domingo, 15 de junho de 2014

Doce Sacrifício - Capítulo 30 [Canals]

Música: Canals [All Time Low]

Era como se uma bigorna tivesse caído e esmagado a cabeça de Alison.
Em compensação, seu corpo estava bem acomodado numa superfície fofa e quentinha. Aquilo era uma cama? O que ela estava fazendo numa cama?
Alison toma coragem e abre os olhos, somente para encarar o teto branco. Ao seu lado, Jessica segurava um pedaço de algodão, que exalava perfume masculino, perto de seu rosto. Aquela possivelmente fora a solução que a amiga encontrou para acordá-la.
Jessica solta um suspiro de alívio. Finalmente Alison acordou. Ela já estava partindo para a tática do copo com água gelada na cara.
- O que aconteceu? – a loira exterioriza a pergunta que sua mente era incapaz de responder.
- Olhe em volta.
Devagar, Ali se senta na cama e passa os olhos pelo cômodo, percebendo que aquelas paredes e objetos eram muito familiares.
- Por que estamos no quarto do Miller?
- Resumo rápido: eu te encontrei dançando em cima do balcão e pedi ajuda pra te tirarem de lá antes que você fizesse alguma besteira. Logan quem bancou o herói da história, você apagou e ele te trouxe pra cá. E me deixou como sua babá caso algo acontecesse. Então nem pense em vomitar aqui, eu não vou limpar a tua sujeira.
- Há-há. Engraçadinha.
Jessica joga o algodão no lixeiro do banheiro de Miller e pergunta a Alison enquanto guardava dois livros de volta a estante:
- Como se sente?
- Cozida.
- Veja pelo lado positivo: pelo menos você não teve uma bad trip.
- Eu acordei na cama do Miller. Isso é bem pior que uma bad trip. – a loira termina de calçar suas botas e fica de pé, sentindo-se menos tonta do que achou que ficaria. – Você pode dirigir? – mas ainda assim não ia arriscar.
- Posso.
As duas deixam o quarto sem mais delongas. Jessica volta a trancar a porta e guarda a chave no bolso de seu casaco por cima do vestido.
Elas fazem seu caminho até o térreo ignorando os três casais que se pegavam no corredor e os dois caras caídos na escada. O resto da casa parecia sufocadamente cheia, mas do lado de fora não parecia ter mais ninguém.
Alison revira os olhos para Alexandra e Nicholas fundindo seus corpos no sofá. Lexie estava no colo do garoto, de costas para a loira. Por isso ela não viu quando seu namorado notou Alison ali e lhe piscou um olho, com um sorriso sacana moldado no rosto. Alison revira os olhos mais uma vez. Depois ele reclamava quando a namorada brigava com ele por causa daquela amizade intima demais dos dois. Mas quase fraternal, claro.
Do outro lado da sala, Madison sente o já conhecido bolo no estômago e leva a mão a boca, saindo apresada até o banheiro do térreo. No caminho, ela esbarra em Jessica, fazendo esta prestar atenção na morena. Ela percebe suas intenções e sai correndo atrás de Madi até o final do corredor.
- Ah, qual é! Jessica! – Alison chama a amiga, em vão. Tudo o que ela queria era sair dali o mais rápido possível, antes que encontrasse com Logan por aí. A loira estava a ponto de seguir as outras duas quando uma ideia lhe veio à cabeça.

