tinha como refutar o argumento sem entrar em detalhes desnecessários, então teve que aceitar a situação levemente embaraçosa em que aquela decisão a colocaria. Dormir na mesma cama que Cassandra. Céus, isso ia ser estranho. Só o que podia fazer agora era torcer para que a loira não acordasse e então Ash podia acordar na manha seguinte e fingir que isso nunca aconteceu.
Mas é claro que não seria assim tão fácil. Ela já estava convencida de que alguém lá em cima não gostava dela, mas agora estava começando a pensar que essa pessoa realmente a odiava. Porque é claro que assim que Vanessa as deixasse sozinhas no quarto de Ash, Cassandra começaria a recobrar a consciência, ou quase, visto que ela ainda parecia meio bêbada.
- O que aconteceu?
Ashley já estava ficando cansada e com sono, por esse motivo, quando terminou de explicar para Cassie onde ela estava, se viu deitando ao lado da loira em sua cama.
- Você poderia fechar a janela?
- Já tá fechada.
- Tá frio. - a loira se move mais para o meio da cama e, visto que elas estavam viradas uma de frente pra outra, isso as deixou estupidamente perto.
- Foi o banho, daqui a pouco esquenta.
E então as duas ficaram ali, se olhando em silencio. Até que aconteceu. Ashley não saberia dizer ao certo como, mas quando percebeu, suas bocas já estavam grudadas, mãos pra todo lado e a morena estava certa, estava mesmo esquentando. Porém Ashley nem teve tempo de se preocupar com o seu ato falho, pois assim que elas se acalmaram, Cassie pegou no sono direto, mas não sem antes aninhar-se ao lado de Ash e escorregar a sua mão na dela, apertando-a firme.
E Ashley odiou o quanto aquilo lhe pareceu certo.

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De volta ao E-Zine, Harry preparava-se para a sua corrida. Ele não podia acreditar que chegara até ali sem ouvir uma notícia sequer de G. Ele achou sinceramente que seria pego em sua tentativa idiota de ser o herói da noite, que G lhe faria alguma coisa por ele ter mandado aquela mensagem para Alison e Jessica. Mas ali estava ele, a quase uma da manhã e completamente inteiro.
Era mesmo uma pena ele ter de descobrir do jeito mais fatal que ninguém era capaz de enganar G.

If I show you than I know you won't tell what I said
'Cos two can keep a secret if when of them is dead
'Cos two can keep a secret if when of us is dead”

--x--

Hey! Wasup people! Olha só quem está de volta! Cara, como faz tempo...
Não vou pedir desculpas pela demora porque nem foi exatamente culpa minha, a vida tá louca mesmo e é isso aí, temos que lidar... Só sei que estava muito, MUITO, frustrada por não conseguir atualizar esse capítulo, mas agora que o fiz, estou mais feliz que pinto no lixo!

(nunca entendi essa expressão, tipo: pinto gosta de lixo? Enfim...)

Esse capítulo é um dos meus xodós, e eu espero sinceramente que gostem e que ele tenha compensado toda essa demora.
Cliquem aqui para as respostas dos comentários no capitulo anterior.
Como sei que não vou aparecer por aqui de novo esse ano: feliz natal e um próspero ano novo pra vocês! Que 2016 seja 10 mil vezes melhor que 2015 (porque eu não sei vocês, mas pra mim esse ano foi uma merda. Foi tanta treta que olha...)
Beijos de luz e que a força esteja com vocês!

(ou, para aqueles que gostam de Física: que a massa vezes a aceleração esteja com vocês)

domingo, 16 de agosto de 2015

E o bom filho à casa retorna...

Não, eu não morri, não fui abduzida por alienígenas ou me mudei para um lugar sem internet.
Eu só estou muito atarefada com faculdade, iniciação científica, vida, outros projetos etc. Para vocês entenderem a gravidade da situação, eu estou tentando terminar um simples livro há mais de quatro (QUATRO!) meses.
Pra piorar, tem teclas do meu computador que não estão funcionando e isso é um turn off pra escrever...
Mas o capítulo ta inteiro na minha cabeça e metade escrito já faz certo tempo. Quando eu tenho tempo pra dar uma respirada, eu tento escrever alguma coisa. Nem sempre sai, mas eu tento :)
Fingers crossed para que o capítulo esteja aqui antes do bebe Judd (hehe) (piadinha infame porque o capítulo está sendo uma gestação e, consequentemente, um parto pra mim... é, realmente a piada fica pior quando se explica...)
Bem, era isso.
Namastê!

domingo, 19 de abril de 2015

Doce Sacrifício - Capítulo 33 [Wonderwall]

Musica tema: Wonderwall [Oasis]

Today is gonna be the day That they're gonna throw it back to you By now you should've somehow Realized what you gotta do don't believe that anybody Feels the way I do about you now 

– Um ano atrás – 

Raphael se sentia assombrado. Assombrado por aquelas imagens que se repetiam em sua cabeça todas as vezes que ele fechava os olhos. 
Ele não conhecia Thea Blackwell, mas isso não fazia a culpa diminuir. Muito pelo contrário, ela estava sempre lá, como uma sombra constante às suas costas. Mas é claro que nada disso se comparava com a possibilidade de ir parar em alguma casa para adolescentes delinquentes. Essa não era uma opção, por isso Jensen Duncan usou de toda a sua influência e poder para conseguir no máximo alguns meses de serviço comunitário para o filho. E como esperado, logo veio a sentença do juiz: Raphael Duncan trabalharia como voluntário na ala infantil de um hospital especializado em câncer de Los Angeles como pena por ter apostado corrida ilegal nas ruas e por ter matado Thea Blackwell. 
Quando chegou ao hospital (mais de vinte minutos depois do horário), deu de cara com Vanessa Stonem o esperando com um jaleco branco na mão e uma cara nada amigável. 
- Vanessa? – ele estava um pouco surpreso. O que a garota estava fazendo ali? Ela sabia sobre ele? 
- Está atrasado. – ela joga o jaleco para o garoto, que ao pegá-lo nas mãos, descobre que havia alguns desenhos de animaizinhos nele. 
Era só o que lhe faltava. 

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Back beat, the word is on the street That the fire in your heart is out I'm sure you've heard it all before But you never really had a doubt I don't believe that anybody feels The way I do about you now 

Duas semanas depois, Raphael já estava se apegando àquelas crianças o suficiente para começar a sentir a tensão que era lidar com pessoas tão jovens com câncer. Dois dias atrás, uma delas não conseguiu e foi levada pela doença. E ele se pegou fumando no estacionamento, uma lágrima solitárias escorrendo pela bochecha e sua armadura de indiferença danificada. 
Seu trabalho ali se resumia em contar histórias, tocar música e apresentar teatrinhos para as crianças. Ele realmente odiou a ideia no início, mas agora ele até que estava contente por ajudar aquelas crianças a terem momentos alegres para distrai-las do sofrimento e tédio que era ficar em um hospital. 
Descobrira em seu primeiro dia ali que Vanessa era uma voluntária também e a encarregada de supervisiona-lo. Graças à Deus ela não sabia o porquê de ele estar ali, sabia que foi por ordem de um juiz, mas como era informação sigilosa e Raphael não falaria disso nem sob tortura, a garota estava totalmente no escuro sobre o assunto. 
Raphael se sentia no escuro em relação a ela também. Ele tinha a estranha sensação de que havia algo de errado com Vanessa, e não saber exatamente o que era estava deixando-o nervoso, apreensivo. Esse sentimento durou por duas semanas, até ele se dar conta do que estava acontecendo. Ainda era só uma suspeita, mas ele tinha quase certeza de que era isso. Ele só não sabia como abordar o assunto. 
Por isso passou mais alguns dias só observando Vanessa quase desmaiar de fome, fingindo-se ocupada demais para fazer uma pausa e ir comer alguma coisa na lanchonete do hospital com ele. Além de suas pontuais idas ao banheiro após almoçar (uma quantidade mínima) no colégio. Estava praticamente escrito na cara dela o que ela fazia, mas Raphael parecia o único ali a ter percebido. 
Como não sabia o que fazer com a informação, decidiu pela saída mais fácil: contar para a irmã-gêmea da garota, Ashley. Não achava que ela fosse fazer algo, já que estava ocupada demais fazendo compras com Cassandra, Michelle e Nicole, mas decidiu tentar. O que ele não sabia, no entanto, era o quanto Ashley se importava com a irmã. 

~"~
And all the roads we have to walk are winding And all the lights that lead us there are blinding There are many things that I would Like to say to you But I don't know how Because maybe You're gonna be the one that saves me And after all You're my wonderwall 

Um mês após começar o serviço comunitário, Raphael finalmente conseguiu chegar antes do horário e estava fumando em frente ao hospital, perto da entrada da ala de câncer (que ironia) quando Vanessa chegou como um furacão até ele, empurrando-o para trás pelo peito. 
- Qual é a tua? - outro empurrão. - Você não tem direito algum de se meter na minha vida desse jeito! 
Nessa altura do campeonato, ela já o tinha feito derrubar a bituca de cigarro no chão, deixando suas mãos livres para segurar as da garota, que começara a estapeá-lo. 
- Ashley falou com você então. 
- Por que fez isso? Por que contou pra ela? Mas que merda, Duncan! 
- Eu só estava tentando te ajudar. 
- Me ajudar? - Vanessa percebe que estava se sobressaltando e então se concentra em sua respiração, tentando se acalmar. - Eu não preciso de ajuda. Não tem nada de errado comigo. 
O garoto segura as mãos dela nas suas, fazendo um carinho involuntário nelas com os seus dedos. 
- Vanessa... 
- Não, Raphael! - ela se solta, afastando-se dele. - Eu  falando sério, não se meta! 
Vanessa então lhe dá as costas e entra no hospital. Mas se a garota achava que Raphael ia deixar isso terminar assim, ela estava muito enganada. 