~”~
Madison chega até o banheiro e vai direto pro sanitário. Seu corpo estava se acostumando a voltar tudo o que ela ingeria, mesmo ela não querendo. E beber de estômago vazio não podia ter um resultado muito promissor.
E o pior é que ela não estava emagrecendo. Muito pelo contrário: todas as vezes que ela se olhava no espelho, ela parecia ainda mais gorda.
Com toda a sua presa, ela nem pôde trancar a porta, facilitando assim para Jessica, que entra no banheiro logo em seguida. E como o estrago já estava feito mesmo, ela não tinha muito o que fazer a não ser segurar o cabelo de Madison para que a garota não vomitasse nele.
Jessica espera ela terminar, ir até a pia, lavar o rosto e colocar uma pastilha na boca, tudo no mais sagrado silêncio. Jess pensava em algo para falar, mas a porta é novamente aberta, tomando a atenção das duas.
- Madison... – Alexandra entra no pequeno cômodo e atrás dela, Jessica nota Alison chamando-a para fora com um gesto de cabeça. Era melhor dar privacidade para as amigas, então ela sai do banheiro, fechando a porta atrás de si, a qual Lexie trata de trancar, antes que Madison resolvesse sair dali.
- Você sabe que não pode salvar o mundo, não sabe? – a loira pergunta assim que voltam para a aglomeração de pessoas e Jessica não consegue dizer se seu tom era de sarcasmo ou irritação.
- Mas uma pessoa pelo menos eu posso ajudar.
- Sim: eu! – era irritação mesmo. – Que preciso desesperadamente e um bom banho quente, cafeína e uma cama confortável. A minha, de preferência!
- Deixe de ser egoísta, Alison!
- Nem vem! Eu chamei a Alexandra, não chamei?
- Você e Alexandra juntas sem brigarem. Está aí uma coisa que eu nunca pensei que iria presenciar.
- As pessoas precisam crescer uma hora, não é? – Jessica olha para a loira, não acreditando que ela realmente tinha dito isso. – Eu sei: no meu estado isso é uma puta de uma contradição.
Alison já estava indo até a porta de entrada, mas Jessica a puxa de volta, explicando que precisava encontrar Logan para devolver sua chave. A loira tenta argumentar que a esperaria no carro, só que a amiga não a deixa ir, já que ela tinha que agradecê-lo pelo o que ele fez.
- Hei, a Bela Adormecida acordou. – elas o encontraram na entrada de uma das salas, conversando com Joshua. Jessica lhe devolve a chave, agradece e diz que já estavam de saída. – Mas já vão?
- Sim. – Jessica cutuca Alison discretamente, avisando-a que aquela era a sua deixa.
A vontade de Alison era de jogá-la na piscina e deixa-la lá até que a amiga congelasse.
- Eu acho que te devo um obrigado, então... – Ali hesita, sua voz saindo bem baixinha. Céus, aquilo era humilhante. – Obrigada.
- Que isso. Quando precisar de um lugar confortável para passar a noite é só chamar. – Logan pisca um olho pra ela do jeito mais descarado que conseguia, seu sorriso deixando claro que havia mais naquela oferta do que somente cordialidade.
- Retiro meu agradecimento. Passar bem. – a loira arrasta Jessica para fora daquela casa, ignorando uma parte bem pequena dela – mas muito irritante – que queria guardar aquela oportunidade para um próximo momento.
- Dude, você podia ser mais discreto. – Josh aconselha o amigo, que observava as garotas se distanciarem.
- O quê?
- Você ‘tá de quatro pela garota. Limpa a baba, Miller! – o garoto não aguenta e começa a rir, logo recebendo um tapa na testa dado por um Logan nada feliz.
- Ficou louco? Logan não baba. Muito menos fica de quatro por uma garota. Logan pega geral, é isso o que ele faz.
- Eu odeio quando você começa a falar na terceira pessoa.

~”~

- Eu não sei do que você está falando. Eu estou completamente bem.
- Pare de mentir pra mim! – Alexandra já estava ficando cansada daquilo. Há quanto tempo elas estavam naquele banheiro? Lexie só queria que a amiga confessasse de uma vez. – Me diz o que está acontecendo, eu só quero te ajudar!
- Eu não preciso da sua ajuda. Me deixe ir. – Madison tenta passar pela loira e abrir a porta, porém Lexie fica na sua frente, impedindo-a.
- Madi, por favor. Você sabe que isso é errado. – a voz de Alexandra estava bem mais baixa agora, transmitindo junto aos seus olhos marejados uma súplica quase desesperada. – Só pare, por favor.
- É mais fácil falar do que fazer. – Madison não estava muito diferente. Ambas estavam meio bêbadas e aquela conversa estava deixando-as um pouco emotivas demais.
- Admitir o problema é o primeiro passo para a reparação¹.

[Dois dias depois]