~”~  
Today was gonna be the day But they'll never throw it back to you By now you should've somehow Realized what you're not to do don't believe that anybody Feels the way I do About you now 

Vanessa seca discretamente uma lágrima solitária que escorreu de seu olho, após sair do quarto que Kate, uma garotinha de doze anos, chamava de seu desde os oito. Era a primeira vez que a menina ficava num estado consideravelmente ruim desde que Vanessa começara a trabalhar ali e isso estava acabando com ela. 
Raphael aparece na sua frente, estendendo-lhe uma barrinha de cereal, e estampando uma expressão séria no rosto. 
- O que é isso? 
- Seu lanche. Eu sei que você não está acostumada a comer muito, então essa barrinha vai me contentar por enquanto. 
- Desculpe, posso saber por que você está falando como se eu fosse aceitar isso aí? 
- Porque você vai. 
- Ou...? 
- Ou eu entro nesse quarto e conto uma história sobre certo acampamento de quatro anos atrás que eu tenho certeza que Kate vai adorar. 
- Você que não se atreva! 
- Quero ver qual é a criança que vai te respeitar depois dessa. 
O sorrisinho de vitória no rosto de Raphael estava irritando Vanessa e ela não queria perder aquela “discussão”, mas ela não podia permitir que Raphael saísse espalhando suas histórias vergonhosas por aí. Então, num jeito meio raivoso e mal-educado, ela pega a barra de cereais da mão dele e a abre, dando uma mordida diminuta e demorando meio século para mastigar e engolir. 
Raphael, percebendo a enrolação da garota, revira os olhos e cruza os braços, voltando com sua expressão de sargento. 
- Come isso feito gente, Vanessa! 
A garota lhe dá língua, mas morde decentemente o alimento dessa vez. Estava mentindo para si mesma que não estava com fome durante a tarde toda, então quando percebeu, a barra já tinha virado história. 
- E nem pense em ir ao banheiro nas próximas duas horas. Eu estou de olho. 
~”~ 

And all the roads that lead you there were winding And all the lights that light the way are blinding There are many things that I would like to say to you But I don't know how said maybe You're gonna be the one that saves me And after all You're my wonderwall 
“Sinto muito. 

Infelizmente isso é tudo o que eu posso oferecer. Mas você também foi a culpada! Desde quando você tem esse instinto suicida? Tinha o suficiente para dias naquela caixa e você consegue acabar com tudo em uma hora? O que Cody andou lhe ensinando? 
Certo, me desculpe. Eu só me sinto um pouco culpada por ter te colocado nessa situação. Queria que ela se sentisse culpada também, mas nós sabemos que isso não vai acontecer. E espero que saiba que o que vai acontecer a partir de agora, é responsabilidade tua. Afinal, lhe demos a caixa, mas ninguém te obrigou a tomar. 
Aprenda a se controlar Rachel Martin! 

Com amor, 
Não G.” 

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said maybe You're gonna be the one that saves me And after all You're my wonderwall 
No dia seguinte, Rachel tem alta do hospital, mas descobre que estava suspensa do colégio por duas semanas. A Diretora queria expulsá-la, mas seus pais conseguiram convencê-la a deixar Rachel no colégio (nada que uma doação bem generosa não resolva). Rach não tinha mostrado a carta para ninguém e nem pretendia fazê-lo. Se ao menos tivesse uma pista de quem a escreveu, poderia usar como prova, mas na real situação, isso não a ajudava em nada. Ao menos agora sabia que G não estava sozinha. O que era ainda mais sinistro, pois podia ser qualquer um em qualquer lugar, um grupo de amigos ou pessoas aleatórias por aí. Era quase impossível descobrir a verdade. 
Então a morena deixou isso de lado e preferiu focar no fato de que aquela tragédia toda (e o castigo “pra vida toda” que seus pais lhe colocaram) serviu para alguma coisa: agora Lexie estava mais calma (e um tanto frágil pelo ocorrido) e aceitou conversar com a amiga. No final elas se acertarem e até Nick conseguiu sua segunda chance com Lexie. 
Um final tranquilo e feliz para aquele drama todo. Era uma pena que essa foi apenas uma das milhares de voltas na montanha-russa de suas vidas no High School. 

said maybe You're gonna be the one that saves me You're gonna be the one that saves me You're gonna be the one that saves me” 


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Obs.: a formatação do quote (a música) está louca, sorry :/

Hey guys! Consegui postar conforme o meu cronograma! Mais feliz que pinto no lixo aqui haha '
Esse capítulo ficou curtinho, mas é que não tinha muito o que dizer sobre ele, era só uma conclusão para o flashback anterior. E pra quem gostou desse "remember", tem mais dois flashbacks a caminho, então aguardem :)
O próximo pode demorar um pouco mais por motivos de a) meu tempo está extremamente corrido e apertado e b) esse capítulo tem umas tretas meio complicadas, tenho que pensar bem em como elas vão acontecer.
No mais, espero que gostem desse capítulo e aqui estão as respostas do anterior.
~Chu.