Alison estava na sacada do apartamento de sua mãe, de onde tinha uma bela visão do Central Park, com suas árvores secas e o branco cobrindo toda a sua extensão. New York City era realmente muito linda no inverno, com toda aquela neve e as luzes de natal.
A porta de vidro da varanda é abeta e Alison nem precisa olhar para saber que era seu pai ali. O cheiro do chocolate-quente o entregou.
Michael se senta ao lado da filha no pequeno sofá, logo tendo as pernas cobertas pela manta que Alison usava para se esquentar. Ele passa uma das canecas para a loira, que bebe o conteúdo sem assoprar, queimando a língua. Como sempre. Mas a culpa não era dela, ninguém mandou seu pai fazer o melhor chocolate-quente do mundo!
- O que você está fazendo aqui sozinha nesse frio?
- Nada demais. A Slo já dormiu?
- Já sim. Como ela vai ficar acordada amanhã, ela decidiu dormir tudo o que tinha para dormir hoje.
Alison sorri. Devia ser muito bom ser uma garotinha de oito anos sem preocupações maiores do que não perder a hora do desenho preferido.
Sloane tinha sorte. Por ser tão pequena e ainda não entender esse mundo complicado dos adultos (se bem que Alison não entendia também), ela ganhava algumas regalias para distraí-la do fato que seus pais estavam separados, um em canta canto do país.
E é aí que entra a confusão que os adultos insistem em fazer com suas vidas, porque os seus pais não estavam separados de verdade, como eles queriam demonstrar.
Depois que Collette e Sloane se mudaram para NYC e Michael e Alison ficaram em LA, tudo contribuía para que o casal começasse uma nova vida com novas pessoas, mas o que eles faziam? Agiam como se ainda fossem comprometidos e sempre que tinham a oportunidade eles reuniam a família para que os dois pudessem ficarem juntos. Agora, por exemplo, eles estavam dormindo no mesmo quarto e a loira sabia que enquanto ela e sua irmãzinha dormiam, os dois aproveitavam muito bem a noite. E pensar nisso era muito nojento...
Mas a questão é que seus pais deveriam resolver de vez o real status daquele relacionamento. Porque se eles ficavam todas as vezes que se encontravam e se ainda gostavam um do outro (o que era óbvio só de olhar para eles), então por que é que eles haviam se divorciado? Se existia namoro a distância, então podia ter casamento a distância também! Já que infelizmente Collette teria que ficar em New York por causa de seu trabalho.
- Você está fazendo isso de novo. – Michael termina seu chocolate-quente e coloca a caneca sobre a mesinha a sua frente.
Alison imita o gesto do pai antes de perguntar:
- Fazendo o quê?
- Calada, olhando pro nada, como se estivesse pensando em um jeito de implantar a paz mundial.
- Nem se eu passasse a minha vida inteira pensando isso iria acontecer, pai!
- Então sobre o que era? Se eu puder saber, é claro.
- Não pode não. – ela responde com um sorriso travesso estampado no rosto.
- Ora, claro que posso! Sou seu pai, tenho esse direito! A não ser que seja sobre um garoto, daí eu não quero saber...
Alison solta uma pequena risada pelo comentário do pai.
- Não é sobre um garoto.
- Garota? – agora Alison já estava gargalhando.
- Não. Eu gosto de homens, não se preocupe. – a garota para rir, voltando a limitar-se no sorriso sapeca ao ver a cara de desapontamento de seu pai.
- O único homem da sua vida é o seu velho aqui. Pensei que já tínhamos conversado sobre isso. – ele parecia tão desalentado que Alison teve que abraça-lo para reconforta-lo de alguma forma.
- Falamos sim. Mas o senhor sabe que uma hora eu vou encontrar alguém e...
- Sim, filha: depois dos trinta, como havíamos combinado. E não me chame de senhor.
- Mas isso mostra que eu o respeito.
- Não. Isso me faz parecer mais velho do que eu já sou.
- O senhor, digo, você – ela corrige-se rapidamente ao notar o olhar de repreensão do Sr. Fitzgerald sobre ela. – não está velho. Muito pelo contrário, está bem em forma. Sinceramente eu não sei como ainda está solteiro.
- Quem disse que eu estou solteiro? – ele soltou essa só de brincadeira, porém o rumo daquela conversa iria deixa-lo numa encruzilhada que ele não havia previsto.
- Certo. Qual foi a última vez que o senhor saiu com uma mulher que não fosse a mamãe? E eu não estou falando de dois anos atrás. – o comentário de sua filha o deixou tão embasbacado que ele até deixou escapar o senhor que ela usou na pergunta. – Eu percebi o que está acontecendo entre vocês, eu não sou cega.
- Bem. – Michael limpa a garganta antes de continuar, agora seguindo o tom mais sério que a conversa tomara. – Sendo assim, eu preferiria que você ignorasse isso.
- E eu preferiria que vocês se decidissem de uma vez. Ou vocês estão juntos ou não estão. É simples! Vocês não são mais adolescentes, eu sou! E vocês estão me dando um péssimo exemplo.
- Você preferiria que estivéssemos separados, sem falar um com o outro e fazendo você e sua irmã terem de escolher com qual dos pais querem passar os feriados?
- Não. Eu preferiria que a merda desse divórcio nunca tivesse nem sido mencionado. É isso o que eu preferiria.
- As coisas não são assim tão fáceis, Ali.
- Se a vida adulta é tão complicada assim, acho que prefiro passar o resto dos meus dias na Terra do Nunca.
- O quê? E fazer como aquele covarde do Peter Pan?
- Covarde?
- Claro! Na primeira dificuldade que encontrou ele voltou correndo pra Terra do Nunca e deixou a pobre Wendy para envelhecer sozinha. E é exatamente o contrário disso que sua mãe e eu queremos. Então estamos tentando achar um meio termo entre a Terra do Nunca e a vida real.
- E está dando certo? – seu pai lhe sorri, de uma forma um pouco cansada, com umas ruguinhas aparecendo em seus olhos. É, ele estava ficando velho. Mas um velho muito charmoso.
- Está é na hora de entrar ou vamos congelar aqui. – Michael se levanta e pega as duas canecas de cima da mesa. – Vamos? – ele não espera a resposta da filha para voltar ao aconchego do aquecedor do apartamento e Alison o segue, vencida, sem a resposta que tanto queria. Mas ela não desistiria assim tão fácil daquele assunto.

~”~

- Não vai mais me ajudar, então?
- Não posso. É perigoso demais. Com Vanessa e Matthew na minha cola, eles podem acabar descobrindo.
O garoto observa em silêncio a morena sentada na cama a sua frente, mais especificamente a região da barriga desta.
- Ela não achou que você o teria.
- Eu pensei nisso. Mas então lembrei que Ashley já abortou um bebê – do Matthew! Quão estranho era isso? – E arranjou complicações que eu não quero para mim. – o garoto próximo a janela assente com um leve movimento de cabeça. – Por acaso Taylor falou alguma coisa sobre?
- Não. É o mesmo discurso de sempre: ele só vai fazer alguma coisa quando você provar com um exame de DNA que o filho é mesmo dele. – a garota deita de costas na cama, com um gato laranja de pelúcia no colo. – Sabe, você não precisa esperar até o bebê nascer, tem como fazer o exame antes. É mais caro, mas pelo menos você resolve essa situação mais rápido.
- Eu nem sei mais se quero que ele assuma. Tem um casal em Encino² que quer adotar uma criança. A mulher não pode ter filhos e eles queriam um bebê novinho, pra ter a “experiência completa”. – dois loucos, só pode! – Talvez eu dê a criança para eles.
- Tem certeza? Muitas fazem isso e se arrependem depois.
- Não eu. Taylor e eu não estamos prontos para sermos pais e aquele casal tem condições de criar o bebê muito bem. – além de poder amá-lo mais também.
- Se você diz... – o garoto dá de ombros, arrumando as almofadas ao seu redor para poder esticar as pernas sobre o estofado rosa e laranja.
A morena volta a se sentar na cama, fitando o garoto, ainda com a pelúcia no colo.
- Mas voltando ao assunto principal: como estão as coisas com ela?
- Complicadas. Mas pelo menos ninguém desconfia. Vocês já conversaram sobre a sua desistência?
- Sim. Contei sobre Vanny e Matthew não me deixarem em paz, o que faz o trabalho ficar um pouco mais difícil.
- E ela te deixou ir fácil assim?
- Claro que não. Ela pode ter me dado um tempo, mas com certeza vai me querer de volta em algum momento. E se ela cair, você sabe, ela nos derruba junto, pra amortecermos a queda dela.
- Boa sorte pra gente então. – um som abafado invade o cômodo e o garoto leva a mão ao bolso da jaqueta preta, tirando seu celular dali. – E por falar no diabo...
- Acho melhor você ir então.
- Sim. – ele se levanta do acento em frente à janela, andando até a porta branca que se encontrava aberta o suficiente para que eles pudessem ver se alguém passasse por ali. – Ah, Emily? – ela vira o pescoço em sua direção, esperando ele continuar. – Feliz Natal.
Os dois trocam um sorriso amigável, o que a garota nunca achou que aconteceria, mas ter relações com –G mudavam as pessoas, aparentemente.
- Feliz Natal.

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¹Admitir o problema é o primeiro passo para a reparação (admitting the problem is the first step towards repair): Trecho da música Canals do All Time Low.
²Encino: Distrito da cidade de Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos. É onde está localizada a mansão de Ronnie James Dio (avaliada em U$3.333.000,00 – uma pechincha).

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Heey cambada! Jessie is back, did you miss me?
Hoje é 15/06/14, sabem o que isso significa? UM ANO DE DOCE SACRIFÍCIO! Sim, uma ideia que era para ser uma coisa rápida, de poucos meses, já me tomou um ano inteiro!
Mas ninguém aqui está reclamando, certo? Certo.
Vamos falar desse capítulo: Lexie finalmente confrontou Madi, e agora? Será que ela vai confessar e aceitar ajuda? É esperar pra ver. O que acharam da história dos pais da Alison? Complicados eles? Imagina. E quem vocês acham que estava falando com Emily? Façam suas apostas.
Agora DS vai entrar em clima de natal e eu estou esperando os presentes (natal + aniversário) para as personagens (e pra mim!), beleza? Haha '
~Chu.